Tragédia e esperança na temporada do Himalaia 2017

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Atualização dos principais fatos da temporada de pré monção de escaladas no Himalaia 2017

por Rodrigo Granzotto Peron
 
POLÊMICA NO CHO OYU
 
1) Será que Kilian Jornet fez cume na montanha?
 
Muitos sites noticiaram que Kilian Jornet (ESP) fez cume no Cho Oyu em 9 de maio.
 
De fato, ele saiu do C1 (6400m) a 1 da madrugada, teria chegado ao “cume” às 3 da tarde (em 14 horas, portanto) e retornou ao C1, chegando as 6 da tarde.
 
Todavia, nevava e a visibilidade era praticamente nenhuma, assim ele não apresentou qualquer prova do cume (não há testemunhas, fotos, vídeos, registros de GPS etc.). 
 
No alpinismo de alta altitude, como todos sabem, não basta dizer que se fez cume, tem que provar.
 
O próprio alpinista, para o site Desnivel, explicou que “em algum momento cheguei a um ponto que me pareceu ser o cume. Honestamente, não estão seguro, pois só conseguia enxergar meus pés”.
 
Dessa forma, para efeitos estatísticos e históricos, esse “cume” não é válido. A situação de Kilian é a mesma do alpinista britânico Alan Hinkes, que não trouxe provas de seu “cume” nessa mesma montanha em 1990 e, por isso, até hoje não integra as listas daqueles que fizeram todos os 14 oitomil.
 
TRAGÉDIAS E EXPEDIÇÕES FRUSTRADAS
 
2) Morte de Ueli Steck
 
Como acontece todos os anos, alguns dos planos das expedições mais ousadas do Himalaia acabam frustrados antes mesmo de iniciarem.
 
Assim é que a tentativa de travessia Everest-Lhotse naufragou pela morte de Ueli Steck, a renomada “Máquina Suíça”, que despencou para a morte nas encostas do Nuptse (7806m), na fase de aclimatação. Alguns veículos de comunicação assinalaram que o acidente pode ter ocorrido por negligência e excesso de confiança do próprio alpinista, que, dias antes da tragédia, foi flagrado com prosaicos tênis de corrida alpina em um dos estirões de aclimatação. Equipamento, digamos, no mínimo, ousado e sujeito a “deslizes”. Deixou uma lacuna no alpinismo de vanguarda de alta altitude e um currículo maravilhoso.
 
3) Morte de Min Bahadur Shershan
 
Infelizmente também acabou mal a tentativa de bater o recorde de idade no Everest quando o simpático senhor nepalês Min Bahadur Shershan, que faria 86 anos de idade no próximo dia 20 de junho, sofreu ataque cardíaco e veio à óbito. Segundo algumas fontes, a combinação de ar rarefeito, idade avançada e esforço físico acima do normal pode ter contribuído para o passamento. O recorde continua nas mãos de Yuichiro Miúra (JAP), que culminou aos 80 anos em 2013.
 
4) Mudança de planos no Cho Oyu
 
No Cho Oyu, o quarteto de top climbers Adam Bielecki (POL), Rick Allen (UK), Felix Berg (ALE) e Louis Rousseau (CAN) buscava uma façanha impressionante no Cho Oyu: escalar a “oculta” Face Norte, descomunalmente vertical e perigosa. Por problemas com o visto, tiveram infelizmente que abandonar a tentativa.
 
ALGUMAS ATIVIDADES DE DESTAQUE ATÉ O MOMENTO
 
5) Everest – Problema na fixação das cordas
 
Antigamente, quando o processo de fixação das cordas ficava a cargo da Himex, a instalação terminava bem cedo (normalmente no final de abril). Nos últimos anos, contudo, o grupo de sherpas multi-times tem terminado o trabalho bem mais tarde, ocasionando problemas.
 
Ano passado, como vocês podem recordar, a finalização da instalação das cordas na Rota Nepalesa terminou somente em 11 de maio, bem tarde, o que acarretou um “estouro da boiada” e engarrafamentos.
 
Estamos em 10 de maio este ano, e de novo o procedimento não está completo. Com mais de 600 pessoas esperando para atacar o cume, provavelmente os problemas de 2016 se repetirão.
 
6) Annapurna – Ataque ao cume em andamento
 
Os times espanhol e italiano no Annapurna uniram as forças e, após escalada difícil com muita neve na rota, chegaram no fim do dia ao último acampamento (C4) e estão prontos para o ataque ao cume.
 
Assim, na madrugada de hoje (10 de maio) para amanhã (11 de maio), Nives Meroi (ITA), Romano Benet (ITA), Alberto Zerain (ESP) e Jonatan García (ESP) estarão se lançando ao cimo.
 
Para o querido casal Nives Meroi e Romano Benet, poderá ser o final de suas sagas, concluindo todos os 14 oitomil sem oxigênio engarrafado. Após os graves problemas de saúde com Romano, a conclusão terá um sabor todo especial para eles, que escalam sempre low profile, com orçamento reduzido e sem muita estrutura. Um alpinismo limpo e “das antigas”. Além de tudo, Nives Meroi será a segunda mulher a completar todos os 14 oitomil sem oxigênio engarrafado.
 
Por sua vez, Zerain poderá chegar ao seu 10º cume, ao passo que García está em sua primeira experiência nos 8000.
 
Vamos ficar ligados.
 
7) Dhaulagiri – primeiros cumes da temporada
 
No Dhaulagiri, em 30 de abril, os primeiros cumes da temporada:
 
Mingma Gyalje Sherpa (NEP) – 9º cume 8000 diferente
Liu Young-Zhong (CHIN) – 9º cume 8000
Ms Dong Hong-Juan (CHIN) – 6º cume 8000
Nga Tashi Sherpa (NEP)
Lhakpa Nuru Sherpa (NEP)
 
Outros alpinistas que estavam tentando o cume na janela de bom tempo optaram por retroceder, entre eles Carlos Soria (ESP), aos 70 anos (e em sua sétima! Tentativa no DH).
 
por Rodrigo Granzotto Peron
texto finalizado em 10.05.2017
 
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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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