A impressionante ascensão de Ueli Steck na face Sul do Annapurna (8091m) em solitário e em apenas 28 horas foi uma das atividades vencedoras do Piolet D’Or 2014 junto com a primeira ascensão ao K6 Oeste (7040m), no Paquistão, realizado por Raphael Slawinski e Ian Welsted.
Não foi a primeira vez que Ueli Steck enfrentou a face Sul do Annapurna. Ele decidiu seguir a linha tentada por Pierre Béghin e Jean Christophe Lafaille na parte esquerda da parede. Uma rota histórica marcada pelo falecimento de Béghin e o épico descenso solitário de Lafaille.
No dia 8 de Outubro de 2013, Ueli Steck e seu companheiro Dan Bowie sairam do campo base com a ideia de progredir na montanha, mas sem o objetivo claro de fazer cume. Bowie se retirou na rimaia quando percebeu que iria fazer uma escalada tão técnica sem cordas. Ueli não titubeou e prosseguiu solo. Não estava claro até onde pretendia chegar, decidindo de acordo com as condições em que ele encontrava. No final, percebeu que ele havia encontrado as melhores condições do século, como ele mesmo avaliou quando bivacou abaixo do headwall da parede, onde descansou para a noite continuar até o cume, enfrentando boas condições de vento, regressando ao campo base em apenas 28 horas de esforço.
A ascensão de Steck gerou um certo debate e controvérsia devido à ausência de provas concretas que acreditem o cume. Segundo ele mesmo explicou, sua câmera foi perdida quando ele foi pego por uma pequena avalanche. Ele também não levou um dispositivo localizador e não deixou nada no cume. Não há testemunhas de que ele ascendeu em solitário e ninguém pôde vê-lo desde o campo base.
Ainda que ninguém acusou diretamente a “maquina suíça”, é certo que os rumores serão intensificados com a premiação. Por conta disso, no site de internet de Steck foi publicada uma tradução de um artigo do jornal francês Le Monde, onde a jornalista Patricia Jolly afirma ter conversado com o cozinheiro da expedição ele assegura ter visto faixos de lanterna do alpinista muito perto do cume.
De qualquer forma, as suspeitas e rumores não foram suficientemente fortes para que os jurados da famosa premiação não coroassem a conquista de Steck.
Primeira ao K6 Oeste.
O K6 Oeste era um autêntico desafio que já havia sido tentado, sem sucesso por várias vezes. Raphael Slawinski e Ian Welsted foram capazes de imaginar uma rota bastante segura no meio de sua complexa parede Noroeste. Cinco dias de escalada foram necessárias para alcançar o cume no dia 29 de Julho.
O cume principal do K6 (7278m) foi escalado pela primeira vez por uma expedição austríaca em 1971. Seu cume Oeste se mantinha virgem apesar das tentativas dos franceses Maxime Turgeon e Louis Phillipe Menard e posteriormente da forte cordada formada pelos americanos Steve House, Vince Anderson e o esloveno Marko Prezlj. Estes três últimos que realizaram um ataque em 2007 e tiveram que abortar devido ao excesso de neve e as más condições de tempo.
A expedição dos canadenses não teve um bom início. De princípio, a expedição tinha um terceiro integrante, Jesse Huey, que decidiu voltar ao seu país de origem, os Estados Unidos, quando houve o ataque terrorista no Nanga Parbat. Os canadenses, no entanto, preferiram continuar o plano original e estabeleceram seu acampamento base no vale de Charakusa nos finais de Junho.
A cordada canadense enfrentou pendentes de 50/60° com frequentes ressaltos em rocha e gelo, num tramo chave que eles graduaram como W14+ M6+. A uns 6 mil metros, eles perderam um dia inteiro por ter que retroceder e buscar um outro caminho que os permitia chegar no cume por uma aresta.
Raphael Slawinski e Ian Welsted tem experiências em grandes montanhas, sobretudo na América do Norte, sobretudo no Denali. Em 2005 Raphael foi companheiro de Valery Babanov na abertura de uma nova rota na face Sul do Denali. Ele também já havia tentado outra ascensão no Karakoran, o Kunyang Chhish Leste, junto com Eamonn Walsh. Ian Welsted, por sua vez, realizou com Chris Brazeay a quarta ascensão absoluta da rota Denali Diamond em apenas 44 horas.
Outros premiados:
John Roskelley, alpinista americano de grande destaque nas décadas de 1970 e 80 recebeu o prêmio Piolet D’or da Vida Alpina pelo conjunto de sua carreira no montanhismo. Ele é a sexta pessoa a receber este prêmio depois de Walter Bonatti (2009), Reinhold Messner (2010), Doug Scott (2011), Robert Paragot (2012) e Kurt Diemberger (2013).
Por outro lado, Stéphane Bonoist e Yannick Graziani receberam uma menção especial por terem seguidos os passos de Ueli Steck no Annapurna (com variantes), uma semana depois da “máquina suíça”. Eles realizaram a ascensão em estilo alpino, mostrando grande espirito de cordada pelos jurados.