Critica do livro: Horizontes Verticais de Jean Pierre Von Der Weid

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A médica e montanhista Tatiana Batalha é aficionada por histórias de escaladas. Neste artigo ela conta sua impressão ao ler o livro Horizontes Verticais, do escalador brasileiro Jean Pierre Von Der Weid

Por Tatiana Batalha
 Por quê escalar rochas e montanhas? Deixando um pouco de lado histórias internacionais sobre escaladas, escaladores e famosas montanhas, faço aqui uma chamada para conhecermos mais dos nossos pioneiros escaladores. Sabemos tanto e temos grande interesse por histórias internacionais das montanhas, e às vezes esquecemos do que acontece ou aconteceu por aqui.
 Numa dessas conversas de montanhas fui questionada sobre alguns livros de escaladores brasileiros, se conhecia, e então, como ainda não conhecia, surgiu um novo interesse, conhecer as histórias,  curiosidades sobre as montanhas e gente que  as respeita, experimenta, vive e admira aqui no nosso Brasil. Comecei então com esse livro sobre a história da escalada brasileira,  sugestão de um amigo escalador , que me disse que eu gostaria de ler. Que não era um simples livro descrevendo datas de quando cada coisa foi feita, mas sim se tratava de  “um livro poético”, que valeria a leitura!
 Começo a leitura curiosa e imaginando como seria a narração de um brasileiro sobre sua jornada e experiência nas rochas e montanhas. Realmente poético! Uma gostosa narração, de como um jovem, foi atrás de se embrenhar pelas montanhas e escalar rochas nunca dantes escaladas. Da iniciação nas paredes rochosas brasileiras, levado pelo irmão mais velho, à  sua busca por um grupo que o deixasse escalar, até organizar suas próprias viagens e expedições por esse Brasil, abrindo vias de escalada em rocha que eu nem sequer sabia que existiam.
 As dificuldades com equipamentos enfrentada por alguns dos pioneiros das aventuras nas rochas de nosso Brasil. Histórias da evolução dos equipamentos usados, dos primórdios da escalada brasileira com botas e cordas amarradas na cintura, aos primeiros projetos de equipamentos para segurança, nossos grandes auxiliares nas subidas e descidas.
 As curiosas histórias que ficaram gravadas após cada contato com os moradores das pequenas vilas por onde os escaladores passavam. As histórias do contato e amizade com aqueles que viviam na mata, no pé das tão desejadas rochas,  aqueles que as guardavam e que ao final das escaladas e conquistas de novas vias se reuniam para comemorar os feitos, as novas vias, com os pioneiros da escalada brasileira. Histórias do companheirismo e amizade sólidos que ganhamos quando adentramos nesse fascinante mundo que é a escalada. A confiança nos amigos da cordada, dos quais em muitos momentos depende a nossa vida. Histórias dos bons momentos e perrengues passados e enfrentados juntos, que rendem histórias para serem contadas por mais de anos, quando surge aquele reencontro. Histórias e lembranças que enriquecem  as rodas em cada um desses reencontros. Reencontros e novos encontros com amigos, que são alguns dos motivos que  impulsionam nossas vidas, e dão aquele gostinho bom de sentido à existência.
 Livro Horizontes Verticais - Fonte: Loja Alta Montanha
Companheirismo esse que só quem vai para as rochas e montanhas entende. Aquela amizade e conexão que quando chegamos a um refúgio sozinhos ou com nossos companheiros, e encontramos lá outros grupos de amigos,  logo se transformam num único grande grupo de montanhistas e amigos a contar suas experiências e a dividir juntos planos para as novas empreitadas.
 O encontro de várias gerações de escaladores, após anos dos grandes feitos, tentando  refazer as mesmas vias, reunindo jovens e novos amigos de cordada, mostrando que a escalada não tem idade para ser experimentada. Um livro para ser apreciado, para conhecermos um pouquinho mais dos nossos bravos, criativos e pioneiros escaladores do Brasil.
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Sobre o autor

Tatiana Batalha, natural de Mogi das Cruzes SP é médica ortopedista e montanhista, tenho escalado diversas montanhas como Aconcagua, Huayna Potosi, Acontango, Kilimanjaro e outras.

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