por Rodrigo Granzotto Peron
As catorze montanhas de 8000 metros
Um dos desafios mais incríveis e interessantes do alpinismo extremo é a conquista das 14 montanhas de mais de 8000 metros, todas situadas no Nepal, China, Paquistão e Índia. São elas:
Everest (Nepal/China) (8850 metros) (Himalaia)
K2 (Paquistão/China) (8611 metros) (Karakoram)
Kangchenjunga (Nepal/Índia) (8586 metros) (Himalaia)
Lhotse (Nepal/China) (8511 metros) (Himalaia)
Makalu (Nepal/China) (8485 metros) (Himalaia)
Cho Oyu (Nepal/China) (8188 metros) (Himalaia)
Dhaulagiri I (Nepal) (8167 metros) (Himalaia)
Manaslu (Nepal) (8163 metros) (Himalaia)
Nanga Parbat (Paquistão) (8125 metros) (Himalaia)
Annapurna I (Nepal) (8091 metros) (Himalaia)
Gasherbrum I (Paquistão/China) (8080 metros) (Karakoram)
Broad Peak (Paquistão/China) (8051 metros) (Karakoram)
Gasherbrum II (Paquistão/China) (8035 metros) (Karakoram)
Shishapangma (China) (8027 metros) (Himalaia)
Breve Histórico
No início, culminar um 8000 era a máxima realização em alpinismo extremo, que levava o alpinista imediatamente ao olimpo do montanhismo internacional. Assim é que Maurice Herzog e Louis Lachenal, as primeiras pessoas a culminar um 8000, tornaram-se instantaneamente lendas vivas por toda a Europa. Naqueles tempos, culminar vários 8000 estava fora de questão, pela dificuldade e pelo custo dessas expedições.
Passados vinte e cinco anos, o mítico Reinhold Messner culminou o Gasherbrum I e tornou-se o primeiro alpinista com três 8000 no currículo, uma façanha monumental para a época. Na sequência, ele foi batendo recorde atrás de recorde, até sagrar-se o primeiro montanhista a culminar todos os oitomil, em 1986.
Duelando com ele, concluiu a saga no ano seguinte Jerzy Kukuczka, em metade do tempo levado pelo italiano. Essas conquistas inaugurais abriram as portas para as gerações seguintes.
Os tempos mudaram, e atualmente está bem mais fácil e acessível circular por esse circuito de montanhas, o que é facilmente comprovado pela monumental quantidade de alpinistas angariando cumes atrás de cumes.
Essa é a presente lista dos alpinistas que culminaram todas os oitomil:
01 – 1986 – Reinhold Messner (ITA) *
02 – 1987 – Jerzy Kukuczka (POL)
03 – 1995 – Erhard Loretan (SUI) *
04 – 1996 – Carlos Carsolio (MEX)
05 – 1996 – Krzysztof Wielicki (POL)
06 – 1999 – Juanito Oiarzabal (ESP) *
07 – 2000 – Sergio Martini (ITA)
08 – 2001 – Park Young-Seok (C-S)
09 – 2011 – Um Hong-Gil (C-S)
10 – 2002 – Alberto Iñurrategi (ESP) *
11 – 2003 – Han Wang-Young (C-S)
12 – 2005 – Ed Viesturs (EUA) *
13 – 2007 – Silvio Mondinelli (ITA) *
14 – 2008 – Ivan Vallejo (ECU) *
15 – 2009 – Denis Urubko (KAZ) *
16 – 2009 – Ralf Dujmovits (ALE)
17 – 2009 – Veikka Gustafsson (FIN) *
18 – 2009 – Andrew Lock (AUS)
19 – 2010 – João Garcia (POR) *
20 – 2010 – Piotr Pustelnik (POL)
21 – 2010 – Oh Eun-Sun (C-S)
22 – 2010 – Edurne Pasaban (ESP)
23 – 2011 – Abele Blanc (ITA)
24 – 2011 – Kim Jae-Soo (C-S)
25 – 2011 – Mingma I Sherpa (NEP)
26 – 2011 – Gerlinde Kaltenbrunner (AUT) *
27 – 2011 – Maxut Zhumayev (KAZ) *
28 – 2011 – Vassili Pivtsov (KAZ)
29 – 2012 – Mario Panzeri (ITA) *
30 – 2012 – Hirotaka Takeuchi (JAP)
31 – 2013 – Chhang Dawa Sherpa (NEP)
32 – 2013 – Kim Chang-Ho (C-S) *
33 – 2014 – Radek Jaros (CZE) *
* – alpinistas que completaram as 14 sem oxigênio engarrafado
Deve-se ressaltar que alguns alpinistas alegam ter feito as 14, mas algumas de suas conquistas não são aceitas. É o caso de: Fausto de Stefani [não comprovou o Lhotse], Vladislav Terzyul [não comprovou Makalu e Shishapangma], Alan Hinkes [não comprovou o Cho Oyu], Bianba Zhaxi [não comprovou o Broad Peak], Cering Doje [não comprovou o Broad Peak], Lodue [não comprovou o Broad Peak] e Jorge Egocheaga Rodriguez [parou a 12 metros do cume do K2].
Quem Será o Próximo Alpinista a Entrar para a Lista?
É impossível prever com exatidão quais serão os alpinistas que entrarão para a lista acima nos próximos meses. Mas é possível – e divertido – apontar quais têm as maiores possibilidades de concluir os 14 oitomil.
Num exercício de futurologia, minhas apostas para este ano e a primavera de 2017:
34 – 2016 – Azim Gheychisaz (IRÃ) [primavera 2016][Lhotse]
35 – 2016 – Oscar Cadiach (ESP) [verão 2016] [Broad Peak]
36 – 2016 – Kim Mi-Gon (C-S) [verão 2016] [Nanga Parbat]
37 – 2017 – Nives Meroi (ITA) [primavera 2017][Annapurna]
38 – 2017 – Romanto Benet (ITA) [primavera 2017][Annapurna]
39 – 2017 – Peter Hamor (SLK) [primavera 2017][Dhaulagiri]
A primeira aposta é Azim Gheychisaz, que está no Nepal para tentar o Lhotse na presente temporada. Considerando as qualidades do iraniano e que o Lhotse não é particularmente difícil, é possível antever que Azim concluirá os 14 ainda nesta semana (a janela dos dias 18 a 20 de maio parece promissora para isso).
No verão, temporada do Karakoram, dois alpinistas estarão em condições de fechar o lote: Kim Mi-Gon e Oscar Cadiach. Minha aposta é a de que Oscar Cadiach concluirá a saga primeiro, pois o Broad Peak é menos desafiador e cansativo do que o Nanga Parbat.
Se tudo der certo, na primavera de 2017 outros três alpinistas estarão em condições de entrar para a lista. O simpático casal italiano Nives Meroi e Romano Benet precisa apenas do Annapurna, ao passo que o top climber Peter Hamor tem que escalar o Dhaulagiri. Como a temporada do Annapurna é normalmente anterior à do Dhaulagiri, os italianos devem culminar antes (em abril) e o eslovaco depois (em maio).
Mas, e o Carlos Soria? O espanhol acabou de conquistar o Annapurna (seu 12º 8000) e está tentando atualmente o Dhaulagiri. Se culminá-lo, a última etapa de sua saga é o Shishapangma, no outono de 2016. Tudo ocorrendo de acordo, ele poderia muito bem terminar o ano em 37º da lista. Todavia, alguns fatores precisam ser ponderados. Carlos Soria tem quase oitenta anos, o que torna os esforços acima dos 8000 metros muito mais impactantes. Além disso, o Dhaulagiri é a pedra no sapato do espanhol, tentada várias vezes antes, sem cume. O próprio Carlos Soria admitiu para o site Desnivel que suas chances não são elevadas. O mais provável é que ele culmine o Shishapangma no outono e conclua a aventura em 2017, no Dhaulagiri (em 40º na lista).
E o Ferrán Latorre? Ele tem pela frente o Makalu, nesta primavera, o Nanga Parbat e o Everest. Se ele conseguir se encaixar em todas as temporadas, pode terminar em maio do ano que vem, no Everest, em 39º na lista. Ainda assim, o mais provável é que ele só termine depois disso.
Autor: Rodrigo Granzotto Peron
Finalização do texto: 17-5-2016