“Tropa de Elite”no Cabeça de Nego – Final

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Após coletar infos avulsas com Seu Nelson, Dom e Nando acertaram seus gps´s, e buscamos entrar num acordo de qual seria a melhor estratégia (rota) pra alcançar o morro. Chegamos num consenso de q isso só seria possível pela esquerda, avaliando as infos e pelas curvas de nível mostradas pela carta topográfica. Pronto, era chegada a hora, e assim deixamos a casa pela esquerda, a quase exatas 8hrs e 20m de altitude, passando por um bando de “saíras“ – pequenos e belos passarinhos de cor verde – beliscando carambolas deixadas por Seu Nelson. Entramos num caminho em meio a um bananal q foi sumindo aos poucos. Antes, porem já estudávamos alguma entrada na mata à direita, já pra ir na direção do sopé do morro. Deixamos assim a trilha mergulhando de vez na mata onde o caminhar era tranqüilo e sem maiores obstáculos. Após cruzar um desbarrancado e bordejar um riachinho pela esquerda, caímos num pequeno descampado pra nos enfiar novamente na mata fechada, passar por mais bananeiras e ter de desviar de um espesso e enorme bambuzal pela direita, onde finalmente tivemos q cruzar o corregozinho q acompanhávamos.


A partir daqui é q a declividade aumenta um pouco, mas ainda assim nosso avanço é tranqüilo e desimpedido, mesmo sem trilha alguma. O trabalho de leitura do gps e navegação em conjunto do Nando e Dom foi exemplar, pois um complementava os dados do outro. Por sua vez, Ronaldo e Thunder iam na dianteira abrindo a trilha pro resto, sendo q o primeiro assumiu por livre e espontânea vontade a responsa de faconar os trechos mais medonhos de mata. Eu e o Fernando dávamos palpites de direção menos desgastante, conforme o q o aparelho indicasse. E o resto ia na rabeira dos demais, em fila índia buscando não se distanciar, claro!

Na seqüência, tomamos um caminho de rio onde o andar era facilitado pela ausência de mato, sempre subindo suavemente, mas logo tivemos q deixá-lo pra ganhar encostas mais íngremes à direita, já na cota dos 60m de altitude. A partir daqui a coisa engrossa e a pernada fica mais árdua, pois a medida q subimos a terra parece se esfarelar aos nossos pés, demandando duplo esforço assim como o uso das mãos, q buscam apoio na vegetação ao redor! Parar não é recomendável em função dos pernilongos, q estão impossíveis e ávidos por sangue fresco e fácil. Por sorte logo acima o terreno aparenta ser mais firme, ao mesmo tempo em q passamos por alguns enormes blocos desmoronados de pedras, q basta contornar evitando os abismos da direita. Era visível q bordejávamos um vale e logo a pernada arrefece ao ganhar uma crista ascendente.

Apesar de estarmos na sombra, nosso suor escorre em bicas pelo rosto ate q começam a surgir frestas na vegetação, permitindo vislumbres do qto já ganhamos de altura. O gps assinala 210m, num piscar de olhos!!

Na cota dos 300m, as 9:50, caímos no primeiro cocoruto florestado q aparentava ser um selado. Mas daqui em diante a mata tornou-se mais agressiva, repleta de bambuzinhos e espinhos, q teimavam em nos furar mesmo com as facoadas do Ronaldo. No caminho, belos exemplares de pau-brasil e palmito Jussara. Deixamos a crista pra tomar à direita, descendo um pouco até dar noutro selado de conexão, as 10:20, onde nos presenteamos com um breve descanso à sombra do arvoredo ao redor,enqto os sons da mata de misturava aos de veículos da BR-98, perfeitamente audíveis dali.

Retomamos a pernada subindo novamente forte através da encosta de dar noutra crista. Aqui tomamos o rumo errado à direita, pra infelicidade do Ronaldo, Fabio e Thunder, q levaram varias picadas de marimbondo qdo o Dom esfarelou o tronco onde residiam, no caminho. Passado o susto, fomos pela esquerda, contornando fundos vales e já tendo contato visual com o pico, q agora já era visível pelas frestas na mata. Ao dar na cota dos 400m encontramos água, na forma de um fiapo de córrego despencando lajotas abaixo, q foi de vital importância. Alem de molhar nossa goela abasteceu os cantis menos favorecidos, pois o esforço da subida esvaziou rapidamente nossas provisões do precioso liquido.

Sempre contornando vales através de uma crista florestada, o sobe-e-desce continuo nos levou ao “selado oficial” ao sopé do morro avistado. A partir daqui era subida ate o final, e tome piramba hard! Felizmente os espinhos e plantas cortantes haviam sido deixadas pra trás. No entanto, os obstáculos aqui se traduziram na forte declividade, q demandou nossos dotes simiescos, e no surgimento logo adiante de voçorocas de finas taquarinhas, q teimavam em se agarrar em qq saliência da mochila, nos segurando. Agacha aqui e arrasta ali, caímos no rabicho de crista ascendente final do morro, do qual não saímos mais.

Mas não tardou tb pra subida ficar quase vertical, onde tivemos q ir bem devagar em meio a muito mato seco, bambuzinhos mil, nos firmando no q tivesse à mão, fossem pedras, tocos ou qq vegetação q nos desse mais segurança na ascensão. Detalhe, ambos lados eram pirambas e abismos quase verticais!! Em compensação, a mata ia baixando de altura permitindo belo vislumbre de td litoral, assim como da extensa faixa alva das praias de Bertioga encontrando um marzão azul, limitado apenas pelo horizonte!

Mas eis q as 13hrs caímos num bico rochoso, na cota dos 510m, q parece ser o topo do morro, finalmente! A maioria prefere ficar ali, estatelada descansando,saboreando a vitoria. Mas ai eu,Thunder,Fernando e Dom resolvemos explorar o extenso cume do Cabeça de Nego. Na verdade o cume não passa de uma estreita crista coberta de mato de difícil transito, como taquarinhas, bambus e enormes bromélias. Mesmo assim, fomos quase ate seu o outro extremo, apenas parando num trecho onde um enorme abismo rochoso vertical nos separava da continuidade da crista. Bem, não comemoramos o cume soltando rojões, tal qual o G.O.E fizera na ocasião, e sim nos regozijamos com o simples fato de estar ali e de ter alcançado o cume em menos tempo q eles, pelas infos dadas por Seu Nelson. Estávamos a exatos 560m de altitude após percorrer 9,5km, de acordo o gps do Dom.

Retornamos então satisfeitos, refazendo td caminho feito ate então porem de cuidado redobrado, enqto ouvíamos a algazarra de bugios nalgum lugar na mata. O pessoal já havia partido e nos aguardava no vale, lá embaixo, próximo da água. Bem, ao encontrá-los, quase 14hrs, ficamos divididos em se retornávamos pelo mesmo caminho ou se arriscávamos descer um rio qq ate o Seu Nelson. Pelo horário avançado, decidimos pela opção mais segura, ou seja, a primeira,claro! Ate pq na mata naquele horário já tava bem escuro. E lá fomos nos, descendo td aquilo novamente, eventualmente cortando caminho em meio aos vales de modo a interceptar a crista descendente principal.

Desescalaminhamos pedras num curso d´água, bordejamos encostas íngremes e descemos forte através da mata, principalmente qdo percebíamos estar parados sobre enormes formigueiros na hora q as bichinhas subiam na gente,q abundam por aqui!! No caminho, uma breve parada num córrego é necessária pra repor as energias e comer algo, assim como pro Dom e Thunder perceberem perdas materiais com a vegetação se apropriando pra si de um cantil cheio e um óculos de marca, respectivamente, durante a ágil descida no vara-mato.

Na seqüência continuamos pelo caminho de água pra desviar novamente em direção a mata fechada, agora por terreno menos íngreme, e foi justamente aqui q o Ronaldo fatiou seu dedo ao escorregar sobre o facão! Apesar do corte fundo, o cabra é macho e prosseguiu a pernada sem chororô algum, embora a mão dele lembrasse um chafariz espirrando sangue! Num piscar de olhos caímos no terreno plano, passamos um corregozinho e desembocamos num descampado, onde tomamos uma trilha q nos deixou na casa do Seu Nelson, as 17hrs!!

Àquela altura estávamos tds cansados e famintos, tanto q ainda fizemos uma hora ainda ali, comendo algo e preparando as coisas pra retornar. Eu estava bem sujo e não via a hora de um banho ao chegar em casa, já q parece q eu tinha mato e terra por td corpo! Alem de imundos, tds estavam sequelados de alguma forma, seja com dores musculares, espinhos e ralados pelo corpo, sem exceção! Seu Nelson providenciou um kit de primeiros socorros pra enfaixar o corte do Ronaldo, enqto&nbsp, nos preparávamos pra zarpar, quase as 18hrs. Nos despedimos do simpático senhor e fomos cruzar o Rio Itapanhaú no escuro, cortesia q foi feita de bote graças ao Silvio, q nos levou gentilmente à outra margem com segurança. Dali ainda andamos quase 3km entediantes por estrada de terra ate dar no asfalto da Mogi-Bertioga, mas não sem antes saltar o cerca&nbsp, onde uma lacônica placa proíbe o acesso ate ali. Saldo final, 15km totalizados naquele domingo.

Na seqüência nos prostramos à margem do asfalto, aguardando o q fosse, seja lotação,carona ou busunga, ate q este ultimo passou com apenas 3 lugares. Eu, Dom e Fernando nos despedimos do resto embarcando nele, chegando na Balança logo depois e retornar de carro à Sampa. Cheguei em casa por volta da meia-noite, mas não sem parar num boteco perto de casa pra bebemorar o sucesso da trip. O resto do pessoal tomou o busão sgte, q passou quase hora depois.

Enfim, entre mortos e feridos o saldo havia sido mais q positivo, sem duvida! Afinal, foi mais q provado q ainda existem programas selvagens em locais inóspitos bem próximos dos centros urbanos, e q “desafios montanhisticos” como o Cabeça de Nego estão ao alcance de qq um, assim como caminhadas pra tds os fôlegos. Basta planejamento, determinação e um pingo de gosto pelo perrengue. E qto o filme do Stallone &amp, cia? Bem, se não nos regozijar com o mesmo prazer e satisfação q inundou nosso espírito ao conquistar o morro como pelo conjunto de emoções da trip, se ao menos nos reservar diversão escapista e descompromissada por hora e meia na poltrona já ta de mto bom tamanho.

Texto e fotos: Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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