Carretera Austral: Primeiros dias

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Antes de começar efetivamente a falar sobre o dia 1 (de pedalada) vou falar um pouco do dia -1 (preparação) e do dia 0 (viagem).

Acompanhe esta viagem desde o começo: Carretera Austral de Bike

Carretera Austral de Bike

Dia -1 (menos 1 mesmo!)

 

É aquele dia em que você ajeita tudo porque no dia seguinte vai viajar. Esse também foi meu último dia de trabalho. Depois do trabalho ainda fui tomar uma cerveja com o povo (naquele estilo acho que vou dar conta de fazer tudo), e só na última hora fui ajeitar minhas coisas. Achei que seria mais fácil.

Fiquei até as 2:30 da manhã tentando montar a caixa com o peso limite, 23kg. Na mão levaria o alforge. A equação não estava fechando. Estava acabada, então deixei para o dia seguinte.

Meu voo era as 13:45, havia combinado com o amigo Marco Aurélio uma carona, as 11h.

Dia 0

 

Caixa com a bike e todas as tralhas.

Acordei cedo, e voltei a equação caixa + alforge. Consegui fechar a caixa com cerca de 24kg (não tinha muita precisão, pois me pesava e depois me pesava de novo segurando a caixa, isso naquelas balanças pequenas). O alforge ficou com quase 10kg, não cabia mais nada, mas ainda tinha tralhas para levar. A solução para carregar o resto foi uma mochila nas costas (levei uma que pudesse descartar depois).

Marco chegou pontualmente às 11h lá em casa. Ajeitamos a caixa e fomos pro aeroporto. Checkin feito .. aí sim pude relaxar um pouco.

Meu primeiro trecho foi Floripa – Buenos Aires. Em Buenos Aires tive que passar pela imigração, lá abriram minha caixa questionando se a bike era nova, e pior que parecia mesmo nova. Pezão (@pezaobikes) trocou os dois pneus, corrente e mais um bocado de coisas … deixou ela tão ajeitada que foi difícil provar que não era nova. Os pequenos arranhões no quadro e amortecedor foram a solução. Problema foi fechar a caixa depois de o cara tirar tudo de dentro. O cara jogando tudo de volta (com aquela gentileza e eu pedindo paciência e ajeitando tudo com carinho (do jeito que ele estava colocando realmente não iria caber).

Chegando em Bariloche a caixa estava meio detonada, mas nem cogitei conferir nada. Havia combinado um transfer com o pessoal do hostel. Não sou muito dessas mordomias, mas estava chegando 20:30, cansada, pensei na função de ter que montar tudo e sair.

Chegando no hostel, verde de fome, fui bum mercadinho comprar algo. Fiz uma comidinha rápida e tomei um vinho com um espanhol, Rafael, que estava ali para fazer trekking. Fui dormir já eram 23h.

Dia 1 – 23/12/2018

 

  • Trajeto: de Bariloche à Villa La Angostura
  • Distância: 87km
  • Acumulado de subidas: 659m
  • Acumulado de descidas: 669m
  • Terreno: asfalto

Trajeto do dia 1 em azul.

Acordei cedo, 6h, pensando na função que seria montar a bike + bagagem.

Peguei a caixa, tirei tudo de dentro e comecei a montar o “quebra-cabecas”. Ao tentar montar a roda traseira, não conseguia encaixar .. tentei tentei .. e constatei que meu disco de freio estava amassado. Tente imaginar meu desespero.

Primeiro tentei desamassar, mas pensa num negócio duro. Mandei uma mensagem pro Pezão e continuei na organização (cabeça a mil). Logo Pezão me respondeu dando dicas, até mandou um vídeo. Mesmo assim não estava conseguindo. Deixei tudo ali e fui tomar café.

Café da manhã. Nada mau para um hostel, não?

Na volta pedi ajuda para o Nico, dono do hostel. Ele conseguiu fazer mais força que que eu, pareceu dar resultado. Dei uma volta, e estava pegando menos.

Arrumei tudo é só consegui sair dali as 10h. Pensa numa pessoa que estava nervosa.

Hostel Valhalla

Sai pedalando e logo já achei o mirante para estrear as fotos do dia.

Mirante em Bariloche – Lago Nahuel Huapi

Segui pedalando e logo percebi que o freio continuava pegando bastante. Segui até encontrar um posto, enchi bem os pneus. Pelo menos para ajudar um pouco, já não basta o peso, a roda freando (rss). Passei pelo centro da cidade observando o movimento.

No início é bem difícil se conter, a paisagem é super diferente e sempre tenho vontade de parar o tempo todo para tirar fotos.

Segui uma dica dos amigos do @bikeadois, quando possível, olhar para trás, estamos sempre encantados com o que vemos na frente, mas a paisagem atrás pode ser ainda mais incrível.

Rota 40 – saindo de Bariloche

Tirando o peso que era algo novo pra mim e o freio que estava me segurando uma pouco, o trajeto da rota 40 estava relativamente tranquilo.

O problema é quando o rota descamba em direção oeste. Ali o vento começou a judiar, e ainda faltavam muitos quilômetros.

Ok, tudo era novidade e assim que o trajeto se aproximou do lago Nahuel Huapi não teria vento capaz de incomodar, o trajeto era lindo demais.

Paisagem da estrada.

Cada lugar! Um mais bonito que outro.

É tanta beleza que não dá para desenvolver. Tem que parar para ficar admirando.

Sério gente nessa parte o trajeto não rendeu por outros motivos, cada curva era um clique (rss).

Também por ali, já com 40km pedalados, um calor de rachar os cocos, realizei que realmente não encontraria nada no caminho. No nervosismo por ter saído tarde demais, por ser o primeiro dia de pedal e por estar com problemas mecânicos … não me planejei adequadamente com água e comida (erro inaceitável que pode te colocar em grande perigo).

Em relação a comida, tinha minhas barrinhas @hartsnatural trazidas do Brasil, foi aquela salvação. A água me preocupou um pouco mais, alem de estar muito quente, o vento na cara te fazia sentir muita sede. Ia dando bocadinhas.

Antes de ficar sem água, cruzei um rio. Que presente. Pra mim rio na Patagônia é tudo água de degelo (rss), inicialmente até usei meu filtro Sawyer para beber a água do rio, mas a sede era tanta que logo “cai de boca” naquela água deliciosa.

Riozinho que me abasteceu de água

Problemas relacionados à comida e água resolvidos. Agora só precisava aguentar fazer força até Villa La Angostura. Sério, o vento e o peso da bike me faziam tensionar tanto, que minhas costas começaram a doer absurdamente. Parei algumas vezes para alongar. Numa delas deitei um pouco, o que me fez me sentir bem melhor.

Devagar e sempre, cheguei ao Hostel por volta das 19h. Nessa parte da Argentina (e também do Chile) escurece as 22h, então tudo bem. Só queria um bom banho e comida. Fiquei bum quarto com 4 camas, mas estava sozinha naquele momento, o que foi perfeito. Tomei um bom banho, e sai para procurar comida.

Sim, sai assim mesmo e vi gente me apontando na rua, não estou nem aí

Um choppinho para finalizar o dia e capotar!

Com medo de o mercado fechar, essa foi a primeira parada. Comprei muitas coisas (quinoa, biscoito, amendoim, avocado, ovos), a fome era tanta que por um momento acho que esqueci que teria que carregar tudo na bike.

Próximo passo: COMER. Pedi um Chopp Artesanal e uma pizza. A atendente me falou: “la pizza es grande, tiene 8 pedaços”. Só falei assim pra ela: “No hay problema, puedes pedir que tengo mucha hambre“.

Como os olhos sempre são maiores que a barriga comi 3 pedaços e pedi para embalar o resto. O chopp, um Pint, tomei todo, para garantir a hidratação.

 

Saindo dali por volta das 21h, no caminho vi uma loja de aluguel de bikes aberta e fui perguntar sobre onde encontrar um mecânico, era o próprio. Conheci Ariel, expliquei o problema e ele prometeu me ajudar na manhã seguinte, assim que a loja abrisse, as 9h.

.Caminhei pro hostel, preparei meu post do dia seguinte, e logo capotei.

Continuação, clique na foto abaixo:

Carretera Austral: Passando o Natal sozinha e chegando no Chile

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Sobre o autor

Aline Souza, mais conhecida como Aline Elétrica por ser engenheira elétrica é uma multi atleta de Florianópolis - SC. Ela pratica corridas de aventura, trekking, ciclo turismo e escalada em rocha. Siga ela no Instagram @alineeletrica

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