Alain Mesili nasceu em 1949 em Paris, França, viveu sua juventude na Argélia, mas tornou-se Boliviano, Pacenho por coração. Só aprendeu a ler quando já se considerava quase um adulto, contrastando com uma de suas grandes paixões: A Literatura!
Mesili não é nem um pouco pacífico. Suas opiniões ácidas na política já renderam prisões e perseguições, já tendo sido preso por cumplicidade com a guerrilha – na realidade sua prisão aconteceu em 1994 nos EUA e posteriormente extraditado para a Bolívia.
Prontamente produziu diversas obras literárias e fotográficas, entre elas os famosos " Los Andes de Bolivia" e " Bolivia – entre pueblos y montañas". Alain já publicou 18 livros. O primeiro foi em 1984, chamado Poemas ao Extremo. "Tive sorte. O livro encantou a Yolanda Bedregal, que o incluiu uma antologia", afirma orgulhoso.
Seu encontro com as montanhas aconteceu após o assassinato de seu pai adotivo, em meio a guerra franco-argelina, quando após estar abandonado pelos seus pais, foi deixado num albergue infanto-juvenil em Grenoble. "Ali vi estas montanha tão belas", lembra. Aquelas montanhas eram tão atraentes que fugiu para as escalar e perambular pela França, realizando pequenos trabalhos e excursões.
Entre uma viagem e outra, chegou a Chamonix, onde trabalhou como carregador e começou a relacionar-se com os intelectuais franceses da épocam entre eles os filósofos Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre. Pouco antes do famosos Maio Francês de 1968 – uma greve geral que eclodiu na França – , conheceu uma jovem universitária, que lhe ensinou a ler e escrever em poucos meses, ingressando pouco tempo depois na Universidade de Soborne para estudar letras e história. Durante sua graduação, trabalhou num editorial de François Maspéro, onde criaram o jornal Libération e realizaram as primeiras traduções para o francês dos escritos de Che Guevara.
"Em 1968 veio a revolução, o mundo mudou. Senti despertar o espírito, o que estava guardado em mim: A consciência, de todas as injustiças que havia sofrido na Argélia e em outros lugares. Era um despertar contra tudo que acontecei, inclusive contra o comunismo praticado na antiga União Soviética. Cuba era o que tinha de mais próximo, pois investia em todas as revoluções da América Latina."
E foi por 'Che' que ele enfim pousou na América Latina. Mesili ao ver a foto de Che, morto, na capa da revista Paris Match, e mesmo sem falar uma palavra em espanhol, decidiu partir. E o fez em 1969, num barco cheio de imigrantes italianos, aportando em Buenos Aires.
Na Argentina realizou suas primeira incursões andinas. Na Patagônia, fez ascensões na cordilheira de Darwin e realizou a terceira escalada do Fitz Roy. "Se eu não vivesse na Bolívia, estaria vivendo hoje na Patagônia. Todo o mito que lá existe é muito atraente" relata.
Em 1970 decidiu radicar-se na Bolívia. "Eu creio que o que me fez tomar essa decisão foi o caos, o anarquismo a desordem e o fundamento revolucionário que existia. A Bolívia me surpreendeu. Era um país parado na história, que não se movia. La Paz tinha apenas um edifício, o Alameda, e formavam-se filas e filas de pessoas para se conhecer o elevador!"
Nessa época também conheceu a realidade que viviam os camponeses bolivianos. "Era impressionante como viviam – e como ainda vivem – essas pessoas. Existem povoados muito isolados. Para se chegar a alguns lugares, leva-se dias a pé!"
Começou uma séria de expedições. Se aproximou do Clube Andino e conheceu diversos andinistas, como Ernesto Sanchez, com quem escalou diversas montanhas, até que num acidente, faleceu em 1975. "Escalávamos como loucos,", relembra Mesili.
Entre algumas de suas incursões dessa época, relembra algumas: Cruzou o deserto do Atacama a pé ao longo de 22 dias, subindo todos os 'nevados' que encontrara pelo caminho, abriu novas e exigentes rotas no Illampu, Gorra de Hielo, Pico Schulze, Illimani, Huayna Potosi, Condoriri e Ancohuma. Credita o sucesso em muitas dessas expedições ao fato de ser cuidadoso. "Vi e perdi muitos amigos em acidentes nas montanhas. Tem que farejar o perigo e ser cuidadoso sempre!"
No começo dos anos 70 iniciou sua carreira como guia de montanha com lastro em todo o conhecimento e experiência que possuía. Junto com outro francês, chamado Pierre Vernay, formou a agência TAWA. Em 1981 realizou a primeira travessia à pé pelo Salar de Uyuni. Pouco depois alcançou o título de Guia pela ENSA – Ecole Nationale de Sky et Alpinisme, Chamnix, França.
"Não sou da Associação de Guias da Bolívia porque sempre me excluíram por ser estrangeiro. O andinismo para a maioria dos bolivianos é somente para ganhar dinheiro. É uma realidade muito triste." Atesta, ao afirmar que, com raras exceções, os guias bolivianos não desejam grandes desafios. "O grande problema é que os donos das agências de escalada somente querem vender o Condoriri, o Huayna Potosi e o Illimani. É a rota e disso não se sai. Vão passar toda a vida fazendo o mesmo. Por quê? Porque são as montanha famosas, que os montanhistas estrangeiros procuram, sempre pela rota normal. Raramente uma agência estrangeira ofertará uma escalada de nível mais difícil à seus clientes."
Alain critica também algumas agência bolivianas, que "utilizam camponeses para levar guias e equipamentos. Não vou falar se são bons ou maus guias, mas sim que não estão à altura de uma escalada difícil… Eles são muito fortes fisicamente, mas não tecnicamente. Conhecem os caminhos pela memória, mas se acontecer uma tempestade, estarão perdidos. Não sabem ler mapas nem utilizar GPS. Não estudam a montanha, crêem que se subiram montanhas de 6000 mil metros, as montanhas perdoarão tudo. Não. Uma queda sempre pode acontecer e muitas vezes é mortal!"
Ele ainda ressalta a grande quantidade de trekkings que se pode fazer na região, muitos deles desconhecidos. Dos sítios arqueológicos e de suas particularidades. Afirma que a Bolívia é um dos países latino americanos mais autênticos. Por sua gente indígena e pela diversidade. "É um país de lugares místicos, carregados de história, de montanhas bela e inexploradas, que fazer da Bolívia o Himalaia do novo mundo, o Tibet dos Andes".
Atualmente, Mesili contabiliza mais de 150 rotas abertas nas montanhas bolivianas, muitas delas como primeira ascensão, e outras tantas nos países vizinhos. Por diversas vezes acompanhou o brasileiro Waldemar Niclevicz em suas escaladas na cordilheira boliviana. Atualmente ele reside no centro histórico de La Paz e possui uma filha de cinco anos de idade.