Quem diria, neste cartão postal também tem escalada! É verdade, muito pouco conhecida e divulgada sendo este o lugar mais famoso do Estado onde nasceu o montanhismo brasileiro. É verdade também que é um tipo de escalada diferente, pois ao invés de escalarmos uma montanha, a gente escala em um canyon…
Eu já estive várias vezes em Foz, mas nunca havia escalado por lá, pois as paredes do canyon ficam meio escondidas e chamam muito menos atenção do que as cachoeiras. Na verdade, se você for pra lá, não vai dar muita bola pros afloramentos de basalto, vai mesmo ficar hipnotizado com as cataratas… Sem falar que as melhores paredes ficam meio longe das cachoeiras, pois quanto mais perto, mais úmido e mais vegetação.
Por sorte consegui o contato do pessoal da Associação Montanhistas de Cristo e eles foram muito gentis em me levar até o parque para conhecer as escaladas. Aliás, me levaram pra todos os cantos, sendo verdadeiros ciceronis, me levaram até pra fazer compras no Paraguai, agradeço muito ao Igu, Marcelo Niclevicz, Adilson “Zangão” e sua esposa Lucélia.
Esse pessoal faz uma grande diferença na AMC, ministram cursos, levam várias pessoas para escalar e todos os sábados ficam no Espaço das Américas, que é um tipo de um castelo onde dá pra escalar, para introduzir as pessoas em nosso esporte.
Sem eles não dá pra escalar no Parque Nacional, isso por que a AMC conseguiu autorização e prestam serviço de manutenção de trilhas lá dentro, então o acesso às escaladas não é para qualquer um, por isso, durante muito tempo a escalada por lá não foi para frente e também não é muito conhecida, ou melhor, é quase que totalmente desconhecida…
Hoje, ainda bem, existe um bom relacionamento entre escaladores e o parque, mas nós, escaladores, não somos vistantes normais e há um desejo de uma liberação para outros escaladores federados e isso ainda gera um certo conflito, sendo necessário a manutenção das boas relações e uma negociação envolvendo nossos clubes e Federação.
São 9 setores de escaladas no Parque. Isso porque lá tem muita vegetação e não dá para escalar de maneira contínua nas paredes de basalto do canyon. Há muito mais possibilidades, mas a dificuldade é o acesso, pois a vegetação é bastante fechada. Às vezes é melhor ir caminhando pelo leito pedregoso do rio, mas isso é uma tarefa difícil, pois os blocos são enormes e é difícil de caminhar por lá, ainda mais quando está fazendo calor, ou seja, na maior parte do ano…
Claro que estas dificuldades seriam contornadas se houvessem mais pessoas frequentando o local e ajudando na manutenção e abertura de novas trilhas e contra o crescimento da vegetação ruderal. Atualmente já existem cerca de 50 vias, mas as possibilidades são muito maiores. Se incluir o outro lado do rio, na Argentina, fica muito maior, aliás, lá ficam as falésias mais bonitas e altas, entretanto os argentinos são muito fechados e já tiraram da parede um gringo que estava escalando em móvel, deixando todo seu equipo na parede, nunca vi tanto exagero na “preservação” da natureza.
Ainda bem que aqui a administração do parque não é tão radical e não interpreta a nossa presença como algo impactante, mas é preciso resolver o problema do acesso diferenciado. A estrutura para receber essa gente já existe, há até um mini ginásio de escalada dentro do parque que é sub utilizado por conta das dificuldades de se chegar lá por conta, pagando a mesma taxa de visitação dos turistas, falta apenas um entendimento e uma separação entre quem pratica esporte de aventura e quem faz “turismo de aventura”.
Se as escaladas no canyon do Iguaçu se tornarem mais populares e conhecidas, a cidade de Foz poderá ter retornos indiretos com a presença destes frequentadores “anormais”. Foz é sempre uma passagem para quem visita o Brasil e a Argentina. Se a escalada deslanchar, o local pode se tornar um destino para os escaladores que desejam visitar a América do Sul e incluir a cidade dentro da rota de escaladas Patagonia x Rio x Minas.
Será que conseguiremos o acesso à este importante cartão postal brasileiro, e tornar ele um local popular na escalada? Tomara que sim, pois a paisagem e as vias são muito demais!