Um esquiador iniciante, parte 2

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19 de janeiro de 2013 – sábado, dia livre. Nós dois estávamos sentindo os músculos das pernas e foi super bom ficar descansando por um dia inteiro apesar que olhando o pessoal esquiar me deu uma grande vontade de sair por pelo menos um tempinho, mas resisti pois acho que assim será melhor.

Só levantamos as 10 da manhã e saímos para ir na imobiliária para visitar mais um apartamento para daqui há duas semanas. Não gostamos e voltamos lá e nos deram uma outra chave e este sim é super bonitinho. Mínimo como o que estamos, mas super novo e mobiliado com cuidado e o melhor, disponível por 3 semanas. Então vamos ficar aqui até sexta feira desta semana e daí neste outro até irmos embora no dia 16 de fevereiro.
 
Daí fomos andar pela rua principal sob uma forte nevasca que a partir do meio dia começou a cair deixando tudo ainda mais bonito. O plano era caminhar um pouco e depois ir para o Aquariaz, um enorme conjunto de piscinas cobertas e um jacuzzi enorme do lado de for a que hoje com esta nevasca devia estar fantástico…mas, o lugar fecha aos sábados!!! Voltamos para casa um pouco frustrados.
 
20 de janeiro de 2013 – domingo, sétimo dia de ski
 
O dia amanheceu lindíssimo e com o passar das horas só melhorou. No meio da manhã tivemos de parar em um restaurante para tirar a segunda pele, balaclava e colocar luvas mais leves. Delícia poder esquiar sem tanta roupa. 
 
Hoje acabamos de explorar as pistas azuis que faltavem aqui em Avoriaz e nenhuma delas nos surpreendeu. Acho que agora estamos confiantes o suficiente para fazer qualquer uma delas, aqui em Avoriaz e nos outros resorts que são ligados pelo enorme sistema de ski lifts do Porte de Soleil. A única surpresa hoje foi descer uma das pistas cheia de calombos que exigiam que nos fizéssemos curvas fechadas uma atrás da outra. Também hoje tive minha primeira colisão. Uma menina estava sendo atendida pelos para médicos, colocada em uma maca e isso estava acontecendo no meio de uma pista estreita.
 
Eu desviei pela direita e um ouro esquiador pela esquerda e nos encontramos de cara no meio da pista. Resultado, eu fui para o chão e fiquei com uma leve distensão no ombro esquerdo. Nada sério, mas que mostrou o quão fácil é se machucar neste esporte. Aliás, por incrível que pareça isso aqui me lembra o trânsito da Índia. Não há regra alguma, todos fazem loucuras e ninguém fica bravo com ninguém. Mas, ver um monte de gente descendo a mil por hora uma pista em um domingo de sol lembra realmente um daqueles vídeos do You Tube sobre cruzamentos na Índia!!! 
 
21 de janeiro de 2013 – segunda feira, oitavo dia de ski
 
Hoje fizemos nossa primeira excursão à Suiça. Subimos um ski lift, descemos uma pista, subimos outro ski lift e lá estávamos na fronteira entre a França e a Suiça. Nada mais fácil…descer do ski lift e esquiar para a Suiça. Como a população da França é bem maior do que a da Suiça, as pistas daquela lado eram muito mais vazias, o que foi um alívio depois da experiência de domingão com sol. Mas, a redor do meio dia o tempo deu uma virada completa e começou a nevar cada vez mais forte, a visibilidade diminuiu para poucos metros e o vento aumentou drásticamente. Tempo de voltar para casa para almoçar. Mas, o vento só piorou e a tarde foi de sessão pipoca assistindo um vídeo no computador. Ski só amanhã…
 
22 de janeiro de 2013 – terça feira, nono dia de ski
 
Não ter podido esquiar ontem teve uma grande compensação, a melhor neve até então!! Acordamos já com um dia lindo, céu super azul e tudo coberto de uma grossa camada de neve fofa, deliciosa para esquiar. Foi nosso melhor dia também em termos de o que conseguimos fazer. Saímos e voltamos para a Suiça, desta vez com planos de explorar um outro vale e fomos para Chaten. Paisagem deslumbrante, pouca gente, pistas incríveis. Estava tão bom que almoçamos uma ótima pizza em um restaurante em uma das pistas e passamos a tarde por lá. Amanhã mais Suiça!
 
23 de janeiro de 2013 – quarta feira, décimo dia de ski
 
Mais um dia de céu azul, mas depois de um dia inteiro de sol a neve já tinha voltado ao normal. Cruzamos para a Suiça rumo a um vilarejo chamado Champoussin. Como nada na vida é perfeito, afinal estamos no sansara, as pistas da Suiça são vazias e lindas, mas muito mal sinalizadas. Na França todas as pistas tem placas a cada 100 metros com o nome da pista e são numeradas em ordem decrescente de modo que você sempre sabe onde está, que tamanho tem a pista e quanto falta para final. As placas de indicação também indicam a direção dos ski lifts e os ski lifts tem o nome bem grande marcado.
 
Nada disso na Suiça! Resultado, a navegação é super difícil e passamos metade do dia tentando chegar onde queríamos chegar e a outra metade tentando voltar para casa. Desde que conehci a bagunça do aeroporto de Genebra que decidi que a fama de organização dos suiços é apenas marketing, e um marketing muito bem feito. Na real é bem diferente e as pistas confirmam isso. 
 
Na volta aconteceu uma coisa boa, resultado dessa desorganização. Desde ontem que eu já me sentia pronto para um desafio maior, sair das pistas azuis e tentar as vermelhas, mas o medo impedia. Acho que o trauma daquela segundo dia foi meio duradouro. Bom, nosso plano de acordo com os mapas que temos era de voltar de ônibus de Champoussin para Les Crossets pois neste trecho só dava para esquiar por uma pista vermelha. Qundo chegamos em Champoussin nos informaram que este ônibus não existe e a única maneira de voltar seria pegando não apenas uma, mas duas vermelhas.
 
Uma que estava marcada no mapa como azul era na realidade vermelha. Sem ter o que fazer, não tivemos outra opção que não descer as vermelhas…e …não foi difícil. Claro, são bem mais inclinadas, mas uma vez que você domina a arte de fazer curvas, você quebra qualquer piramba em pirambinhas. Terminamos a primeira com um grande sorriso no rosto. Quebramos o tabu e agora temos a nossa disposição mais um montão de pistas e a facilidade de não ter de ficar quebrando a cabeça para ir de A a B. Temos aí uns 500 km de pistas para explorarmos nos próximos vinte e poucos dias.
 
Também, desde ontem que venho tentando sair um pouquinho das pistas e fazer uns off pista com neve powder, trechinhos pequenos, mas o suficiente para sentir a delícia que é isso. A sensação é competamente diferente, primeiro porque é extremamente macio e suave, sem fazer o barulho do ski na neve dura e segundo por que vai muito mais rápido. Mas, aprender powder é uma outra história que vou deixar para quando o instrutor estiver conosco, na próxima semana.
 
Chegamos de volta a casa depois de 6 horas de ski ininterrupto, super cansados, mas felizes!
 
24 de janeiro de 2013 – esquiando sozinho
 
Hoje a Lisete decidiu tirar o dia para descansar, nosso ritmo aqui está bem forte com várias horas de ski por dia e isso é bastante cansativo, mas como estou viciado no ski sai sozinho mesmo. Aordamos mais tarde pois ontem pela primeira vez fomos checar a noite de Avoriaz. Fomos a dois pubs, ambos com excelente música ao vivo e acabamos dormindo bem mais tarde do que nosso normal.
 
O ski, como acontece todos os dias, foi cada vez melhor. O dia estava lindo novamente e pouco frio. Decidi concentrar meu treino não em fazer coisas mais difíceis, mas em fazer mais bem feito o que já sabia. Tentei deixar meus skis mais paralelos, com as pernas mais juntas e ao mesmo tempo inclinar o corpo mais para frente. Resultado, as vezes conseguia uma coisa outras vezes outras, mas tudo junto raramente. Mas, de um modo geral fiquei feliz com o resultado. Esquiei por 5 horas sem parar e fiz muito do que ja havia feito nos outros dias, mas tudo aqui em Avoriz.
 
No final da tarde estava lindíssimo com as nuvens cobrindo todo o vale e acima disso o céu azul. Começava as pistas com tempo lindo e terminava no meio das nuvens, sombrio e com dificuldade de enchergar o relevo ela falta de contraste. 
 
25 de janeiro de 2103 – Mudando de apartamento
 
Hoje pela manhã foi dia de mudança. Tínhamos alugado um apartamento por 15 dias para ver se gostávamos de Avoriz e como gostamos, melhor, amamos, decidimos ficar mais 3 semanas só que o apartamento que tínhamos alugado não estava disponível neste período então tivemos de mudar. Mas, o novo, apesar de ser do mesmo tamanho tem uma distribuição melhor e com isso dá a sensação de mais espaço. Para a mudança contratamos o taxi local a carroagem sobre esquis puxado por um cavalo super bonito, forte e com pelos cobrindo as patas para enfrentar a neve.
 
Daí guardamos tudo, fizemos uma grande compra de supermercado e como premio de tanto trabalho fomos para o Aquariaz (confiram no http://www.avoriaz.com/mountain-holidays/aquariaz-.php ) um grande conjunto de piscinas aquecidas com plantas tropicais e decoração super bonita. Ficamos lá por duas horas relaxando na água que estava quase boa, dois graus a mais não fariam mal. Mas, claro, como somos quem somos, ficamos também brincando em uma parede de escalada acima da água, uma prévia do mês que passaremos em brve na Tailândia escalando em rocha.
 
26 de janeiro de 2013 – Refazendo todas as azuis
 
Hoje sai para esquiar com a Lisete e como ela tinha ficado dois dias sem esquiar começamos de leve com a parte mais tranquila das azuis de Avoriaz. De lá saímos para refazer tudo o que já tínhamos feito nessas duas semanas tentando ir mais rápico e com mais técnica e nos preparando para voltar a ter aulas a partir de amanhã. Baseado na experiência da primeira semana quando o grupo era muito heterogênio e no final tínhamos de esperar um monte para que cada um descesse as pistas, esta semana decidimos ter aulas só para nós dois. É mais caro, mas creio que no fim vai render muito mais. As aulas serão de 2 horas, das 9 as 11. 
 
Já no fim do dia presenciamos um acidente, um dos muitos que acontecem todos os dias aqui. Dois homens se chocaram de frente e um deles acabou com alguns cortes superficiais no rosto. Decididamente este é o esporte com o maior número de acidentes que já fiz. Várias vezes por dia vemos gente sendo levada de ski doo (motos de neve) dentro de um trenó preso na moto. No apartamento anterior era pior, pois o centro médico de Avoriaz ficava no térreo do prédio e com isso víamos ainda com mais frequência. E não tem jeito, a velocidade é enorme, o número de pessoas imenso e a habilidade muito variada.
 
E o para choques é o seu corpo….Tento não pensar muito nisso ainda mais quando estou descendo uma encosta a mil por hora, mas sei que o risco é grande. Por enquanto nada mais sério aconteceu, mas….
 
Como todos os dias ospés da Lisete ficam muito frios depois de algumas horas esquiando, hoje trocamos de locadora e alugamos botas muito mais quentes e com um palmilha com aquecedor alimentado com baterias recarregáveis. Vamos ver se assim ela consegue esquiar o dia inteiro sem ter de vira para casa para trocar de meia e aquecer os pés.
 
Sábado a noite com lua cheia, por do sol maravilhoso chama fondue com vinho tinto no calorzinho de nossa casa.
 
 
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Sobre o autor

Manoel Morgado é médico de formação, mas trabalha como guia de montanha há 20 anos, atuando em vários países ao redor do mundo. Há 15 anos é montanhista, tendo como ápice de sua carreira a conquista do Everest e também a realização do projeto 7 cumes. Ele nasceu no Rio Grande do Sul, se criou em São Paulo e dede 1989 não tem casa.

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