Guaricana

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O Guaricana é uma montanha de aproximadamente 1540 metros de altitude que se eleva ao norte do conjunto Ferreiro e Ferraria na Serra do Ibitiraquire. O antiguíssimo caminho pré colonial ainda chamado de Picadão do Cristóvão percorre suas encostas até o selado que separa estas montanhas e depois despenca em direção ao litoral onde cruza com a Trilha da Conceição aberta pela Copel em meados do século passado.

A escalada ao cume não apresenta nenhuma dificuldade técnica e apesar da facilidade de acesso ainda é pouco visitado, tanto que do caderno que lá instalamos em 2002 conta-se nos dedos de uma só mão as páginas utilizadas. Grande injustiça com este mirante privilegiado que oferece uma das mais impressionantes e completa vista do Ibitiraquire. Do Ferraria, incontestavelmente, revela seu melhor ângulo onde a pirâmide se apresenta mais desafiadora e é possível avistar toda a rota clássica usada na conquista.

Na quinta feira acreditamos que finalmente o tempo nos permitiria atravessar toda a Serra da Farinha-Seca, sem pressa alguma, pela linha de cumeada conforme havíamos planejado, mas na sexta o mundo parecia que realmente ia se acabar e abortamos a investida para passar todo o sábado nos lamentando diante de um maravilhoso dia firme e ensolarado. Para não morrer de remorso nem de insolação tiramos o domingo para revisitar esta montanha esquecida e suas belas panorâmicas.

O Elcio Douglas acompanhado pelo Alisson, Jopz e Vinicius do NNM foram até lá em julho deste ano demarcando uma picada por rota diferente da usada em 2002 que enfrentava a montanha chegando diretamente ao cume principal pela face oeste. Estacionamos na Fazenda PP com sol forte e alto, fritando os miolos enquanto cruzávamos os pastos do sítio vizinho que só aliviou ao adentrarmos na floresta de pinus pelo caminho de serviço que dá acesso ao início da Picada do Cristóvão já no fundo do vale.

Imersos no frescor da Mata Atlântica, eu, Moisés e o Elcio iniciamos a subida pela velha trilha dos índios até quase o alto da serra quando o caminho ameaça nivelar, então adentramos a esquerda pela encosta retificando a picada e marcando as árvores com a indefectíveis fitas adesivas amarelas a distância de uma visada para estabelecer uma rota definitiva de ascensão ao Guaricana.

Do chão encharcado se desprende uma rala nuvem de vapor carregada com o odor de matéria orgânica em decomposição. O calor do banho turco faz verter suor e sal na atmosfera pesada. Cruzamos por extensos bambuzais mortos cujos esqueletos permitem que o sol toque o chão e por fim, vencido o reino das taquaras, alcançamos a base do cume secundário contornando um significativo afloramento de rochas precariamente equilibradas na encosta.

Deste ante-cume se tem uma vista desobstruída para o cume principal logo em frente, depois de um breve selado, coberto pela vegetação até a extremidade a direita que se encerra num esporão de rocha viva. O cume é amplo, plano e recoberto por macega lenhosa intercalada com pequenos caraguatás.

Enxames de moscas e minúsculas butucas emitem um zumbido intenso e contínuo debaixo do sol a pino que castiga o lombo sem dó nem piedade. Imensos flocos de algodão pairam estáticos sobre as montanhas próximas. Nem uma leve brisa para renovar o ar pesado. Sombra só se enfiando junto ao chão quente entre as moitas de macega. Tudo anunciando o final antecipado da temporada de montanha 2011 no Paraná. Chegou o verão, o calor, os insetos e as jararacas. Hora de procurar por aventuras refrescantes nos vales, bosques, rios e cachoeiras nas canhadas das serras.

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Sobre o autor

Julio Cesar Fiori é Arquiteto e Urbanista formado pela PUC-PR em 1982 e pratica montanhismo desde 1980. Autor do livro "Caminhos Coloniais da Serra do Mar", é grande conhecedor das histórias e das montanhas do Paraná.

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