Carretera Austral: De Puyuhuapi à à Villa Amengual

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Acompanhe os relatos de Aline Souza em sua cicloviagem pela Carretera Austral desde o começo:

Carretera Austral de Bike

Dia 10 – 01/01/2019

  • Trajeto: De Puyuhuapi à à Villa Amengual, passando pelo PN Queulat – Ventisqueiro Colgante
  • Distância: 92km
  • Acumulado de subidas: 1619m
  • Acumulado de descidas: 1322m
  • Terreno: asfalto e rípio

Mesmo tendo ido dormir super tarde na noite anterior, a casa estava cheia, e o barulho lá fora me fez despertar cedo. Olhei pela janela e vi um céu um pouquinho azul, me animei.

Me atualizei um pouco na net, me ajeitei e desci. Havíamos marcado o café para as 9h, eram 8:15 e já havia um povo comendo. Me juntei a eles.

Fiz café e Rita me trouxe uma enorme fatia de torta, feita por ela, tradição de ano novo.

Experimentei a torta, estava deliciosa, bem molhadinha, deixei ela para o final. Tomei café com pão, ovos e queijo … e voltei para a torta.

Terminado o café, comecei a ajeitar minhas coisas. O tempo estava nublado, mas claro estava bem bom, depois de 3 dias de chuva, nublado daquele jeito era como se estivesse um sol lindo me esperando lá fora.

Antes de sair pedi para tirar uma foto com Cláudio e Rita. Sério, quem fizer a Carretera tem que ficar no Hostel deles, digam que eu recomendei, eles vão tratar vocês muito bem. Cláudio segue me mandando mensagens e perguntando como está indo a viagem, um querido.

Saímos por volta das 10h, eu, Julien, Nestor e Benjamin. Coisa gostosa pedalar com esse grupo todo. Fomos papeando e dando risadas. O sol, que agora já aparecia, animou todos.

O caminho até o parque foi lindo. A Carretera Astral segue praticamente beirando o mar. Paisagens de tirar o fôlego.

Depois de 22Km, chegamos na entrada do Parque Nacional Queulat e eu estava ansiosa para visitar o Ventisqueiro Colgante. Dali, Benjamin seguiu direto para a Villa Amengual. Nestor entrou logo no parque, não faria a trilha grande e queria tirar fotos. Eu obviamente queria fazer todas as trilhas, Julien me acompanhou.

Chegando no estacionamento, já era possível ver o Ventisqueiro, pensa num negócio imponente. O tempo estava aberto, mas não estava assim aquele tempo firme, a sensação era de que poderia chover a qualquer momento. Visitamos os mirantes mais próximos, para garantir uma boa imagem na memória e quiçá uma boa foto e seguimos para a trilha longa, de 3,3km (6,6km ida e volta). Era cerca de 12:30.

Julien anda muito bem na trilha, tinha essa recordação de quando nos conhecemos no Caminho de Santiago, puxei na ida e ele na volta. Estava morrendo de saudades de caminhar/correr na trilha. Foi delicioso. A trilha é toda linda, muito verde, estava bem molhada por conta das chuvas nos últimos dias e isso a deixou ainda mais divertida. Encontrei alguns brasileiros, batemos um papo rápido.

O Mirante principal é simplesmente maravilhoso. Ficamos ali babando por um tempo, fizemos um lanchinho de voltamos. Não tínhamos todo o tempo do mundo, ainda queríamos seguir até a Villa Amengual.

Do parque até a Villa Amengual, teríamos que pedalar cerca de 70km, com muita altimetria, e já eram 14:30.

Voltei a trilha inteira pensando em como éramos abençoados. Depois de 3 dias de chuva o céu se abriu e podemos ver aquela maravilha da natureza, e isso no primeiro dia do ano, que ano lindo não seria esse. Estava me sentindo muito grata.

Ao retornamos nos ajeitamos para sair e constatamos que o pneu do Julien estava furado, primeiro reparo da Trip (fora meu freio a disco), bora trocar. Foi rápido.

Na saída, o tempo fechou. Não reclamei, tive um lindo momento no parque e estava muito feliz com isso. Começou a chover e colocamos nossos ponchos.

Nosso pedal agora seria em rípio, e a primeira grande subida já se mostrava interminável. Parei para uma foto (desculpa para descansar), Julien seguiu.

Olha minha capa nova:

Começou a chover mais forte e com isso esfriou muito. Subi por muito tempo sem ver o Julien, tentei me proteger com o que tinha, mas não foi suficiente. Fiz força para subir rápido, sabia que Julien me esperaria em algum ponto e não queria que ele morresse de frio. No topo lá estava ele.

Já estava com frio na subida. Na descida, longa e forte, congelei de vez. Tinha dificuldade de apertar os freios, não queria descer muito rápido, sabia que seria pior. Não sentia meus pés, eles permaneciam no pedal por conta do clip. Gritei algumas vezes como forma de me sentir viva.

Já embaixo parei num ponto de ônibus, graças a Deus um local coberto. Ali havia um anjo, cicloturista-alemão. Ele também tentava se aquecer, não parava de pular, mas viu meu estado e começou a fazer de tudo para me ajudar … eu não sentia minhas mãos e meus pés e além disso meu corpo todo tremia. Julien me ajudou a tirar as luvas e os sapatos. Chorei, de nervosismo. O Alemão, Reinhold, me deu seu casaco de pena, depois vinho, fez fogo, fez café e fez uma sopa com macarrão. Comecei a me senti melhor. Quando eu já estava bem Reinhold riu e me contou que quando cheguei meu rosto estava azul.

Dali ainda tínhamos mais 30km com uma boa subida. Seguimos juntos. Foi muito difícil para mim, estava super esgotada. Não conseguia mais comer, tomar água, só queria chegar logo, mas demorou muito para isso acontecer.

Chagamos em Villa Amengual as 21h, todos com muito frio, principalmente eu. Procurávamos o local combinado com Benjamin, mas não encontrávamos. Nisso apareceu o próprio Ben, estávamos na frente de outra pousada e ele estava hospedado ali. Falamos com o dono e ficamos ali também. Pagamos uma pequena fortuna para o padrão que vínhamos adotando, mas precisávamos nos aquecer logo, ninguém tinha energia para procurar outro local.

O dono vendo meu estado me fez café e depois me deu uma dose de conhaque (eitaaaa). Esquentou a casa toda colocando mais lenha no fogo. Depois de um banho e uma comidinha estava novamente bem, pronta para dormir.

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Carretera Austral: De Villa Amengual ao Camping Las Torres del Simpson

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Sobre o autor

Aline Souza, mais conhecida como Aline Elétrica por ser engenheira elétrica é uma multi atleta de Florianópolis - SC. Ela pratica corridas de aventura, trekking, ciclo turismo e escalada em rocha. Siga ela no Instagram @alineeletrica

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