Carretera Austral: De Chaitén à Santa Lúcia

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Acompanhe os relatos de Aline Souza em sua cicloviagem pela Carretera Austral desde o começo:

Carretera Austral de Bike

Dia 7 – 29/12/2018

  • Trajeto: de Chaitén à Santa Lúcia
  • Distância: 76km
  • Acumulado de subidas: 809m
  • Acumulado de descidas: 589m
  • Terreno: asfalto e rípio (1%)

Choveu torrencialmente a noite toda. Não conseguia dormir, a casa era de madeira, o barulho da chuva e do vento eram assustadores. Levantei algumas vezes para espiar na janela, queria rever certeza de que o mundo não estava acabando lá fora. Além disso, ficava pensando no que faríamos no dia seguinte. Como iria pedalar no dia seguinte com esse tempo?

Acordamos, preparamos nosso café e comemos vagarosamente, cereal e panetone.

Ajeitamos nossas coisas sem pressa. Nenhum dos dois queria encarar aquela chuva e frio. Decidi sair de bermuda, para não molhar minha calça (lembrando que só tenho 1 calça e 1 bermuda para pedalar), usei uma blusa térmica. Para finalizar, coloquei meu poncho, e numa brecha da chuva, decidimos seguir nosso rumo.

Chovia, mas era pouco, não estava tão ruim assim. Pedalando e com o poncho por cima dava para se manter aquecida.

Nos quilômetros iniciais já me deslumbrei, eram tantas cachoeiras descendo das enormes montanhas que era difícil não parar para apreciar. Por outro lado, as paradas te esfriam é muito difícil utilizar as câmeras, adequadamente protegidas para que não se molhem.

Minha estratégia foi passar bem devagarinho, apreciando ao máximo.

Seguimos por quase 30km de asfalto sem subidas muito fortes até a entrada das Termas Amarillo. Da entrada até as Termas seriam 18km de rípio, nem cogitamos visita-las. O local de entrada era bem bonito, paramos um pouco para comer algo.

Saindo dali voltou a chover um pouco mais. Relutei um pouco em colocar meu poncho. Mas fui obrigada, chovia torrencialmente. Ao colocar o poncho olhei para o chão e vi muitas pedrinhas, sim, estava chovendo pedra.

Segui devagar debaixo da chuva torrencial, não havia o que fazer, nenhum local para se abrigar, certamente parar seria pior.

Quando parou um pouco eu e Julien rimos da situação. Choveu pedra mesmo?

Seguimos por muitos quilômetros entre o chove e não chove. Tirávamos o poncho quando esquentava demais … colocávamos o poncho quando voltava a chover demais.

Seguimos nosso caminho. Sabíamos que neste dia teríamos uma grande subida, até 600m, e, a partir dali descida até Santa Lúcia.

Voltou a chover forte no início da subida. Ok, poncho mais uma vez.

A subida era linda e forte. O fato de não ter dormido no dia anterior pegou um pouco. Me senti cansada. Segui subindo num ritmo lento.

Depois de um longo tempo, e esforço, chegamos ao topo. A partir dali teríamos muita decida. Estava muito frio e eu, completamente encharcada, já estava sentindo congelando.

Mesmo exausta, nem cogitei parar, só queria chegar logo. No início da descida uma destruição se apresentou para meus olhos curiosos. Uma área giganteeee devastada com um riozinho passando no meio. Ficava tentando entender o que era aquilo. Parei rapidamente para uma foto.

Descemos muito e meus pés e mãos molhados simplesmente congelaram, não os sentia mais. Tinha muita vontade de parar, mas sabia que não podia, seria ainda pior. Então segui, concentrada.

Chegando lá embaixo encontramos um lugar coberto e eu pedi ao Julien que assumisse a busca de um local para ficarmos, simplesmente não conseguia raciocinar. Chegaram duas meninas de mochilão neste mesmo local coberto. Me olharam e perguntaram: você está bem? Fiz sinal que não … e nisso as lágrimas começaram a escorrer. Estava nervosa e assustada. Assustei também as meninas. Consegui falar que estava congelando. Elas chegaram perto, tiraram minhas luvas, e cada uma ficou aquecendo uma das minhas mãos. Anjos da Carretera. Rapidamente me senti melhor.

Julien voltou sem conseguir nada, coitado, não fala nada de espanhol, nessas vilazinhas pequenas fica difícil se virar. Havia um mercadinho ao lado de onde estávamos. Entrei e perguntei a dona sobre hospedagem. Ela nos mostrou onde ficava o local que procurávamos, hospedagem El Mate. Era perto, seguimos empurrando as bikes, não conseguia voltar a pedalar.

Chegando lá fomos muito bem recebidos pela senhorinha dona da hospedagem (me falou seu nome, mas era algo muito diferente, não decorei). Conversamos brevemente e ela nos fez entrar. Falei que estava toda encharcada, mas ela fez menção de não se importar.

Nos mostrou um quarto quentinho, com duas camas e banheiro. Na porta um aquecedor, onde já haviam duas botas de trekking secando. Falei que precisava me aquecer, que tomaria um banho e que logo conversaríamos melhor.

Tomei um banho longo e quente. Se ensaboar e passar shampoo foi algo difícil, demorei a voltar a ter coordenação nas mãos e demorei a voltar a sentir os pés. Coloquei roupas bem quentes. Me sentindo melhor, subi para agradecer a dona e conhecer a casa. Em cima, uma área grande para acolher os hóspedes, com um fogão a lenha gostoso. A casa estava muito quentinha. A dona tinha um sorrisinho fofo, ela era toda fofa, dava vontade de abraçar. Me senti super acolhida. Disse que poderia cozinhar a noite para nós. Aceitei, não queria me esforçar com nada, nem ter que pensar no que comer. Expliquei que não comia carne.

Na grande sala estava um casal holandês (nomes impossíveis de pronunciar).  Seguimos conversando. Me falaram, entre outras coisas, das suas viagens de bike pela América do Sul. Era um casal certamente com mais de 50 anos. Fico encantada quando vejo algo assim.

Foi o senhor do casal que me contou sobre a destruição. Foi o desprendimento de uma grande geleira, ocorrido em dezembro de 2017, devido a grandes quantidades de chuva na região, e devastou toda aquela área e grande parte da pequena Villa de Santa Lúcia. A antiga hospedagem El Mate foi uma das destruídas. Não quis entrar em detalhes com a dona. (https://es.m.wikipedia.org/wiki/Aluvión_de_Villa_Santa_Lucía)

Depois de ajeitar tudo, colocar as roupas para secar do lado do diga, jantamos as 19h30. Meio diferente para nós, mas estava com bastante fome e adorei. A comida estava deliciosa.

Sem internet na casa, 21h estava dormindo. Coisa boa, precisava mesmo descansar.

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Carretera Austral: De Santa Lucía à La Junta

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Sobre o autor

Aline Souza, mais conhecida como Aline Elétrica por ser engenheira elétrica é uma multi atleta de Florianópolis - SC. Ela pratica corridas de aventura, trekking, ciclo turismo e escalada em rocha. Siga ela no Instagram @alineeletrica

2 Comentários

  1. Que legal eim Aline obrigado por compartilhar, estou me sentindo motivado a fazer esta trip
    Show, desejo sucesso na sua aventura

    Em março estarei em Torres del Paine fazendo o circuito W

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