Malhação no ônibus

0

Já pensou em como aproveitar aquela hora de relax dentro dos confortáveis ônibus das capitais brasileiras?


Depois de 20 anos, andei de ônibus no Rio durante três semanas (PQP) e lembrei de algumas situações que podem ser uteis para os escaladores jovens, pobres ou ecologicamente “corretos”… Para ir a universidade ou trabalhar, levava cerca de duas horas indo e vindo em ônibus cheio. Então aproveitava para malhar dentro do ônibus e fiquei com muita forca e Resistência…

Viajando em pé, como gado, invariavelmente os ônibus andavam cheios, segurava naquelas barras no teto somente com um dedo, sempre fazendo pressão para baixo. Quando o antebraço “tijolava”, adicionava mais um dedo sucessivamente (bi dedo, tri dedo…). As vezes pegava motoristas malucos que entravam nas curvas com o pé lá no fundo e o treino ficava ainda melhor e emocionante, porque tinha que travar mais forte na barra. Mas os passageiros reclamavam do condutor – “O MOTORISTA, SUA MAE NÃO ESTÁ AQUI NÃO!”.

Também malhava as panturrilhas e os pés… Quando o coletivo ficava bem cheio, viajava quase sempre na ponta dos pés , fazendo flexões. Deixa os pés bem fortes para fazer vias de agarrinhas. Mas com ônibus vazio não dava porque corria o risco de ser sacaneado – “O mane, não adianta ficar na ponta dos pés que tu não cresce mais que isso não, quer impressionar a gatinha ai do lado, e?”.

Quando surgia a oportunidade de ir sentado na janela, também malhava os dedos. Segurava no trilho da janela com a ponta dos dedos e pressionava o polegar contra o vidro, criando um movimento de oposição que usamos em fendas rasas. Isso deixava os polegares fortes. Mas certa vez uma senhora me perguntou se eu estava tentando quebrar o vidro com os dedos – “Não senhora, e que estou fazendo fisioterapia. Fiz uma cirurgia na mão e o medico recomendou que eu fizesse isso” – Mas a mulher não acreditou na minha historia não.

Existem diversas outras técnicas de malhação em ônibus, mas não quero aqui escrever um livro sobre o assunto e nem ficar deprimido por lembrar demais essa fase de proletário. Enfim, nessa época eu era mais forte e resistente… eram duas horas de malhação diária! Mas pro inferno com isso, prefiro voltar a ser escalador burguês – Deixem que os petistas e a Dilma Topeireff andem nesses trecos.

Antonio Paulo Faria

Compartilhar

Sobre o autor

Antonio Paulo escala há tanto tempo que parece que já nasceu escalando... 30 anos. Até o presente, abriu mais de 200 vias no Brasil e em alguns outros países. Ele gosta de escalar de tudo: blocos, vias esportivas, vias longas em montanhas, vias alpinas... Mas não gosta de artificiais, segundo ele "me parecem mais engenharia que escalar propriamente". Além disso, ele também gosta de esquiar, principalmente esqui alpino no qual pratica desde 1996. A escalada influenciou tanto sua minha vida que resolveu estudar geografia e geologia. Antonio Paulo se tornou doutor em 1996 e ensina em universidades desde 1992. Ele escreveu sobre escalada para muitas revistas nacionais e internacionais, capítulos de livros e inclusive um livro. Ou seja, ele vive a escalada.

Comments are closed.