Arapongas

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Em 2012, nossa amiga Rossana Reis postou no Facebook algumas fotos de uma expedição que ela havia realizado lá para as bandas do Marco 22 na Serra da Graciosa, na companhia do Julio Fiori, Natan Fabrício e outros montanhistas bem conhecidos e que sabe-se serem muito experientes. Naquela época, embora já contássemos com várias investidas nas montanhas e morros da Serra do Mar, aquela empreitada nos parecia “coisa de gente grande”. Não era pra menos, quando vimos o calibre do time que havia se embrenhado naquelas matas com o objetivo de chegar ao Ibitira Mirim, ou Arapongas, de imediato percebemos que se quiséssemos atingir aquele cume, teríamos muito trabalho pela frente e várias incursões de reconhecimento a fim de evitar que saíssemos de lá resgatados pelo Corpo de Bombeiros. Brincadeiras à parte, sabíamos que aquele time era composto de “pesos pesados” do montanhismo, e nós, sempre acostumados a aquelas trilhas bem batidas dos PP’s e Tucuns da vida, teríamos que avançar a passos lentos por aquele emaranhado de trilhas do Marco 22, pois nessa época o GPS nos parecia um instrumento bastante antipático.

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Mas que as fotos da expedição e os relatos deste grupo mexeram conosco, isso é bem verdade. Nossa curiosidade ficou muito aguçada e como sempre fomos adeptos do montanhismo exploratório, aquele em que se vai adentrando a mata sentindo o frio na barriga (sem a comodidade de um Tracklog fornecido por algum amigo que já tenha feito a trilha), tentar repetir o feito daquela equipe nos pareceu muito tentador.  Qualquer um que já adentrou pelo Marco 22, sabe que ali o jogo é bruto, se não bastassem as ramificações das trilhas, vira e mexe cai uma árvore e quando você pensa que finalmente conhece o ambiente, se vê desorientado e sem saber pra onde ir. Isso pra não falar dos caminhos de rato aberto por caçadores e palmiteiros, que se multiplicam cada vez mais. Em nossas investidas cruzamos com eles algumas vezes.
 
Mas enfim, no final de 2013, começamos a adentrar a mata pelo “22”, com o intuito de tentar chegar ao Arapongas. Nem ao menos conhecíamos a trilha que leva à Cachoeira da Santa, fomos mesmo com a cara e a coragem, munidos apenas de um singelo mapa daqueles que parecem ser gerados no Trackmacker, que salvamos entre as fotos da expedição de nossos inspiradores. Na primeira tentativa, chegamos sem querer às Cachoeiras Gêmeas. Sem motivos para frustração, pois havíamos nos deparado com uma bifurcação na trilha e tínhamos que escolher um lado. Enfim, nada mal chegar a este reduto que até então era razoavelmente intocado. Cinco meses se passaram e nova tentativa, seguimos agora pelo outro ramo da bifurcação. Chegamos então ao famoso “rancho”, o acampamento de caçadores, que não fica a mais de uns 15 minutos da Estrada da Graciosa. Seguindo em frente, saímos em algum ponto da estrada novamente, chegando à constatação cruel de que havíamos andado em círculos. Certamente teríamos cortado os pulsos de tanto desgosto, se na mesma semana não tivéssemos lido o relato de outro grupo que havia passado nestas paragens e cometido o mesmo erro, em busca de outro morro pouco visitado na região, o Chapéu de Sol. Curiosamente, como fruto de nossas investidas por aquelas trilhas, chegamos também ao Chapéu de Sol, pois quando passamos pelo rancho novamente nossa curiosidade foi aguçada e empreendemos algum esforço em busca deste outro cume igualmente pouco visitado. Mas essa é outra história…
 
Teimosos que somos, nesse mesmo dia em que andamos em círculo fomos percorrendo ramificações diversas da trilha, até que “engrenamos” no rumo certo, chegando ao fundo de vale por onde corre o Rio Mãe Catira. Mas o avançado da hora cobrava seu preço, e no nosso grupo, segurança sempre veio em primeiro lugar. Como éramos marinheiros de primeira viagem naquelas bandas, mais ou menos às 14h00 decidimos voltar, pois enfrentar aquelas trilhas à noite quando ainda não as conhece bem, é no mínimo pouco saudável. Com dor no coração “abortamos a missão” numa posição em que o terreno subia, após termos cruzado um rio, por cima de um generoso tronco caído. Em nossa inocência achávamos que já estávamos mais perto de alcançar nosso objetivo. E assim fomos fazendo incursões, sempre tentando avançar em direção ao Arapongas, guiados por bússola Suunto e Silva. Nesta época o GPS já não nos parecia tão antipático, ao contrário, começava a se mostrar útil e com ele começamos a mapear, pelo Google Earth a posição final que chegávamos ao final do dia de trabalho de cada incursão de reconhecimento. Tentávamos achar informações sobre o Arapongas, mas curiosamente a Internet não se mostrava generosa, fornecendo apenas uns poucos links. Se por um lado o mundo virtual às vezes é ingrato ao sonegar informações, as redes sociais favorecem a troca de conhecimento. Nessa época, via Facebook, começamos a interagir com o Mildo, um montanhista de respeito, o qual muito nos ajudou com informações sobre a trilha para a Cachoeira da Santa. Passamos vários meses investigando as adjacências das primeiras curvas de nível do Arapongas, sempre avançando pela mata em vez de continuar em frente pela trilha principal. Insistíamos em manter a navegação pelo azimute, tentando ir na direção ao cume pelo meio da mata, mas evitávamos ir pela cachoeira, com o intuito de não ter que passar pela região do Dique de Diabásio, onde inevitavelmente molharíamos os pés. Após cinco incursões, nas quais sempre avançávamos lentamente procurando a melhor rota, ao mesmo tempo que tentávamos manter constante o azimute, começávamos a aventar a hipótese de ir pela Cachoeira da Santa. Outro fator que foi decisivo para pensarmos em mudar de rota, foi o fato de que nestas investidas iniciais batemos de frente com uma porção bem vertical no terreno, a qual empreendemos razoável esforço para transpor, constatando que deveríamos descer em direção a um vale de mata extremamente fechada se quiséssemos manter nossa proa. Pelo Google Earth, constatamos que esta porção do terreno era na verdade uma espécie de “dobra” no terreno, que na verdade se estende até o Dique de Diabásio. Nesta época, estávamos envolvidos com outras atividades também relacionadas à montanhismo, e tivemos que “parar a obra” por mais de um ano.  Em maio de 2015, retornamos ao trabalho e  fizemos nossa última incursão pela mata, pois nosso mapeamento no Google Earth mostrava que o avanço pelo meio da densa vegetação, tentando manter um azimute em direção à montanha, não passava de mera teimosia. O caminho natural e mais fácil, era mesmo pela região da cachoeira. Aqui reconhecemos o esforço das pessoas que abriram a trilha até a Cachoeira da Santa. Sem essa rota, incursões ao Arapongas seriam extremamente difíceis. 
 
Mas vamos com calma, que para chegar no alto do nosso objetivo, ainda tem muito sofrimento. Uma coisa é chegar na cachoeira, que está praticamente no pé da montanha, a outra é começar a subi-la. Diante da já mencionada escassez de material na Internet, fizemos a coisa à moda antiga. Lembramo-nos da antiga coluna “Da Montanha”, que era publicada na Gazeta do Povo. Com a gentileza que lhe é peculiar, o venerando Nelson Alves Penteado, prontamente nos disponibilizou algumas cópias de artigos que mencionavam as anteriores investidas ao Arapongas. Claro que não foi surpresa ver que os artigos foram escritos pelo lendário Henrique Paulo  Schmidlin. Sempre nos orgulhamos de sermos montanhistas à moda antiga, daquele tipo mateiro. Pedir um Tracklog para quem quer que fosse, estava fora de questão. Seria uma afronta aos nossos princípios, senão à nossa própria virilidade. E convenhamos, já que mencionamos estes dois gigantes do montanhismo e nos valemos do conhecimento deles, o uso de um Tracklog pronto, seria quase um motivo de desonra. Como cientistas que somos, discutimos logo uma espécie de “algorítimo” que nos permitisse vencer aquela montanha que há meses nos desafiava. Mas, como a Física (nosso ganha pão nas horas em que não estamos embrenhados na mata) nos mostra sempre, uma coisa é a teoria, a outra é a experimentação. É certo que nosso algorítimo matemático previa uma rota mais curta para o cume, mas não necessariamente a menos exaustiva. Nesse ponto, devemos confessar que uma coisa que nos preocupava era e existência de três paredões, a serem vencidos, conforme indicavam nossas pesquisas. Mas, felizmente a rota projetada evitou escaladas verticais. Em alguns trechos, é certo que houve escalaminhada forte, longa e bem cansativa. Em um determinado ponto deixamos até um pequeno pedaço de corda num barranco, para facilitar incursões futuras. Rumando em direção ao cume, fomos contagiados por uma grande alegria ao começarmos a ouvir o barulho de água corrente, pois o nosso mapa indicava um curso d'água nas proximidades do cume. Mas ainda era cedo para comemorar. Tínhamos a ilusão de que próximo ao cume, a vegetação seria menos densa, mas a rota projetada nos fez transpor um verdadeiro mar de pequenos arvoredos retorcidos, caraguatás e toda a sorte de quiçaça que se pode imaginar. Em um determinado ponto, já nas proximidades do cume, tivemos que vencer um paredão de porte razoável, mas que se pode escalar com boa dose de segurança. Vencido este obstáculo, nos deparamos ainda com um terreno bastante acidentado, cheio de fendas e daquele delicioso terreno coberto de folhas que todo montanhista que se preza conhece, o qual gera todo tipo de desconforto a cada passo, pois nunca se sabe se as folhas estão assentadas sobre raízes emaranhadas que encobrem uma fenda ou sobre o solo firme. Desde que decidimos ir pela trilha que conduz à Cachoeira da Santa, tivemos que fazer ainda seis incursões até chegarmos ao cume, o qual só foi atingido em janeiro de 2016. Aqui, é necessário fazermos um aparte. Um queria fazer incursões de reconhecimento à bate e volta, o outro queria fazer com acampamento para que se ganhasse mais terreno a cada investida. Uma amizade de mais de dezessete anos e um relacionamento Ex-Professor/Aluno não deve ser abalada por pequenas divergências e optamos por fazer à moda bate e volta. Não se pode negar que houve momentos de discordâncias nas investidas, chegando ao ponto em que até o recheio do sanduíche de um incomodava o outro. Mas certamente o antagonismo é necessário e até construtivo para impulsionar uma expedição deste tipo. Inciamos as expedições em direção ao Arapongas motivados pelo modesto desejo de conhecer uma montanha nova, mas no desenrolar de nossas pesquisas acerca das possíveis rotas que nos conduziriam até ela, nos deparamos com uma história que mencionava a existência de um enigma na caixa de cume que fora instalada lá décadas atrás. Infelizmente não encontramos a caixa de cume original, e não se tem notícia do paredeiro dela. Em expedição anterior, realizada em 2006, foi deixado no cume um novo marco, conhecido como Sr Wilson, o qual também não encontramos por termos seguido rota diferente do grupo que perpetrou a empreitada. Assim o Wilson passou a ser o novo objeto que nos motivaria.
 
Passados três meses, fomos acometidos daquele comichão de voltar lá. E o universo conspira a favor das grandes empreitadas, senão das grandes “indiadas” como diria um novo personagem em nossa história. Ambos sempre fomos fãs de carteirinha do Fiori, sempre lemos seus relatos e desta leitura chegam até a brotar grandes inspirações. E até digamos, curiosidades sobre seres mitológicos mencionados em seus relatos de montanha também surgem… Mas isso também é outra história. A coincidência veio num supermercado, quando num encontro com o Farofa e uma breve conversa sobre a caixa de cume original desaparecida, surgiu o nome deste ilustre personagem do nosso montanhismo como referência para as informações que necessitávamos. Pra engrossar ainda mais o angu, quis a coincidência que encontrássemos o Vitamina no CPM um dia desses. Trocamos nossos e-mails e o Vita inventa de repassar alguns links nossos pro Fiori. Daqui pra frente, nos desculpem o palavreado, mas está feita a cagada. Trocamos uns e-mails e em uma semana, lá estávamos juntando a fome com a vontade de comer. Manobramos a situação aqui e ali e bola pro mato que o jogo é de campeonato. Pra ferver ainda mais o tacho, o Fiori convida seus amigos Paulo Marinho e Moisés Lima, outros dois que todos sabem serem gigantes do montanhismo. Cacete, deu até um frio na barriga. “Será que conseguimos acompanhar esses caras”, pensamos… Detalhes acertados, um início de semana com previsão de tempo não muito promissora, no sábado, dia semanal internacional da subida em montanha nos encontramos lá nas proximidades do sítio do Espáia Brasa. Estrategicamente, o Moisés deixou sua picape lá no Recanto Engenheiro Lacerda. Decisão providencial, pois no final do dia, quando voltássemos no bagaço, isso encurtaria nossa pernada em cerca de 800 metros. Sem muitas delongas, nos lançamos rumo à Cachoeira da Santa, para cumprir a primeira parte de nossa jornada. Nossos novos parceiros até parecem irmãos gêmeos, daqueles separados cirurgicamente no ato do nascimento. Durante toda a trilha não se largam e vão trocando insultos. Depois o Paulo nos revelou que já fazem trilha juntos há cerca de 20 anos. Chegando ao fundo do vale, por onde corre o Rio Mãe Catira, o Paulo relembra suas expedições anuais para fotografar os lírios que florescem lá em determinada época do ano. Realmente um espetáculo da natureza. Lá vamos nós pela trilha, quando depois de atravessarmos um córrego o Paulo nos alerta que tínhamos passado por cima de uma jararaca. Novo frio na barriga, veio à mente a lembrança de uma foto que vimos em certa ocasião na qual o Moisés segurava uma jararaca nas mãos. E vai que ele inventa de fazer isso de novo? Bem, não vamos ficar pra saber, o Paulo e o Moisés ficaram pra trás tirando fotos do simpático ofídio. Logo em seguida surgiram no nosso encalço e felizmente ninguém havia se machucado. 
 
No alto da cachoeira, parada para descanso, coleta de água, lanche rápido e as tradicionais trocas de sutilezas de nossos novos companheiros. Bem, agora é que vem o problema, é daqui pra frente que a subida pega forte. É curioso como a gente sempre se esquece como foi a subida anterior, mesmo em um curto intervalo de tempo de três meses. Se por um lado tínhamos escapado dos trechos mais verticais da montanha, as escalaminhadas longas cobravam seu preço. 
 
A partir aqui, já julgávamos estar bastante entrosados com os novos parceiros, quando pedimos ao Fiori para nos satisfazer a nossa já mencionada “curiosidade mitológica” originada em um dos seus diversos textos. Mas ainda era cedo, ele nos disse que ao final do dia, quando finalmente chegássemos aos carros, este mistério, tão grande quando o original enigma do Arapongas nos seria revelado. Fazer o que, o negócio é continuar a longa subida pelas intermináveis pirambeiras que se alternavam com pequenos trechos de terreno plano ou com inclinação mais suave. Finalmente chegamos a uma região de vegetação aberta, a uns 500 metros do cume. Pausa para fotos e para contemplar o Morro do Sete e o Chapéu de Sol. Também mencionamos o fato de que nesta posição foi tirada uma foto pelo grupo de uma das primeiras expedições, que está em um dos artigos da Gazetinha, que o Farofa nos passou. Pensamos em fazer uma foto igual para a posteridade, mas até tirar tripé da mochila, montar câmera, ajustar temporizador e tudo o mais, nos desanimamos com a ideia, pois queríamos mesmo chegar ao cume. E pra falar a verdade, nossa subida estava mais lenta do que havíamos programado, pois havíamos de considerar que estávamos de bate e volta novamente e não podíamos nos delongar muito. Sem muita demora, chegamos novamente ao córrego, já a uns 300 metros do cume. Um longo descanso e intervalo para nos alimentarmos e reidratarmos. Ocorre que estas últimas centenas de metros são bastante exigentes, pois percorre uma porção em que a vegetação é bastante densa, o que sempre exige considerável esforço para a transposição. E também nas proximidades do cume, temos que enfrentar novamente o único paredão que não conseguimos evitar pela rota que fizéramos na incursão anterior. Nos vem à lembrança que em 2002 houve acidente naquela localidade e que demandou resgate por parte do Corpo de Bombeiros. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, por isso vamos com todo cuidado nessa parte. Transposto o paredão, a subida agora é leve, embora a vegetação seja densa e a caixa de cume não demora a ser localizada. Faltava ainda o Wilson, a lendária garrafa pet que nossos agora parceiros haviam deixado lá em sua expedição em 2006 e que para nossos propósitos marca oficialmente a posição do cume. O Fiori, com a sutileza de um trator mandou a real: sinto informar que aqui não é o cume. Momento de desânimo total para nós. De imediato pensamos em termos de centenas de metros de diferença. Surge até o inevitável pavor da hipótese de estarmos no cume errado. Tranquilamente o Fiori se levanta e começa a procurar. Nessas alturas do campeonato, já tínhamos arrancado a caixa de cume para levarmos conosco até a nova posição. Inevitavelmente nos veio à lembrança as três vezes que carregamos a caixa na mochila e levamos de volta para casa nas incursões de reconhecimento. Para nossa surpresa, após uns poucos passos o Fiori grita que encontrou o Wilson. Estava a menos de dez metros de onde havíamos deixado a caixa de cume na incursão anterior. Para o Fiori e o Paulo houve uma surpresa, o Wilson estava sem seu óculos. Toda sorte de hipótese surge nesse momento, desde furto até a ação do vento. Convenhamos, ninguém vai subir lá no meio do nada só para roubar um óculos velho. Começamos a remexer as folhas no chão em busca do óculos mas não encontramos. Ficamos também intrigados em saber como a garrafa estava cheia de líquido, uma vez que as garrafas pet normalmente são bem vedadas com suas tampinhas. Chegamos a cogitar que o Fiori havia feito xixi dentro dela e deixado para as gerações futuras de montanhistas que ousassem escalaminhar pelas encostas do Arapongas. Mas este enigma era de mais fácil resolução, pois o nariz do Wilson é uma vela, que se encaixa em um orifício na garrafa o qual deixa a água permear para dentro. 
 
Nessas alturas, já nos considerávamos dignos de sermos oficialmente considerados parceiros desse animado trio e praticamente exigimos que nossa curiosidade mitológica fosse saciada. Curiosidade acerca de um relato escrito pelo nosso amigo satisfeita, o velho enigma do Arapongas pairando no ar… receita para um novo enigma! Mantendo a tradição, somente quem atingir o cume terá o privilégio desta informação. Só que desta vez, não adianta galgar ao cume do Arapongas, no melhor estilo das confrarias e sociedades secretas convencionamos que somente quem for lá conosco terá acesso a tão importante informação. Para selar o pacto, só faltou mesmo pegarmos nossas facas e canivetes e cortarmos os dedos para selar com sangue. O duro vai ser convencer os cinco a voltarem lá tão cedo. A conversa está muito boa lá em cima, mas como mencionamos, nossa programação original já havia furado. Agora por questão de segurança, queríamos chegar na Cachoeira da Santa ainda com luz do dia, embora a navegação fosse segura por existirem no grupo dois GPS. Iniciamos a sessão de fotos: individuais, em grupo, em subgrupos, por afinidade com times de futebol, etc. Iniciamos a descida, a qual foi feita em tempo recorde em relação à investida anterior e às incursões de reconhecimento. A façanha foi perpetrada por conta de deixarmos o Moisés ditar o ritmo, o qual desceu encosta abaixo feito um bólide como diriam os antigos. Ainda com luz do dia chegamos à cachoeira, onde nos recompusemos, pois ainda havia o longo trecho até o Marco 22. E quem já andou por lá, sabe que o trecho final, quando se incia a subida até a Estrada da Graciosa é interminável, parecendo mesmo ser amplificado em função do cansaço. Agora era percorrer a trilha por partes. A última parte é um trecho de pouco mais de um quilômetro após cruzar um rio que conflui para o Mãe Catira. E é o trecho em que a altimetria se revela mais cruel, conforme registram os GPS. Neste pedaço da trilha, ocorreram toda a sorte de situações adversas. Mauro e Moisés andando mais rápido que outros, até com o intuito de ir pegar o carro do Moisés para facilitar a vida dos demais no deslocamento do Marco 22 até o Espáia Brasa, o Paulo Marinho que pensava ter perdido o GPS voltando cerca de 300 metros na trilha até se dar conta que estava pendurado na alça da mochila, uma jararaca das grandes atravessada na trilha, sem pressa de nos deixar passar e por aí vai. Isso pra não mencionar que devido ao fato de termos nos distanciado em subgrupos, Mauro e Moises foram por um ramo da trilha, enquanto os demais foram por outro. Mas todos com razoável experiência em trilhas, logo nos encontramos no Marco para nos amontoarmos na caçamba da picape do Moisés para finalmente irmos até o Espáia Brasa. Bem, não vamos dourar a pílula, quando finalmente encerramos as atividades, já era cerca de 22h30min, mais de quinze horas após iniciarmos. 
 
Essa segunda expedição foi repleta de satisfação, a começar pelos novos amigos que fizemos. O verdadeiro desafio foi chegar a primeira vez ao cume sem nos valermos excessivamente de artifícios tecnológicos, à moda de um “montanhismo exploratório”, meio esquecido ultimamente por conta do advento do GPS. Acreditamos que esta modalidade de montanhismo é uma forma de homenagear aqueles que outrora abriram caminhos em nossa estimada Serra do Mar, quando o montanhismo não era condicionado ao glamour de grifes e não se necessitava de equipamentos caros para se aventurar. Esta satisfação só é igualada àquela de ter o privilégio de se aventurar com aqueles que anteriormente percorreram o mesmo caminho escolhido.
 
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