Relato de uma incrível escalada brasileira, Lotus Flower Tower – Canadá

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Continua todo o trabalho dos próximos dias da expedição que levou o Brasil a um Big Wall canadense, a Lotus Flower Tower. Continue lendo esta que é apenas a segunda parte do relato, nas palavras de Eliseu Frechou:

Leia a primeira parte do relato

"Expedição Lotus Flower Tower – parte II – Platô do bivaque
 
A tarefa para o segundo dia da expedição, foi fazer mais um transporte de alimentos e equipamentos do Glacier lake para abastecermos o campo-base com mantimentos para 10 dias. A descida foi punk depois da maratona do dia anterior. Descemos para a mosquitolândia debaixo de chuva, em três horas e meia e fugimos de lá em seis. Lógico que bem mais leves do que havíamos subido no dia anterior.
 
O terceiro dia, que deveria ter sido de descanso, foi para mim e para o Val, de trabalho. Subimos para levar o equipamento até a base da montanha, distante duas horas de caminhada por morainas. Ao chegarmos na base, encontramos a primeira e terceira enfiadas encordadas. Até a quarta enfiada a parede escorria bastante água. Na intenção de agilizar nossa vida para o dia do ataque ao cume, o Valdesir guiou a segunda enfiada e assim já adiantamos 150m de cordas fixas.
 
O dia que amanheceu nublado e com chuva, foi se tornando ensolarado, e um encontro inesperado com simpático Sean Leary, escalador americano ex-namorado de Roberta Nunes, que acabara de escalar a mesma via que iríamos repetir, nos deu a dica de que o tempo na região estava em um ciclo de 3 dias bons para 2 de chuva, foi o beta para que entrássemos na via no dia seguinte.
 
Sem descanso, mas motivados, no quarto dia acordei as 02h45 e chacoalhei os caboclos. Acordar ainda no escuro para escalar não é uma boa sensação, pelo menos para mim, e aí a solução para não ficar de moral baixa é sair fazendo as tarefas no automático. Antes das 03h30 estávamos na trilha, após uma refeição bem forte para manter as forças na empreitada que sabíamos, seria de arrebentar.
 
As duas horas e meia até a base da via foram suficientes para que a luz do dia trouxesse a alegria à jornada. Chegamos e eu entrei na corda fixa, pois havíamos combinado que este trecho até o platô da décima enfiada seria guiado por mim.
 
A quarta enfiada está graduada como III grau no croqui. Pareceu um VI de tão molhada e escorregadia por conta da lama que descia dos tufos de mato. Para me ajudar, a proteção era péssima. Todas as lacas parecias expansíveis e com certeza muitas não segurariam uma queda. Apesar do trecho ser fácil, a possibilidade de um escorregão por conta da condição da rocha era bem real. Chego aliviado na base. Bem… As bases. As bases da via eram na maior parte das vezes, feitas em pitons velhos, unidos por cordeletes e fitas antigas- e quando muito, uma chapeleta de ¼". O Val olha pra mim e sorri com aquela cara de "Bem vindo à escalada alpina. E ainda bem que não sou eu quem vai guiar esse trecho". Rio pra não chorar e entro numa seqüencia de seis enfiadas de fendas e chaminés, que esticando a corda o máximo que posso, consigo transformar em apenas quatro. Ganhamos tempo e antes das 10h30 chego ao platô da décima enfiada. O único platô decente de toda a via.
 
Comemos, tomamos água (que eu não havia visto desde a base) e deixamos o peso extra no platô para pegarmos na volta.
 
Nas próximas 5 enfiadas, a tarefa de esticar a corda seria do Val."
 
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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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