Turquia: Monte Kaçkar

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O Kaçkar (pronuncia-se Kachkar) é a maior montanha desta região no norte da Turquia, com 3.932 metros de altitude. Nossa jornada em terras turcas foi no fim de agosto de 2008, já no término da temporada na região, que vai de Junho até Setembro.

A estrada foi se afunilando enquanto o dulmush adentrava o vale. Havíamos deixado a cidade de Trabzon e a escuridão do Mar Negro naquela manhã. A bruma engolia as encostas verdes dos Alpes Ponticos, e quando se dissipou, avistamos a porta de entrada do Monte Kaçkar, a vila de Yukari Kavrun.

Para chegar ao cume havíamos optado pela rota Trans-Kaçkar, que parte de Yukari Kavrun (2.300 m), no lado norte da montanha, atravessando a cordilheira pelo passo Çaymakcur (3.232 m), e então seguindo até o acampamento-base, na face sul da montanha. No total seriam seis dias de caminhada.

A região do Kaçkar é habitada por povos de origem Caucasiana, sendo todos muçulmanos. Durante a caminhada atravessamos quatro vilarejos muito peculiares. Casas construídas de pedras sobrepostas, sem nenhuma argamassa ou de madeira, e algumas delas muito baixas. Com exceção de Ongular – a maior entre elas – onde o fácil acesso de veículos favoreceu um padrão mais moderno de habitações. Os moradores, na maioria, pastoreiam vacas e ovelhas e no final do verão se dedicam a roçar os campos de altitude para acumular pastagem suficiente durante o inverno. Esta prática é incrementada com a construção de currais fechados, de dois pavimentos, no inferior são abrigados os animais, no superior armazenado o pasto.

De Yukari Kavrun deveríamos seguir para Büyuk Deniz (lago Büyuk), nosso primeiro acampamento, mas uma má interpretação nas informações, e a dificuldade de se comunicar em turco, nos fizeram caminhar uma hora na direção errada. Corrigida o rumo chegamos ao acampamento com tempo apenas de montar a barraca e nos abrigarmos contra a tempestade de granizo que se abateu. Em quarenta minutos tudo ficou branco.

Com bom tempo iniciamos o segundo, e mais árduo, dia de marcha. Uma extenuante ascensão até o passo Çaymakcur, de lá avistamos o Kaçkar. Desse ponto segue-se o vale do Deresi até Ongular, passando antes por Döbe Yayla, uma das vilas mais rústicas. Havia três pessoas lá. Em Ongular, que fica localizada na confluência do rio Deresi e o Büiuk Çay, acampamos e tomamos um café na pequena mercearia local. Este é o melhor ponto de reabastecimento.

No terceiro dia subimos o vale do rio Büiuk Çay, novamente passando por outra vila de pedra. Após quatro horas de caminhada alcançamos Dilber Duzu (2.885 m), terraço no topo do vale usado como acampamento-base.

A temperatura caiu bastante naquela noite, e as 4:00 da manhã já nos preparávamos para a escalada ao Kaçkar. Do acampamento-base à rota se estende até o lago Golu, na parte mais alta do vale e de lá, quase que em linha reta rumo Norte, até a vertente final da montanha. Por todo tempo eram audíveis pequenas avalanches nas encostas ainda cobertas por gelo. O trecho final da escalada é o mais complicado devido à inclinação da vertente e a instabilidade do solo. Aliás, nenhum solo, caminha-se todo o tempo sobre blocos de pedras que se equilibram quase que por milagre uns sobre os outros. Nesta etapa, a rota praticamente desaparece, e é constante o ruído das pedras se movendo sob os pés.

As 11:00 da manhã alcançamos o cume. Algumas nuvens se aproximaram do Sudoeste, mas ainda assim tivemos um grande espetáculo. Iniciamos a descida e as 16:00 horas chegamos ao acampamento-base. Depois de mais uma noite fria e uma manhã preguiçosa, iniciamos o retorno para Ongular.

Nossa última noite nas montanhas da Turquia foi regada à truta, em um “jantar” na mercearia. A pequena mesquita anunciou o fim do dia com sua oração. E nós nos despedíamos do Monte Kaçkar.

Sobre a região

A região do Kaçkar oferece mais além do que uma aventura na montanha é uma oportunidade ímpar de vivenciar um rústico e ancestral estilo de vida. Ao contrário do que se possa pensar as pessoas são muito hospitaleiras e não existe nenhum mal-estar religioso (99,8% da população turca é muçulmana, na maioria sunita). Entretanto fotografá-las, especialmente as mulheres, que cobrem as cabeças com o véu, não é uma prática muito bem-vinda. Portanto ressalto a importância de se conhecer e respeitar os valores culturais de cada grupo.

Equipe:
Tiago Martins e Sari Treves.

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