Uma temporada na Blanca – Parte I

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Passar uma temporada escalando em algum lugar do mundo é sonho de escaladores de todas as disciplinas. A forçca de vontade pra guardar dinheiro, se preparar por meses e às vezes anos, largar um emprego, deixar pra trás amigos e família e outros sacrifícios pra passar um tempinho fazendo o que mais se gosta em algum lugar incrível é um privilégio que pode sim ser atingido. Não foi muito diferente pra mim, e o que muda nessa história é que fui bem impulsionada por uma situação bem ruim no trabalho, e que se arrastava sem resolução já fazia mais de ano. Um mês de férias não bastaria, e depois de muito questionamento tomei a decisão de fazer “uma pausa” e alimentar a alma de uma maneira mais consistente. Foi questão de semanas entre sair do emprego e organizar o que foi possível, porém sem qualquer perspectiva de itinerário: eu tinha apenas a passagem aérea e uma reserva de alguns dias num hostel, além de alguns contatos com outros escaladores que fiz pela internet.

No dia 8 de maio embarquei para o Peru, na conhecida via crucis que é chegar em Huaraz. Muitas horas de espera no terminal de ônibus com a cabeçca cheia de questionamentos e nenhuma resposta, até que finalmente embarquei no ônibus. A sensação ao chegar em Huaraz foi aquela de estar voltando pra casa, quando o coração aquece. Infelizmente este é um ano de El Niño e o tempo estava bem encoberto, então não vi as montanhas logo de cara.
 
DE VOLTA À HUARAZ
 
Cheguei à Casa de Zarela, mais ou menos 7h da manhã. Bati um papo com ela e fui dormir, mas em menos de 40 minutos um dos meus contatos feitos pela internet, um escalador da Suíça, já chegou no quarto querendo me conhecer. Eu estava viajando fazia quase 48h sem dormir e tinha acabado de fechar o olho! Não deu 10 minutos recebi uma mensagem no Face do meu amigo Cesar me chamando pra escalar. Vencida por 2×1, saímos pra Los Olivos, uma falésia pequena com boulders e vias esportivas a 15 minutos de caminhada de Huaraz. Escalar logo de cara a 3100 m de altitude e sem dormir obviamente não me fez bem, mas nessa noite dormi como uma criança. No dia seguinte fomos pra Los Chancos, outra falésia um pouco mais distante com vias fáceis, porém em menor quantidade. De novo, sentia tontura, fraqueza e falta de ar, mas os meninos queriam escalar, então lá fomos nós! No meu terceiro dia, por sugestão e insitência do suíço, subimos de bicicleta por uma estrada que vai até Punta Callyan, a 4200 m. Não estando aclimatada, parei em 3800m com dor no peito e falta de ar, totalmente podre, já que não estava acostumada a esses passeios de bike, menos ainda a aclimatar dessa maneira tão intensa. No total foram 46 km muito suados!
 
Não deu outra, acordei no dia seguinte com pulso rápido e sintomas bem claros de mal de altitude moderado, que eu nunca tinha tido. Como o clima estava apenas começando a melhorar e um dia antes de eu chegar teve uma nevasca grande nas montanhas, ainda não era possível escalar por lá, então decidimos ir pra Hatun Machay escalar rocha. Mandei o suíço na frente e decidi ficar por Huaraz mais um dia e observar os sintomas, descansar e comer bem, pra evitar de ter que descer pra Lima caso piorasse. Felizmente tudo correu bem, e dois dias depois parti pra Hatun Machay (4200 m).
 
ACLIMATAÇÃO NA ROCHA – HATUN MACHAY
 
No carro conheci um casal de americanos super gente boa, o Alex e a Jennifer, além de um canadense que tinha acabado de chegar. Obviamente que estando no Peru sempre existem acontecimentos bizarros, e os policiais do pedágio pararam nosso carro pra subornar o motorista, além de depois o mesmo motorista ter dirigido direto pra uma poça de lama e atolado o carro sendo que ele tinha o pasto inteiro pra desviar! Coisas do Peru…
 
Ficamos por lá 4 dias fritando os dedos na rocha mais abrasiva na qual já escalei. Por lá ainda conheci uns argentinos desses bem hippongos, além de reencontrar dois bascos que já tinha conhecido em Huaraz. O refúgio é bem bacana e dá pra socializar bastante, o que eu fiz sem parar já que meu parceiro suíço era bastante anti-social e um misantropo declarado. No último dia ainda subimos num monte de 4700 m a 2h de caminhada do refúgio pra aclimatar um pouco mais. Depois de um pouco mais de escalada pela manhã no último dia, organizamos tudo e descemos a pé até a estrada onde pegamos um colectivo de volta à Huaraz.
 
ACLIMATAÇÃO NAS MONTANHAS – CHURUP
 
Depois de um dia de descanso em Huaraz, saímos pra fazer o famoso trekking de 1 dia à laguna Churup (4450m). Nossa ideia era parar na laguna, testar nossos fogareiros pra ver qual aquecia água mais rápido (tenho um de gás, o suíço um MSR de gasolina), e ir além e alcançar o cume do Cachihirca, uma montanha de graduação F, 5050m e escalaminhada que fica na frente do Churup. Porém, com planejamento um pouco mal feito, saímos tarde de Huaraz e começamos a andar bem antes de Pitec, ou seja, em Llupa. Daí pra chegarmos no começo da trilha pra laguna já estávamos cansados, mas mesmo assim fizemos em um tempo considerado rápido, 1h30. Na laguna testamos os fogareiros, descansamos e comemos um pouco e partimos pra cima, pois já estava tarde (quase 14h). Foi só começar a ganhar mais altura que pudemos ver uma nuvem horrível vindo em nossa direção, além de nevasca no vale ao lado. Preocupados pois ainda teríamos que descer tudo e conseguir pegar o último colectivo pra Huaraz, fomos até onde deu (mais ou menos 4800 m) e descemos pro começo da trilha. Já era mais de 17h e teríamos que correr pra pegar o último transporte, mas pra nossa sorte um caminhão de batatas estava sendo carregado bem no fim da trilha, e conseguimos descer de carona pra Huaraz. Nós, as batatas, as crianças, uns 3 cachorros, uma chola e a chuva que caiu sobre nós, no baú aberto. 
 
QUEBRADA ISHINCA
 
Tiramos alguns dias em Huaraz pra descansar e organizar a próxima saída. O clima continuava meio ruim e tínhamos uma previsão de 71 mm de chuva pro campo base num dos dias, mas mesmo assim decidimos começar a escalar pra valer. Nosso plano era tentar o Urus e Ishinca, duas montanhas de aclimatação bem fáceis. Ainda não tentaríamos o Toccla e menos ainda o Ranrapalca pois estavam com neve demais. 
 
Apesar de anti-social e resmungão, meu parceiro era bastante forte e queria subir os 17 km de aproximação pro campo base sem mulas. Concordei meio relutante, mas lá fomos nós com mochilas beirando os 30 kg e 5h de caminhada. Obviamente que ao chegar praticamente desmaiamos, mas como saímos cedo tivemos bastante tempo pra descansar. Já na madrugada seguinte saímos pro Urus em meio à nevoa densa, o que nos fez errar o começo da trilha e subir diretamente pela moraina, perdendo bastante tempo. Ao chegar na linha da neve resolvemos fazer uma variação da via normal pra ter um pouco mais de emoção, e subimos pela esquerda de um pilar, pois era mais íngreme. A neve não estava lá essas coisas mas em algumas horas chegamos ao cume. Surpresa boa é que dava pra ver que a face norte do Ranra não tinha tanta neve assim e certamente com tempo firme por mais uma semana estaria boa pra ser escalada.
 
Descemos pro acampamento base e junto conosco desceram os 71 mm de chuva e granizo. Meu parceiro estava no refúgio e eu fiquei presa na barraca por muitas horas, às vezes conversando à distância com dois esquiadores americanos que eram nossos vizinhos. Não foi de todo mal já que meu parceiro estava cada vez mais antipático e realmente cansa tentar socializar com pessoas monosilábicas que reclamam de tudo… sim, meu parceiro se revelou desses europeus que pensam que por lá tudo é perfeito e por aqui tudo é ruim. Tirei a sorte grande!
 
Enfim, nos encontramos pra jantar quando a chuva finalmente parou, e ele queria subir pro Ishinca na madrugada seguinte. Eu disse que obviamente não eraboa ideia pois teria muita neve fresca. A decisão foi acertada, pois um grupo de austríacos tentou o Urus nessa noite e estavam literalmente nadando em neve. O dia seguinte portanto foi de descanso. Na noite seguinte sim, subimos para o Ishinca, pela rota do lado direito, que é a mais longa mas passa pelo col do Ranrapalca, de onde pudemos tirar algumas fotos. A rota é bem tranquila, uma caminhada com pouquíssima inclinação e nenhuma greta, a única parte que deu um trabalhinho foi a passagem da pirâmide do cume pois havia muita neve fresca e os piolets não serviram pra nada, ou seja, era uma passagem apenas com os pés e muito escorregadia. No cume encontrei o Nacho, que foi meu guia no Equador e estava guiando dois clientes também muito simpáticos. Descemos pela via do lado esquerdo, mais curta e um pouco mais íngreme, e no final ficamos uma horinha treinando resgate em greta, comigo provando pro suíço que as estacas são confiáveis (ele não queria acreditar de jeito nenhum que funcionam pois na Europa praticamente não se usam estacas). Como eu montei o sistema de resgate muito mais rápido que ele, eu com a estaca, ele com um deadman, e o meu ficou muito mais firme, foi suficiente pra terminar a escalada bem. Ufa! 
 
Descemos pro acampamento base, arrumamos as coisas e já começamos a descida pra Pashpa, onde depois de 3h30 de caminhada demos sorte de encontrar um taxi vazio pra nos levar a Huaraz. Chegamos totalmente exaustos e descansamos mais alguns dias antes da próxima tacada.
 
OVERDOSE DE NEVE RUIM NO CHOPICALQUI
 
Chopicalqui (6345m) já foi considerado um dos 6000 m mais acessíveis da Cordilheira Branca, porém não são poucas as cordadas que não chegam no cume devido a sempre o mesmo motivo: excesso de neve. A via normal que vai pela aresta sudoeste não recebe muito sol durante o dia, e portanto a neve que se acumula demora muito mais tempo para se consolidar do que nas outras faces. Uma cordada já tinha feito cume fazia umas duas semanas, antes de alguns dias de mal tempo nas montanhas, e fomos a primeira cordada a entrar depois dessa tempestade. Consequentemente, não teríamos a via aberta e nem pegadas, mas já estávamos preparados pra isso.
 
Existe uma lei no Peru que obriga os escaladores a terem guias, mas por aqui ninguém costuma ligar muito pra isso, entretanto, neste ano logo cedo ouvimos casos de gente que foi quase barrada nos postos de controle do Parque Nacional Huascarán, ou que tiveram que assinar termos de compromisso e coisas do tipo. Por isso, saímos bem cedo de Huaráz pra tentar passar no controle de Llanganuco antes de estar aberto. Acordar às 4h da manhã valeu a pena, e entramos no parque sem problemas. Em pouco menos de 4h horas estávamos no acampamento moraina, com a tarde inteira livre pra descansar.
 
No dia seguinte atravesamos a geleira em direção ao acampamento alto, a mais ou menos 5450 m, minha noite mais alta até hoje. O começo é bem perigoso por conta da queda de pedras na parede bem ao lado de onde se entra na geleira, por isso teria sido melhor sairmos até mais cedo pra ter evitado a “corrida” bem nessa parte. De resto, o caminho é bem tranquilo, e a neve estava ruim mas não muito funda. Montamos acampamento, demos uma olhada na via e fomos dormir bem cedo.
 
Despertamos à 1h30 pra sair às 2h, já prevendo um adiantamento por conta da quantidade de neve ruim. E assim começou um dia bem duro na montanha. A rota é praticamente toda caminhada, com alguns poucos trechos mais íngremes mas que não passam de 50 graus. Desde a saída do acampamento, tivemos que abrir trilha com neve em média até o joelho. Ao chegar na primeira parte mais íngreme da via, já tivemos bastante dificuldade, pois a neve estava tão fofa que era possível colocar o braço inteiro dentro da parede. Eram 2 passos pra cima e 3 pra baixo. Passada essa parte, mais algumas horas de caminhada em neve em péssimas condições e chegamos à segunda parte íngreme, onde tivemos que cruzar 2 gretas em travessia, até chegar na parede do cume falso, onde eu notei a hora, e percebi que normalmente depois de 7h já estaríamos no cume, e ainda nos faltariam de 2 a 3 horas pra chegar ao cume. Fazendo as contas, iríamos descer pro campo alto no meio do dia, e se a neve já estava ruim, com o sol do meio dia estaria ainda pior. O suíço, obcecado comoe ra, queria seguir, porém demandei que descêssemos. Estávamos a 6015 m. Não deu outro, nas duas vezes que tivemos que montar ancoragens pra rapelar, tivemos que cavar quase 1 metro e meio de neve pra que a estaca ficasse firme, e mesmo assim no segundo rapel, ela se movia. A descida foi dura, e estávamos os dois igual aos austríacos do Urus, nadando em neve.
 
Chegando ao acampamento alto rapidamente desmontamos tudo e começamos a descida em direção ao campo base, 1200 m abaixo. Essa descida foi ainda pior, e a cada 3 passos eu enterrava a perna inteira na neve, às vezes tendo que cavar com o piolet pra poder tirar, tudo isso com o sol fortíssimo cozinhando nossa cordada. Literalmente, um inferno. Algumas horas depois estávamos no acampamento base, passando frio já que ele fica no meio de um vale, porém admirando de um lado o Chacraraju e do outro os Huascaráns.
 
ESCALADA CLÁSSICA E FISSURAS GELADAS NO HUAMASHRAJU
 
Alguns dias de descanso e algumas visitas aos bares de Huaraz renderam uma ideia bem bacana: escalar a parede de granito à esquerda fa face oeste do Huamashraju. Huamashraju, que em quechua significa “montanha do medo”, é uma pequena desconhecida de 5434 m, porém muito interessante montanha que eu já tinha escalado no ano passado pela geleira, numa via mista bem bacana. Por estar perto de Huaraz, a 1 hora de táxi, ela pode ser escalada em apenas 2 dias. 
 
Desta vez iríamos eu e Nacho, que estava de bobeira em Huaraz entre guaidas, e dois bascos super gente boa que estavam mais acostumado a escalar em rocha e tinham descido da Esfinge fazia alguns dias. Comentei com eles e mostrei algumas fotos e o interesse foi quase automático. Um dos bascos já tratou de conseguir o topo da via, e na manhã seguinte já partimos de táxi para Jancu, a vila de onde se começa a caminhada para o acampamento moraina. Depois de 3h40 e exaustos por carregar as mochilas pesadas, porém num clima muito bom de bom humor e piadinhas, chegamos ao acampamento moraina, onde os bascos cozinharam janta pra todos. Admiramos a parede por um tempo e cedinho fomos dormir.
 
Felizmente este ano tinha muito mais neve na montanha, o que tornaria a travessia da moraina bem mais curta. Saímos do acampamento perto das 4h da manhã, e por 2h horas atravessamos a moraina e depois a geleira pra chegar na base das vias. Estudamos um pouco as linhas e iniciamos a escalada, com o Nacho e o Kepa guiando as primeiras enfiadas, enquanto eu e Aitzol congelávamos na base das vias: eram 7 da manhã quando começamos a escalada, e a temperatura era de -3 centígrados! Só de pensar que teria que tirar as botas e as meias grossas pra colocar a sapata, e escalar no granito gelado sem as luvas já foi suficiente pra congelar o cérebro, ainda mais sabendo que o sol só chega nessa face depois das 11h da manhã.
 
Mas assim foi pelas 5 enfiadas da via, além de 2 enfiadas extras de travessia pois subimos por um sistema de fendas que eventualmente ficou cego e tivemos que passar pra outro sistema. A cada vez que eu tinha que dar seg eu mexia incessantemente os pés sem muito sucesso, sem sentir os dedos, passando um frio desgraçado. Porém, tudo valia a pena: as fendas eram lindas, perfeitas para colocar móvel, e a parede não era tão vertical, o que tornou a escalada – praticamente toda em móvel à exceção de algumas paradas, e quase toda em diedros – extremamente prazerosa, apesar de a parede estar um pouco escorregadia. Apesar de estar com as botas de montanha na mochila, além de água, comida e 2 estacas, portanto baste peso, foi extremamente divertido conhecer esse tipo novo de escalada e movimentação, numa rocha também nova, e a mais de 5000 m de altitude.
 
Já nas últimas enfiadas encontramos um pouco de gelo e água escorrendo, mas assim que chegamos na aresta superior. Eram já 15h e estávamos exaustos, pois a escalada tinha levado muito mais tempo que tínhamos imaginado por conta das travessias. Comemos rapidinho, recolocamos as botas de montanha e partimos pra cima da geleira pra poder acessar o ponto de rapel, onde os bascos já tinham começado a rapelar. Descemos os quatro rapidamente, e às 18h estávamos de volta ao acampamento. Apesar de o combinado ser descer nesse mesmo dia, as 13h de escalada nos fizeram decidir por descer apenas na manhã seguinte, até porque tínhamos um pouco de comida de reserva. Nada que afetasse nossa moral, estávamos super felizes com uma escalada técnica, bem característica de faces nortes europeias, com muita aventura e no final, uma conquista entre amigos. Os meninos graduaram a via em 6a+ francês, o que não é muito difícil mas dadas as condições é bem respeitável. Eu particularmente estava bem contente com o feito: o Huamash é uma montanha bem querida pra mim, e nossa escalada certamente foi o destaque deste primeiro mês na Codrilheira Blanca, ainda mais estando entre pessoas tão queridas. No final das contas, essa é uma das melhores partes de escalar: as pessoas que conhecemos, e a oportunidade de dividir com elas a mesma obssessão.
 
 
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Sobre o autor

Nômade por acaso, Cissa Carvalho nasceu em São Paulo, já morou no Alabama e na Amazônia, e atualmente reside na capital Paulista até que os ventos novamente a levem pra algum destino inusitado do planeta. Trilha desde pequena e conheceu as montanhas com vinte e poucos anos, mochilou a América do Sul, andou pelas montanhas brasileiras e nos últimos anos tem se dedicado ao montanhismo de altitude, e mais recentemente à escalada em rocha. É bacharel em design gráfico e pós-graduada em design editorial.

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