E se a aventura acabar?

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Tem uma máxima que logo aprendemos, quando iniciamos nossas experiências no montanhismo: quanto maior a roubada, melhor será a história!



E isso é verdade! As grandes narrativas das montanhas, ou melhor, dos montanhistas, são das grandes enrascadas que estes se metem. Dias atrás, inclusive, ouvindo um amigo contar sobre a conquista de uma nova via na parede do Ibitirati, pude perceber claramente isso. Ninguém arredou o pé da roda, enquanto ele não terminou a saga!

E isso é intrínseco ao ser humano que, ambicioso por novas aventuras, deixa o conforto e o sossego de seu lar, e parte rumo às montanhas, almejando novas conquistas pessoais.

Porém, estas aventuras são seguidas de perto pelo famoso risco comumente acompanhado e medido pelo tamanho da aventura proposta, seja ele grande ou pequeno. E, como disse anteriormente, é isso que o aventureiro procura, ou não?

Aliás, fazendo um adendo, quando verificamos o saudoso “Aurélio” encontramos que aventura é “uma experiência arriscada, perigosa, incomum, de finalidade ou decorrência incertas.”

Ocorre que com a popularização destas atividades, acidentes começaram a ocorrer, o que é natural quando o tal risco existe e é iminente e, ainda, quando muitas pessoas literalmente “sem noção” aderem ao desejo pelas aventuras!

Assim, sob um pretexto parvo de possibilitar maior segurança ao aventureiro, verificamos uma explosão de grampos, chapeletas, escadinhas, correntes, degraus, fitas, totens, bandeiras e sei lá mais o quê nas vias, trilhas e rotas em montanhas.

Com relação à escalada, existe certo compromisso dos escaladores com as chamadas vias tradicionais, no qual consiste o respeito às características da região, ao padrão utilizado pelos conquistadores da via e, principalmente, as fendas, fissuras e demais características da rocha que possibilitam a chamada “escalada limpa”, utilizando-se de equipamentos móveis.

Apesar de existirem grupos infelizmente contrários a esta visão, no momento vou dedicar este texto ao famoso trekking, que é o estilo mais utilizado no Brasil e, como regra, possibilita maiores acessos à maioria dos cumes brasileiros, os quais, como disse, possuem trilhas abarrotadas de escadinhas, degraus e correntes!

Ora, sei que é importante todo o auxílio e a manutenção visando à segurança que é feita nas trilhas, mas também entendo que quando procuramos as montanhas, procuramos um algo a mais que um contato com a natureza, pois com certeza, se fosse isso que eu procuro, eu seria pescador, freqüentaria hotéis fazendas e alternativas do gênero, menos subir montanhas…

Assim, é de se pensar que se é a essência da aventura que buscamos, retirar toda e qualquer aventura das montanhas, sob o pretexto de que elas têm de se tornar mais seguras, é no mínimo uma grande incoerência da nossa parte.

Outra vez, conversando com amigos que fazem manutenção nas trilhas, estes exclamaram que temos de pensar nas pessoas que não conseguiriam subir o Pico Paraná ou outra montanha da nossa querida Serra do Mar paranaense, se não fossem os degraus ou as escadinhas que foram encravadas nas rochas. Porém, novamente meu pensamento é crítico com relação a isso. O Aconcágua está lá, com toda a sua dificuldade, e não é porque muitos gostariam de escalá-lo que devemos colocar “escadas e passarelas rolantes” em suas encostas, sob o pretexto de possibilitar o cume, aos menos afortunados fisicamente.

Ou em outras palavras, um pouco mais duras: A montanha está lá, e se você quer chegar ao seu cume, mas não consegue, vá treinar e tente novamente. Ou simplesmente reconheça sua limitação e procure algo que seja “realizável”. E em minha opinião, isso vale para o Everest, Serra Fina ou Marumbi!

E o pior é que este pensamento nem discutido foi, nem questionado é, e nem examinado será, se não repensarmos esta nossa visão de facilidade de acesso e, principalmente, de segurança, que nos foi imputada.

Vou parar por aqui, pois do contrário esta coluna acabará se estendendo demais, retirando o foco principal, contudo deixo o espaço aberto à todos que quiserem dar suas opiniões, através do nosso contato, ou ainda, através do Fórum em nossa comunidade no Orkut!

Na próxima coluna faço uma síntese acerca de tudo que foi opinado e discutido!

Abrazos!

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Sobre o autor

Hilton Benke é um dos idealizadores do AltaMontanha.com. Dono de uma personalidade muito forte, é hoje praticante assíduo do voo livre, principalmente da modalidade "hike and fly", que une o voo com o montanhismo. Como montanhista e escalador, gastou seu tempo galgando montanhas brasileiras e andinas, além de ter prestado alguns serviços como instrutor de escalada junto ao CPM. Deixá-lo feliz é fácil: só marcar um bom pernoite em um cume da Serra do Mar Paranaense, com um bom menu para o jantar e uma condição de tempo boa para que possa decolar com seu parapente dia seguinte e realizar uma das muitas travessias sobre a Serra do Mar.

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