Sumário do Montanhismo Brasileiro 2012

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Repetindo a compilação inédita feita por mim no ano passado, o presente artigo tem a intenção de sumariar as atividades brasileiras mais relevantes no exterior em 2012, englobando escaladas aos Andes, Patagônia, Yosemite, Europa, Ásia, África, Circuito dos 7 Cumes, etc.

por Rodrigo Granzotto Peron

Repetindo a compilação inédita feita por mim no ano passado, o presente artigo tem a intenção de sumariar as atividades brasileiras mais relevantes no exterior em 2012, englobando escaladas aos Andes, Patagônia, Yosemite, Europa, Ásia, África, Circuito dos 7 Cumes, etc.

Sumário do ano passado: https://altamontanha.com/Noticia/3554/sumario-do-montanhismo-brasileiro-em-2011

Notas iniciais

As expedições e escaladas brasileiras do ano passado demonstram com clareza as tendências de nosso alpinismo. Waldemar Niclevicz, Manoel Morgado e Cleo Weidlich são nossos faróis na Ásia, participando de várias expedições tanto aos oitomil, quanto a picos menores. O circuito dos Sete Cumes tem ganhado cada vez mais atenção brasileira, a exemplo de Ana Elisa Boscarioli e Rosier Alexandre. As referências mundiais nos maciços do Mali – Eliseu Frechou, Edemilson Padilha e Fernando Leal – abriram mais uma nova via por lá. Enquanto isso, temos visto ultimamente uma crescente quantidade de atividades brasileiras na Patagônia e nos Andes.

Vamos, então, ao sumário do montanhismo brasileiro em 2012:

Janeiro

O ano começou com o sucesso de Ana Elisa Boscarioli no VINSON (4897m, Antártica), em seu projeto Sete Cumes. Ana tornou-se a segunda mulher, atrás de Helena Coelho, e o oitavo brasileiro a conquistar a montanha mais alta do continente gelado.

O expert Ricardo “Rato” Baltazar culminou o CERRO TORRE (3128m, Patagônia) pela Via Compressor.

No CABEZA DE CONDOR (5648m, Andes), foram até o cimo Isabelle (Belle) Duarte e Alex Feijó.

No FITZROY (3405m, Patagônia), forte dupla paranaense – Irivan Gustavo Burda e Marcelo “Bonga” Santos – fez a segunda repetição da Via Mate, Porro e Todo Los Demas, e prosseguiu pela Rota Casarotto até o cume principal da montanha. Em 2008, “Bonga” havia completado essa via, até o cume do Pilar Casarotto, na companhia de Ronaldo “Franzen” Nativo, mas não conseguiram ir até o ponto dominante. Em 2012, “Bonga” finalizou sua aventura.

O Cume do Cerro Fitz Roy foi bastante frequentado por brasileiros. Num mesmo dia uma cordada formada pelos paranaenses Jose Luiz Hartmann (Chiquinho), Ronaldo Franzen Jr (Nativo), Fabio Gomes e Ermínio Giannati chegaram ao topo pela via “Mate, Porro y todo lo demás. Duas horas mais tarde, pela via “Afanassief”, Formiga (PR), Silvio Neto (RJ), Cassiano Procopio (Chuck) (PR), Antonio Nery e Fabiano Quadros (Fafá) (PR), também fizeram cume.

No MULAS MUERTAS (5880m, Andes), os paulistas Gustavo Junqueira, Haroldo Junqueira e Luiz Guapito fizeram cume (é a terceira ascensão conhecida de brasileiros a esta montanha argentina).

O mesmo trio acima nominado ascendeu até a cratera do OJOS DEL SALADO (6888m, Andes), mas desistiu de prosseguir até o cume principal da montanha.

Os três paulistas igualmente tentaram conquistar o SAN FRANCISCO (5900m, Andes), mas acabaram não conseguindo ir até o topo.

Em compensação, Gustavo Junqueira, Haroldo Junqueira e Luiz Guapito fincaram os crampons no ponto mais alto do SIETE HERMANOS (4820m, Andes), nos andes chilenos.

Mudando de continente, Ricardo Muller Bottura fez cume no KILIMANJARO – KIBO (5895m, African Range).

Fevereiro

No início de fevereiro, o cearense Rosier Alexandre, em sua busca pelos Sete Cumes, tornou-se o segundo brasileiro a pisar no ponto mais elevado do CARSTENSZ PYRAMYD (4884m, Indonésia).

No OJOS DEL SALADO (6888m, Andes), André Dib e Geraldo Ozório Filho fizeram cume.

No ACONCÁGUA (6959m, Andes), fizeram cume, entre outros escaladores, Carlos Eduardo Santalena, liderando expedição da Grade VI, o gaúcho Manoel Morgado, em sua busca por compilar, pela segunda vez, todos os Sete Cumes, bem como Ayesha Zangaro, na companhia de seu pai Celestino e sua mãe Lyss, em seu projeto Sete Cumes.

No processo de aclimatação ao Aconcágua, Carlos Santalena e Taina Fonseca culminaram o BONETE DE ACONCAGUA (5050m, Andes), um dos “faróis” do Gigante das Américas. Dias depois, também a Família Zangaro (Ayesha, Celestino e Lyss) pisou no cimo.

Jus Prado fez a primeira ascensão brasileira ao GALTEEMORE (919m, Irlanda), e ainda por cima em pleno inverno.

Março

Um dos embaixadores do montanhismo brasileiro no exterior, Manoel Morgado, em companhia de sua parceira regular de cordada Lisete Florenzano, fez a segunda ascensão conhecida de brasileiros ao JEBEL TOUBKAL (4167m, Atlas), no Marrocos.

Tivemos, em março, o momento mais trágico do alpinismo nacional em 2012. O brasiliense Felipe Santos, 28 anos, ascendeu o VULCÁN RUCAPILLÁN (2847m, Andes), mas acabou caindo em uma fenda na descida, vindo a óbito.

Abril

Cleonice “Cleo” Weidlich culmina o ANNAPURNA I (8091m, Himalaia), na primeira ascensão brasileira a este cume. Cleo é, também, a primeira mulher sulamericana a ascender esse perigoso 8000. A outra expedição brasileira ao Annapurna era capitaneada por Waldemar Niclevicz, incluído em expedição espanhola de Carlos Soria. Mas, devido ao risco extremo de avalanche, o paranaense desistiu de prosseguir até o cume.

Maio

Waldemar Niclevicz havia programado escalar o Dhaulagiri (8167m, Andes) após o Annapurna, mas como as condições de neve não eram as ideais e pela ausência de tempo, o paranaense cancelou a empreitada.

Os top climbers Eliseu Frechou, Edmilson Padilha e Fernando Leal completaram uma nova rota, batizada Blowing in the Wind, no HAND OF FATIMA – ELEPHANT (620m, Mali). Essa é a terceira expedição de Eliseu Frechou à área (após 1996 e 2006), e a segunda de Fernando Leal. A dupla tem várias rotas desenhadas no grupo montanhoso (Solução Suicida, Filhos do Sol e Horácio são as outras).

Guiando grupo de trekkers ao campo-base do Everest, Manoel Morgado fez cume com Eval Olympio “Cavalo Velho” Egito e José “Zé” de Oliveira Barros, dois sessentões, ao KALA PATTAR (5545m, Himalaia), um dos “faróis do Everest”. Em tempo: essa foi a 49ª expedição de Manoel ao campo-base do Everest, guiando trekkers. Segundo suas contas, sem muita precisão, deve ter pisado no cume do Kala Pattar mais de 35 vezes.

Cleonice “Cleo” Weidlich chega ao seu sétimo 8000, após ascender, com êxito, o DHAULAGIRI (8167m, Himalaia), e entra para a história como a primeira mulher a fazer um dos mais difíceis double-headers na Ásia: Annapurna + Dhaulagiri em uma única temporada.

Junho

Continuando sua busca obstinada pelos Sete Cumes, Rosier Alexandre também ascendeu o DENALI (6194m, Alaska Range), na companhia do catarinense Anastácio da Silva Júnior. Participando da aventura, mas não conseguindo o cume, Ana Carolina Chieregatti.

No HUAYNA POTOSÍ (6044m, Andes), Vander Dissenha, juntamente com uma gaúcha de nome Bruna, fizeram cume. Dias depois, na mesma montanha, também culminou Natália Almeida. Vale destacar que o Huayna é uma das montanhas mais escaladas por brasileiros no exterior (tenho registro de mais de cem brasileiros que lá culminaram).

Julho

A expedição de Victor Saunders ao Mont Blanc (4807m, Alpes), composta por Manoel Morgado, Lisete Florenzano, Eduardo Gomes, Gilson Francisco, Gustavo Ferrarini e Milton Marques, não conseguiu culminar o ponto mais elevado da Europa Ocidental. Em compensação, ascenderam com sucesso o pico subsidiário MONT BLANC DU TACUL (4248m, Alpes).

O mineiro Marcelo Delvaux lavou a égua e culminou, no inverno, o ANDRECITOS (3116m, Andes), o ARENALES (3381m, Andes), o CERRO ESTUDIANTES (3700m, Andes), o CERRO PLATA (6303m, Andes), o LOMAS BLANCAS (3659m, Andes) e o CERRO CAUCASO (3800m, Andes), primeiras ascensões invernais desses picos por brasileiros. Duas notas são necessárias sobre a façanha de Marcelo Delvaux: a) o Cerro Plata havia sido tentado uma vez antes, no inverno, por Rudah Azevedo, Rodrigo Bittencourt, Marcelo Curia e Márcio Fialho, em 2006, sem cume; b) tornou-se um dos raríssimos brasileiros a culminar um seismil no inverno; c) nessa expedição, o mineiro tentou, sem cume, o Cerro San Bernardo (4150 m, Andes).

Na Bolívia, os paranaenses Vinicius Ribeiro e Leandro “Bolívia” subiram o CERRO MIRADOR (5050m, Andes). Na sequência, fazendo par com Alysson Cotrin Wosniak, Vinicius tentou o CHACALTAYA (5350m, Andes), com desistência a 5000m.

No vizinho HUAYNA POTOSÍ (6044m, Andes), Vinicius Ribeiro, Alysson Cotrin Wosniak e Natan fizeram cume. Após, também culminaram Rafael Barbosa e Renato Onorato.

Nos Andes peruanos, Ricardo Baltazar, o “Rato”, e Érico Winkler fizeram expedição conjunta com o argentino Gastón Riolla. Primeiro, a equipe venceu, em meros dois dias, o ISHINCA (5530m, Andes) e o URUS CENTRAL (5495m, Andes). Depois, Ricardo fez o TOCLLARAJU (6035m, Andes), e tentou, sem êxito, o RANRAPALCA (6162m, Andes), pela íngreme Face Leste, atingindo a aresta somital, mas sem conseguir chegar ao cimo, tendo em vista a tempestade que desabou. A expedição prosseguiu, com tentativa, até 5700m, de Érico e Gastón na AGUJA CARAZ (6020m, Andes). Por sua vez, Ricardo fez cume no CERRO PARÓN ou ESFINGE (5325m, Andes).

Em nova incursão à Mongólia, Manoel Morgado dirigiu bem-sucedida expedição que fez a segunda ascensão brasileira à mais elevada montanha daquele remoto país: o KHUITEN (4.374m, Altai). Além do próprio líder, também culminaram Lisete Florenzano, Sylvia Stickel, Tera Albuquerque, Adriana Balestra, Irineu da Silva e Luis Carlos Modesto. Manoel ainda teve forças para, na companhia de 11 clientes trekkers, escalar o vizinho MACHIN (4.000m, Altai).

Agosto

Finalizando suas atividades na Bolívia, os paranaenses Vinicius Ribeiro e Leandro “Bolívia” subiram o TARIJA (5200m, Andes).

No ELBRUS (5642m, Cáucaso), o paranaense Camilo Benke fez dois cumes seguidos, com intervalo de menos de uma semana entre eles.

Guiando clientes, entre os quais Lisete Florenzano, Agnaldo Gomes, Gilson Francisco e Cristiano Muller, o renomado gaúcho Manoel Morgado fez cume, pela quinta vez, no ELBRUS (5642m, Cáucaso).

Manoel Morgado rumaria novamente ao KHUITEN (4374m, Altai), na companhia de Mário Augusto Ferrarini, montanha que o gaúcho já havia ascendido em 2011, mas não há notícias sobre essa aventura.

No verão do Karakoram, dupla frustração. Por falta de patrocínio, tanto Waldemar Niclevicz quanto Marcelo Motta Delvaux desistiram de suas expedições. O paranaense tentaria um double-header para turbinar sua busca pelos 14 oitomil: Broad Peak e Gasherbrum I. Já o mineiro buscava seu primeiro 8000: o Gasherbrum II.

No final de agosto, a alpinista Jus Prado tentou escalar o Mont Blanc (4810m, Alpes), mas teve que dar meia volta a 4362 metros, muito embora tenha culminado o DOME DU GOUTER (4304m, Alpes) no processo de escalada.

Setembro

Em um ano de muitos cumes no HUAYNA POTOSÍ (6044m, Andes), também pisou no ponto mais elevado desse seismil boliviano o mineiro Luís Giffoni.

O KILIMANJARO – KIBO (5895m, African Range) foi domado por Jodrian Freitas, natural de Natal (RN).

No Yosemite (EUA), milhares de pessoas foram expostas – e três morreram – a um vírus mortal (hantavírus) que assolou o famoso parque americano. Ao mesmo tempo, um desprendimento rochoso interditou parcialmente o El Capitán. Não obstante, alguns escaladores de nosso país aproveitaram para desfrutar de algumas das paredes mais impressionantes do globo. Foi o caso de Júlio Pimentel (CE) e Dil Otto (PR, morando em PE), que escalaram a via The Nose no EL CAPITÁN (2307m, Sierra Nevada). Também escalando no parque, Stênio Torres (PB) e Ary “Alecrin” Pacheco Neto (RN).

Outubro

O incansável Manoel Morgado, juntamente com Lisete Florenzano, Gilson Francisco e Milton Marques, foi tentar o MANASLU (8163m, Himalaia). Em uma temporada marcada pela tragédia, com oito alpinistas mortos, os brasileiros conseguiram ir apenas até 7500 metros.

A brasileira Cleo Weidlich repetiu a performance de 2011, e novamente conquistou três cumes 8000, ao pisar no ponto mais alto do MAKALU (8485m, Himalaia). Com essa conquista, a amazonense passou a deter oito cumes 8000, mais do que qualquer outro brasileiro.

Em trekking pelo circuito do Khumbu, Elias Luiz, Jus Prado e Agnaldo Gomes foram até o cume do KALA PATTAR (5545m, Himalaia).

Dezembro

Em interessante expedição às montanhas vizinhas, Pedro Hauck e Waldemar Niclevicz culminaram o TUZGLE (5500m, Andes), ANTOFALLA (6470m, Andes) e o CACHI (6350m, Andes). O primeiro foi também ascendido por Silvia Bonora. Temos testemunhado uma redescoberta dos Andes por alpinistas brasileiros, que têm concentrado seus esforços em nosso próprio continente.

por Rodrigo Granzotto Peron

data do texto: 2-5-2013

Observação: As expedições acima são as mais importantes de que o autor tem notícia, mas podem – e devem – haver inúmeras outras, não registradas e não divulgadas. Se alguém ficou de fora da presente compilação, favor contatar: alazaf AT terra.com.br.

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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