Uma montanha não é assassina. E ninguém te pede que suba ela

0

Os irmãos Pou, renomados alpinistas que já realizaram diversas expedições por todo o mundo, relatam suas impressões

De Madrid, reportagem de Paloma Leyra para La Gaceta.

Eneko, o mais velho dos dois irmãos, fala com uma poética inusual. Seu trabalho também é. Estes dois se arriscam a cada dia. Escalaram por paredes de meio mundo. Também salvaram vidas. Sabem que a montanha tira o melhor e o pior de cada um, mas ensina muito da vida. E na montanha, dizem, não faz diferença chegar aos cumes, basta desfrutar colhendo os frutos. Não em vão, citam o alpinista francês Lionel Terray, que definia os montanhistas como conquistadores do inútil.

Alpinistas, escaladores, aventureiros, sempre um pouco mais alto e mais longe também?
Isto é uma paixão, uma forma de vida. Não é como acabar uma corrida ou conseguir um trabalho, prima pela superação pessoal, mais que o competitivo. Procuramos que cada vez a aventura seja mais completa, que te preencha, alcançar novas cotas.

Mas arricam a vida. Não é coisa para loucos?
Não. Louco é quem não teme a morte, e creio que os montanhistas sim, temos medo.

De quê?
De sofrer um acidente, de deixar um montão de coisas para trás: desde a própria atividade que não gostaria de abandonar nunca até a família, os amigos ou sua noiva. Loucos, não… só vivemos situações que a maioria das pessoas nunca viveram.

Por exemplo…
No Annapurna sofremos uma avalanche muito forte, ou em escaladas complicadas temos vivido a sensação de ter tido um pé no outro lado.

Como se controla isso?
O medo te ajuda a se conhecer melhor e te ensina a tomar precauções. Nunca deve deixar que o medo se transforme em pânico. O pânico na montanha é acidente certo.

Como é o mundo de cima?
Muito bonito, e talvez idealizado: dali de cima não há diferenças entre as pessoas e as vezes te faz sentir uma forma de vida muito real, quase primitiva. Está frente ao leão e, ou o caça ou ele caçara você.


Certamente, se deparam com bichos?

Alguns nós encontramos. No Yosemite, por exemplo, o maior problema não foi uma escalada vertical de mil metros, foram as serpentes cascavel e os ursos.

O que mais lhes preocupa?
O ritmo que estamos tomando na sociedade atual, vamos demasiadamente rápido e se dá pouca importância às coisas que realmente se tem.

Qual é a grandeza da montanha?
Uma montanha em si é como um desafio, é a natureza em estado puro e, com sorte, jamais as controlaremos. Sua grandeza é que nela nunca se tem tudo controlado.

Há muitos que chamam de montanhas assassinas…
Uma montanha não é assassina. E ninguém te pede que suba ela.

Nem muito menos, dormir pendurados em barracas de uma parede de mil metros.
Temos feito de tudo, desde paredes de 70 metros a outras de 1.000.
E se precisa dormir ali, a sensação é autêntica. Uma vez colocamos mal a barraca. Estávamos a 800 metros do solo e na metade da noite a barraca virou e ficamos pendurados. Mas não acontece nada, volta a colocá-la no lugar, e dorme.

E, perdoe a curiosidade, mas quando estão subindo, como evacuam?
Pois, uma parede não é digamos um lugar muito íntimo, então se tem um platô perto, sai com cuidado e o faz a uns metros. Mas existem vários recursos, desde envelopes de papelão até os produtos químicos.

Os alpinistas Eneko e Iker Pou foram entrevistados para o Diario LA GACETA por Paloma Leyra

Compartilhar

Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

Deixe seu comentário