A identificação das vias de escalada sempre gerou polêmicas dentro da comunidade de escaladores. Não é de hoje que se discute se é certo ou não identificar as vias de um setor, como identificar e em quais locais fazer isso. O escalador e guia de Montanha da Montanhismus, Eliseu Frechou, propôs essa discussão novamente nas últimas semanas após observar vias de escalada identificadas em diversos países.
Modelo de identificação sugerida por Eliseu Frechou.
De acordo com Frechou, essa é uma questão de segurança, além ajudar na localização e favorecer uma experiência positiva para os visitantes de um setor. “Primeiramente evitar acidentes, seja a pessoa entrar numa via com proteção móvel achando que é uma via com proteção fixa, seja entrar em uma via errada onde a corda seja pequena para rapelar, ou haja uma colmeia de abelhas”, declarou ele ao ser questionado porquê propor essa discussão.
A pesquisa
O escalador lançou uma enquete em suas redes sociais e conversou com alguns conquistadores de vias. De acordo com a pesquisa, 86% dos entrevistados responderam a favor da identificação de vias. “Obter o apoio explícito dos maiores conquistadores ativos do Brasil, mostra que eles também sentem a necessidade de melhoras nesse sentido”, disse Frechou.
Frechou também apresentou um modelo para identificar as rotas e um estudo que ele realizou sobre as formas de identificação de vias mundo a fora. Cada lugar tem uma forma de expor o nome da via, seja com placas, pinturas em pedras, e até mesmo pintura na própria parede, cada um com seus prós e contras. Após analisar essas opções, o escalador defende o modelo de uma pequena placa de metal para ser fixada no início da via, por ter menos impacto visual e ser durável.
Modelo utilizado em Potrero Chico no México. Foto: Eliseu Frechou
Ele deixa claro que só devem ser identificadas as vias em que os conquistadores deram o aval. “Só vamos ter o apoio e respeito da comunidade se devolvermos respeito. O direito autoral deve sempre ser a base de qualquer intervenção permanente na rocha”, declarou. Todavia, ele ressalva que a segurança deve ser prioridade. “A segurança que evita acidentes e mortes, sempre será um argumento melhor do que purismo, mínimo impacto ou poluição visual. A escalada é um esporte mutante, é importante que de tempos em tempos, repensemos se a forma de interagirmos com ele ainda é atual ou ultrapassada. Assim como a evolução os equipamentos e procedimentos, as ideias mudam na mesma velocidade”, expôs Frechou.
Quais vias identificar?
“Já fizemos um piloto em três setores na face mineira da Pedra da Divisa, onde há 30 vias novas, todas elas abertas por mim e pela Ana Fujita. Identificamos 6 vias, e acreditamos ser o suficiente para as pessoas se localizarem e conseguirem identificar as vias ao lado. Na Falésia dos Olhos, irei identificar apenas as minhas vias e me coloquei a disposição dos demais conquistadores para ajudar na identificação de outras que eles sejam autores”, disse Frechou.
Ele pretende expandir o projeto de identificação das vias conforme os setores de escalada reabram no pós pandemia, mas que isso também depende da permissão de outros conquistadores. “Cada autor de via que decida o que deve ou não fazer. Nada será imposto nem haverá insistência. Se os trabalhos forem coordenados, ouvindo todos os envolvidos e chegando a um denominador comum, haverá legitimidade”, disse.
Outra forma de identificação encontrada em Piraí do Sul no Paraná.
O escalador também relata ter recebido uma minoria de respostas negativas exacerbadas e sem muitos argumentos para a discussão. “Explico alguns desses comentários num post que tem a ver sobre dogmas e haters que sem argumentação inteligente, apenas xingam, ofendem e sem nenhuma proposta melhor, acabam se consumindo no próprio ódio. Uma face bem vergonhosa da comunidade”, falou.
2 Comentários
Muito bom, qanto mais informação útil melhor, as vias devem ser conquistadas para a comunidade e não para o alter ego. Já estamos na era da informação, do big data…..
CARTA ABERTA A COMUNIDADE DE ESCALADORES DO BRASIL
Sinalização de vias de escalada com plaquinhas metálicas é solução para prevenção de acidentes?
Esse manifesto tem como objetivo relembrar definições básicas da ética com relação a escalada.
“Importância de difundir a ética e prática de mínimo impacto, reconhecendo o atual cenário que vem de encontro ao aumento crescente de visitantes ao ambiente natural e à necessidade de se adotar práticas que minimizem os impactos causados por essas atividades. A escalada em rocha é uma atividade esportiva extremamente especializada, que requer o aprendizado e o domínio hábil de técnicas especiais de progressão vertical e de utilização e manipulação adequada de equipamentos específicos. O domínio da técnica e um bom preparo físico são requisitos indispensáveis para esse esporte, tradicionalmente praticado em lugares onde a natureza desenvolveu espécies adaptadas a um mundo especial, pedregoso e vertical, portanto, a atividade de escalada em rocha está intimamente relacionada à conservação dos recursos naturais e, consequentemente, os escaladores formam um grupo aonde vem crescendo a preocupação e o cuidado em relação à manutenção das características originais do meio ambiente, principalmente nos locais onde se pratica esse esporte”.
“O mais importante é você lembrar que mínimo impacto é uma questão de atitude.”
Texto retirado na íntegra do livro “Ética da escalada” do projeto Pega Leve do CEU – Centro Excursionista Universitário.
É quase inevitável falarmos de escalada sem abordar assuntos técnicos de variáveis específicas como tempo, dificuldade ou exposição, é fato que isso permeia a realidade de quem se propõe aventurar pelos paredões rochosos desta prática esportiva. Considerando que praticar por definição é “levar a efeito, realizar” ou “executar rotineiramente” no caso do esporte, ficou instituído que esta prática; neste caso; é o esporte de aventura, caracterizado pelo Ministério dos Esportes em abril de 2007 como:
“o conjunto de práticas esportivas formais e não formais, vivenciadas em interação com a natureza, a partir de sensações e de emoções, sob condições de incerteza em relação ao meio e de risco calculado. Realizadas em ambientes naturais (ar, água, neve, gelo e terra), como exploração das possibilidades humanas, em resposta aos desafios desses ambientes, quer seja em manifestações educacionais, de lazer e de rendimento, sob controle das condições de uso dos equipamentos, da formação de recursos humanos e comprometidas com a sustentabilidade socioambiental”. “A palavra “aventura” pressupõe, em sua raiz, a assunção de incerteza e risco. Se não há incerteza quanto ao resultado e algum risco envolvido, não há aventura. Qualquer atividade cujo resultado é perfeitamente previsível não pode ser qualificada como aventurosa. Da mesma forma, sem alguma dose de risco, por mínima que seja, não se pode falar em aventura. O dicionário Houassis ampara esta percepção quando define aventura como empresa de desfecho incerto, que incorre em risco, perigo. Portanto, para os praticantes de esportes de aventura, exigir resultados certos descaracteriza o seu propósito, e eliminar o risco equivale a eliminar a própria atividade”
Considerando que o conteúdo exposto é uma breve referência de assuntos debatidos anteriormente na regulamentação desta prática esportiva questionamos o posicionamento do guia de montanha, instrutor de escalada e influencer digital, Eliseu Frechou morador de São Bento do Sapucaí, que vem fomentando a prática de rebitar plaquinhas metálicas com o nome e grau da via de escalada na base da rocha.
Importante citar uma definição sobre ética:
“Ética são regras que definem uma atitude ou postura diante do esporte e ao meio e é flexível de uma região para outra” – FEMESP
Segundo o código de ética, atitudes como estas não podem ser simplesmente impostas sem prévio debate com a comunidade escaladora local.
Esta atitude realizada pelo Guia, está embasada em uma suposta enquete realizada em seu Instagram, veiculada pelo meio de comunicação “story”, extremamente efêmero que depois de 24 horas se apaga, não ficando mais visível para a comunidade de seus seguidores. Em imagem que apresenta a enquete realizada em sua página, cerca de 240 pessoas participaram da votação, número muito pequeno se comparado com a comunidade brasileira de escaladores. Vale ressaltar que as pessoas que participaram obrigatoriamente são seus seguidores e pessoas que não o seguem ou que são contrários a suas ideias tem seus posts excluídos e bloqueados, não tendo assim oportunidade de manifestar-se contra a ação, em um post o escreveu:
“Estou aqui expondo uma demanda, minhas opiniões e as possíveis soluções para serem debatidas. Em cada lugar, a comunidade deve resolver por consenso e experiência, a melhor forma de melhorar a experiência dos seus escaladores e visitantes”.
Porém em conversa privada o mesmo alegou:
“A discussão está em nível nacional, não vou me atentar ao localismo.”
É extremamente importante uma prévia discussão para que atitudes dessa dimensão não influenciem em impactos negativos que possam vir a acontecer. Um exemplo seria as pessoas que caminham na região, ao passar na base de determinada parede, visualizariam aquelas várias plaquinhas com os diferentes nomes. Vemos isso como uma possibilidade de apoio a estes frequentadores de ambientes naturais de colocarem seus nomes na rocha, “já que o escalador pode colocar placas, porque não posso deixar a minha marcação”, seja com plaquinha, pichando ou rabiscando.
De acordo com o idealizador da ideia, as plaquinhas são necessárias por motivos de segurança.
“Primeiramente evitar acidentes, seja a pessoa entrar numa via com proteção móvel achando que é uma via com proteção fixa, seja entrar em uma via errada onde a corda seja pequena para rapelar, ou haja uma colmeia de abelhas” – ALTAMONTANHA.COM
”Mas o grande problema dos guias é que eles já nascem desatualizados. Entre a edição e impressão, é certo que novas vias foram abertas ou modificadas e eles chegarão às mãos das pessoas faltando alguma informação ou setor”. – ELISEU
Acreditamos que esta premissa de “segurança” é falsa, permitindo que escaladores despreparados; sem informações da via além do nome, ou que não estudaram o croqui; entrem em vias pelos nomes. Esta placa com o nome e grau da via não diz nada, não sabemos que material é necessário para determinada via, se com o tempo cresceu alguma colmeia ou qual tamanho de corda usar. Sendo que todas essas informações estão em croquis ou qualquer outra plataforma de instrução.
Como o criador da ideia é editor do atual croqui, “Manual de Escaladas da Pedra do Baú”, onde neste consta apenas uma quantidade limitada e selecionada de vias, então qual valia das plaquinhas, sendo que seguindo essa lógica, somente algumas linhas serão “identificadas” conforme a compatibilidade com o conquistador?
Outro ponto importante a ser apontado é que o responsável pela ideia afirmou inicialmente que seria apenas em setores com alta densidades de vias, como por exemplo setores de vias esportivas, porém já estão disseminando para todo o Brasil independente do setor, inclusive escalada tradicional. Visto isso, alguns seguidores do mesmo já estão instalando em locais com poucas vias, exemplo a Pedra de São Domingos onde foram feitos 2 furos para se utilizar somente 1 para o fim proposto. Vale relembrar que o mesmo Eliseu afirmou que:
“…essa estratégia das plaquinhas iria ocorrer exclusivamente em locais de escalada esportiva”.
No entanto, a Pedra de São Domingos é um local de vias tradicionais longas com vias com 150-200m de altura e que o Eliseu aprovou e incentivou a instalação das plaquinhas nesse setor, indo contra o próprio argumento utilizado inicialmente.
A ética local existe e não está prevista a sinalização de vias no modelo proposto, aplicado e disseminado pelo Eliseu. Uma atitude como essa deveria ter sido amplamente debatido em escala local, uma imposição desse tipo fere o código de ética local. Vale citar que existem uma infinidade de alternativas e com menor impacto, damos como exemplo: pintar a primeira chapa das vias, pedras pintadas na base das vias, placas sinalizadoras e educativas nos setores, croquipets (croqui impresso dentro de garrafa pet), croqui físico ou digital, entre outras.
Desse modo a comunidade de escaladores não organizados de São Bento do Sapucaí, vem a refutar essa ação e solicita que a mesma seja imediatamente suspensa, até que seja avaliado a melhor técnica de sinalização de vias de uma maneira democrática e imparcial.
Logo, convocamos outros escaladores que discordam dessa iniciativa e que compartilham da visão dessa carta, para assinar esse documento, de modo que vozes contrárias possam ser ouvidas de fato, com relação a essa ação impositora