Atila Barros
Graças a o bom Deus, eu não perdi um braço e nem mesmo acabei como peso de papel, mas uma velha aventura palas terras amazônicas me fizeram lembrar que não tenho o fator de cura do Wolverine, e estou perto de entrar pelo cano a qualquer momento.
Treinando forte para encarar uma empreitada de dois meses com Bruno Castelo nesta virada de ano na Patagônia, fui surpreendido em uma de minhas consultas ao Instituto Fio Cruz. Em um exame de sangue de rotina, meu medico deu a noticia que me faria parar com tudo e me colocar de molho por um tempo, a maldita leishmaniose cutânea estava de volta, teria de refazer o tratamento e encarar mais vinte doses da vacina.
Em Setembro do ano passado cheguei a escrever sobre o ocorrido aqui no site, depois de um longo tratamento, achei que estava curado da doença, mas estava enganado, minha idéia de tatuar um mosquito no local da lesão foi pelo ralo.
Falando um pouco mais da doença, isso para que novos amigos e aventureiros que andam pelas florestas do mundo não entrem nessa fria, as leishmanioses são causadas pelo Leishmania, um parasita microscópico transmitido pela picada de mosquitos. Cerca de trinta espécies de insetos podem transportar o parasita, transmitido a eles por animais domésticos ou silvestres infectados, como roedores, porcos e cachorros.
A principal forma de transmissão da leishmaniose é a picada das fêmeas dos mosquitos flebotomíneos. Pessoas podem não perceber a presença desses mosquitos porque eles não fazem barulho ao voar, são pequenos e suas picadas podem não ser notadas. A maioria só percebe depois que as feridas abrem (leishmaniose cutânea) ou quando os médicos já não sabem mais o que fazer com o paciente (leishmaniose visceral).
Os mosquitos flebotomíneos geralmente são mais ativos ao entardecer e à noite. Embora esses mosquitos sejam menos ativos durante as horas mais quentes do dia, eles podem picar se forem perturbados. Algumas espécies do parasita Leishmania também podem ser transmitidas por transfusões de sangue ou agulhas contaminadas. Também já foi registrada transmissão congênita, da mãe grávida para o bebê.
Pessoas com leishmaniose cutânea têm uma ou mais feridas na pele. Essas feridas podem mudar de tamanho e aparência com o tempo. Elas podem terminar parecendo com um vulcão com uma cratera central (úlcera). Algumas feridas são cobertas por uma crosta. As feridas da leishmaniose cutânea podem ser doloridas ou não. Algumas pessoas têm glândulas inchadas perto das feridas. Como nem todos os médicos estão prontos para diagnosticar a doença, é bem comum mandarem o paciente de volta para casa com alguns curativos e uma receita indicando antialérgicos.
Lembro que fiz duas visitas a dermatologistas diferentes e o diagnóstico foi mesmo, reação alérgica a picada de mosquito, uma injeção de Bezetacil (Essa dói!) e volta semana que vem se não melhorar. O resultado deste descaso pode ser notado nesta foto.
A leishmaniose cutânea é a forma da doença que afeta a pele, causa úlceras no rosto, nos braços e pernas, o que resulta em sérias deficiências físicas e problemas sociais. A leishmaniose mucocutânea, sempre derivada da forma cutânea, causa ulceração, seguida da destruição de membranas mucosas e do tecido do nariz, da boca e da garganta. Ela pode levar à morte por infecção secundária das vias respiratórias. A leishmaniose cutânea e a mucocutânea se espalharam na América Latina desde a época dos Incas: as máscaras fúnebres sem nariz dão o testemunho da presença desta doença “que come a carne”. O Peru é um dos países mais afetados por leishmaniose cutânea e mucocutânea. A Bolívia (Onde eu peguei a minha!), o Brasil e o Peru contabilizam 90% de todos os casos mundiais. O número de pessoas infectadas aumentou consideravelmente desde o início dos anos 80, seguindo a migração sazonal de agricultores em grande escala.
A forma mais perigosa da doença, no entanto, é a leishmaniose visceral ou Calazar. Se não for tratado, o Calazar é fatal e os sintomas incluem febre, perda de peso e crescimento anormal do baço e do fígado. A maioria das pessoas dos países centrais nunca ouviu falar nesta doença, mas ela é comum no Brasil, na Índia, no Nepal e em partes da África Central, sendo conhecida por devastar populações de cidades inteiras. O Calazar é algumas vezes visto como uma infecção paralela em pacientes com HIV/AIDS.
As lesões em meu caso foram no braço esquerdo (leishmaniose cutânea) e não incomodavam tanto. Depois do primeiro tratamento, ou seja, 20 doses da vacina, uma por dia com cada aplicação durando em media cinco a dez minutos, as lesões se fecharam em dois meses deixando cicatrizes que mais parecem buracos de bala. O difícil é passar pelo tratamento.
Os medicamentos mais usados são baseados em compostos antimoniais pentavalentes (estibogluconato de sódio e antimoniato de meglumina), e têm papel fundamental na terapia mundial há mais de 70 anos. No entanto, o tratamento é doloroso, os medicamentos são injetáveis (Intravenoso) e apresentam efeitos colaterais tóxicos, podendo ser fatais. Além disso, eles já não são eficazes em algumas partes da Índia, e acho que nem tão eficazes aqui no Brasil. Depois da décima dose do medicamento, você parece estar de ressaca todos os dias, lá para a décima quinta, você parece estar bêbado todos os dias (Varia de individuo para individuo!).
Por conta do tratamento realizado em Belo Horizonte, fiquei fora do circuito por vinte e cinco dias, longe do trabalho e dos treinos, como a vacina é muito tóxica, o jeito era comer e dormir, logo alguns quilinhos a mais. Tive alta do tratamento no dia 17/12/2009, data do meu aniversario, um presente e tanto ficar livre da doença e de entrar na agulha todos os dias. Já estou no Rio de Janeiro e trabalhando.
Então, se forem encarar áreas de mata que possivelmente possam estar infestadas com o mosquito que transmiti a doença, o jeito é passar muito repelente e andar sempre coberto, nada de bancar o John Rambo correndo pelo Camboja ou o Chuck Norris em O Espírito da Floresta (Duro de ver!), mesmo que a temperatura peça aquele banho de açude, não dispense o repelente. Lembrando que alem da leishmaniose ainda temos a Malaria que também é outra constante nestas regiões.
Meu medico aconselhou ficar de molho alguns dias para uma melhor reabilitação antes de voltar às atividades físicas, mas acho que não vai dar, dia vinte e cinco de dezembro se Deus quiser eu to metendo o pé para Patagônia com Bruno. Assim como Joseph Climber que até mesmo os mais terríveis obstáculos, são encarados como novos e maravilhosos desafios, não vai ser um mosquitinho que vai me deixar de fora das escaladas de fim de ano.
Força sempre, Feliz Natal e um ótimo 2010!
Atila Barros