E as Vias na Lapinha?

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Tudo o que sei das vias na Lapinha vem do DVD homônimo e não tenho motivos para desacreditar de nada do que lá esta. Em outra ocasião afirmei que todo montanhista é também ambientalista, mas o contrário não é verdadeiro. Assistir este vídeo me fez repensar o assunto, mas antes vamos por os pingos sobre os is para estreitar as interpretações.

O montanhismo é uma cultura antiga que envolve o homem e o ambiente selvagem. É inseparável da aventura e por conseqüência do risco. Não existe nenhuma possibilidade de montanhismo sem estes três elementos; homem, natureza preservada e risco, então fica claro o grande apelo na preservação da natureza selvagem pelo montanhista.
Homem mais natureza sem o risco é o que denominamos de turismo, natureza selvagem sem o homem é ambientalismo? O homem não é parte da natureza?

Grande parte dos problemas humanos é justamente este afastamento da natureza. Qual a lógica em preservar uma coisa que não serve para nada? Nos mesmos lugares em que o montanhismo vem sendo sistematicamente proibido, o turismo é incentivado, e não somente no Brasil, mas no vídeo fica muito claro que depois que os escaladores deixaram a área os turistas pixaram as pedras. Não há como amar ou respeitar o que não se conhece. Em todos os parques brasileiros estão justamente nas áreas consideradas intangíveis as maiores afrontas a natureza com a invasão sistemática de caçadores, palmiteiros, madeireiros e outros extrativistas ilegais.

Ambientalismo é a palavra da moda e apela para um sentimento de remorso na consciência dos homens, animal que sem dentes nem garras chegou ao topo da cadeia alimentar. ONGs, governos, partidos políticos, religiões e empresas exploram comercialmente esta vergonha do sucesso como espécie e manipulam desavergonhadamente a verdade para obter lucros altíssimos. Ambientalismo dá dinheiro, empregos e poder. Ambientalismo é um negócio rentável para muita gente inescrupulosa que se sustenta sobre uma multidão de tontos, montanhismo é só prazer de uns poucos loucos, “Doidos de Pedra”.

Pensar dói, mas (longe de Cuba) não mata. Um pouco de lógica pode até ser bom para a tosse, ruim é que não é. Então porque se fala tanto em “Aquecimento Global” e pouco em mudanças climáticas? Simples; o primeiro é culpa do homem e o segundo é o que o planeta sempre fez ao longo de sua existência. O primeiro dá lucro, vende créditos de carbono, desenvolve novas e interessantes tecnologias, cria novas necessidades.

Preservar o que? O mundo está em constante mutação; montanhas crescem, montanhas desabam, espécies são extintas, espécies novas surgem, erosão nivela, vulcões e terremotos elevam, os continentes flutuam, esfriam, esquentam, se chocam e nem precisam de nossa ajuda para isto. E para quem? Se nem ao menos podemos entrar nas áreas de preservação e apreciar as dádivas da natureza. Preservar é impossível, evitar que vândalos destruam é outra coisa, mas quem tem um mínimo de inteligência enxerga claramente que o método adotado é ineficiente porque conduz ao oposto do que propõe, mas tem quem lucre com ele. Vamos contratar um Plano de Manejo? Taí a solução!

Pra jogar sinuca é necessário aceitar as regras naturais da física, mas para viver os homens querem fazer suas próprias regras contrariando até as mais elementares leis da natureza. Gente que não tem competência nem pra botar feijão no prato sem estar pendurado num cabide de emprego vem ditar as regras para a utilização dos espaços naturais. “Pagando o ingresso neste mirante será permitido o turismo pra ver a cachoeira, aquela trilha poderá ser percorrida com a assistência de monitores cadastrados e naquele mocó distante que nunca fui porque sou gordo e sedentário ninguém precisa ir, é área intangível, mas se alguém entrar pra roubar palmito que se dane, não ganho o suficiente pra ficar andando no mato feito índio doido e ainda acabar levando tiro de bandido”.

No vídeo aparecem alguns burocratas cheios daquela razão e autoridade vindas do céu juntamente com o poder discricionário de fazer leis para o bem da humanidade. Homens e mulheres experientes na arte de andar no mato, subir montanhas e escalar pedras. Conhecem cada centímetro do parque, a alma de cada escalador e todas as suas práticas, tanto que proibiram a escalada e liberaram geral no turismo. A palavra chave é CONTROLE. Nada nem ninguém pode ficar fora do controle desta gente e para entender este dogma é preciso ir mais fundo e beber a água na fonte deste pensamento. A fonte está na obra do pensador esquerdista Antonio Gramsci que prega o domínio de uma classe social sobre o conjunto da sociedade através da força e do consenso. A força está claramente representada pelo decreto proibindo a escalada e o consenso é conseguido pela doutrinação como está demonstrado na hesitação dos escaladores.

E os escaladores da Lapinha? Leões envergonhados por ter dentes, tentando se desculpar por ser aquilo que efetivamente são, por fazer o que gostam e fazem bem, o tempo todo se perguntando o que fizeram de errado. O vídeo me parece uma espécie de expiação sincera onde tentam entender o que aconteceu. Mas no vídeo também está a resposta para todas as questões levantadas. O problema é que ninguém quer esta resposta, qualquer outra serve, não esta. Aceitar esta resposta que pula no pescoço dos personagens e do próprio espectador equivale a admitir toda uma vida baseada em convicções errôneas. Como encarar o paizão (ou o tiozão) que sempre chamou de reacionário e facista?  Melhor continuar sem entender, mas tenham certeza que nem todos entraram de tontos nesta arapuca, sempre tem um “esperto” por perto.

Os “espertos” se infiltram e escondem sua mediocridade com a pregação “politicamente correta” até alcançar um cargo numa associação, depois na federação e finalmente vende a alma para o demônio ao entrar na tal classe social dominante. O domínio se manifesta pelas associações, federações, sindicatos e congêneres que sob o rótulo de “movimentos sociais” meia dúzia de pelegos se intitulam representastes de categorias inteiras. O método é dividir para dominar, semear a discórdia e regar as sementes do mal. A facada vem sempre pelas costas, já que os fins nunca justificam os meios, mas os meios certamente antecipam as finalidades.

Mas porque esta perseguição somente aos montanhistas? Quem te fez imaginar que os montanhistas são os únicos perseguidos? Esta marcação existe sobre tudo e todos que esta “classe dominante” ainda não conseguiu controlar. A refrega é ainda mais intensa sobre os poucos meios de comunicação livres (ver todas as seguidas tentativas de impor um “controle social” a imprensa) e chega a ser sufocante contra os humoristas. O humor “politicamente correto” perde toda a graça (bastar ver o Casseta & Planeta). Humor e montanhismo são anarquistas por natureza.

Como nos desastres aéreos nunca uma só falha derruba o avião. Dar esmola com estardalhaço. Fazer mutirão para recolhimento de lixo com foto e artigo no jornal. Enquanto diziam ao mundo o quanto eram bonzinhos limpando a sujeira dos outros, a sociedade civilizada só via o monte de lixo empilhado e imaginava que outro tanto ainda permanecia por lá abandonado por aquele bando de porcos sujos que andam no mato criando carrapato. Rebelar-se contra um mísero pedágio privado que na soma não cobre nem a primeira parcela do Imposto Territorial para aliar-se a prefeitura (governos) numa parceria para implantar um parque é dar tiro no próprio pé. Sábio é o mexicano: “se hay gobierno, yo so contra”.

Montanhista eu sei bem o que é, mas ambientalista que bicho é? Montanhista no Brasil é descendente direto dos bandeirantes, é bicho sem rédeas, é anarquista. Não existe montanhismo sem gente, natureza selvagem e aventura. Alguém aí está disposto a arriscar o pescoço? No vídeo, aquele que se auto-intitula ambientalista dá de mão beijada a resposta a pergunta título. E as Vias da Lapinha? Declara na maior cara-de-pau que a escalada não está entre as prioridades do parque e a proibição será levantada com o estabelecimento de regras que surgem somente depois da ocorrência dos conflitos. Não acreditem em mim, revejam o vídeo. É o caminho das pedras pra resolver os problemas de todas as Lapinhas Brasil afora.

Quando os leões relembrarem o porquê da natureza ter lhes dado dentes não haverá mais proibições idiotas.

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Sobre o autor

Julio Cesar Fiori é Arquiteto e Urbanista formado pela PUC-PR em 1982 e pratica montanhismo desde 1980. Autor do livro "Caminhos Coloniais da Serra do Mar", é grande conhecedor das histórias e das montanhas do Paraná.

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