Acompanhe os relatos de Aline Souza em sua cicloviagem pela Carretera Austral desde o começo:
Dia 13 – 04/01/2019
- Trajeto: de Coyhaique à Villa Cerro Castilho
- Distância: 96 km
- Acumulado de subidas: 1378 m
- Acumulado de descidas: 1340 m
- Terreno: asfalto
Conforme combinado, acordei cedo, por volta das 7h, peguei minhas coisas e desci para me ajeitar e fazer meu café. Comi pão com ovos, trajeto longo pede um café reforçado. Julien logo apareceu, e na sequência Ben e Rei.
Segui ajeitando tudo, aquela função diária. Ben e Rei avisaram que sairiam mais tarde. Falei a eles que sabia que nos alcançariam no caminho. Ben só riu.
Na saída da cidade fiquei um pouco atordoada, tantos carros. Pedalamos uns 15 km com bastante movimento na estrada, depois fomos voltando a tranquilidade.
O incrível desse início foi a mudança de paisagem, sério, mudou tudo completamente … o tipo de montanha, rochas, vegetação, campo. Esse é um dos motivos pelo qual ando apaixonada por esse tipo de viagem, que percorre uma longa distância, não faltam novidades aos nosso olhos.
Seguimos pedalando. Julien vinha tentando colocar um ritmo forte, mas eu, principalmente nas subidas, acabava ficando para trás. Hoje foi o primeiro dia em que realmente senti minhas pernas pesadas, cansadas, sem dúvida consequência da pauleira com os monstrinhos no dia em que fizemos 108 km para chegar ao Camping Las Torres del Simpson, me conheço, já imaginava que pagaria o preço.
No meio do caminho uma plaquinha anunciava cachoeira. As estradas por aqui tem bastante placas de sinalização. Olha isso, na beira da estrada:
Seguimos pedalando e, de repente, um vento a favor de juntou a nós. Agradecemos em alto e bom tom varias vezes (thank you God). Seguimos firmes e nos sentindo fortões, pedalávamos dando risada, nas subidas o mantra era: push, push, push. Nessa parte do trajeto, fiquei com pena de uns ciclistas que encontramos vindo no sentido contrário, para terem uma noção, seguiam empurrando as bikes, tão forte era o vento.
Paramos lá pelo km 30 no povoado de El Blanco, sentamos no ponto de ônibus e devoramos um pacote de cookie, daqueles bem gordos, doce e cheio de chocolate. Pedalar diariamente tem suas boas vantagens, pode-se comer o que bem entender, calorias deixam de ser um problema.
Dali até o km 50 continuamos com vento a favor, depois o vento virou e o negócio ficou bem feio pro nosso lado. Até para descer tínhamos que fazer força.
Entramos na Reserva Nacional Cerro Castilho. Linda, com suas montanhas nevadas, seus lagos e, seguindo havia lido, com suas muitas opções de trekking, não pude desfrutar dessa vez, mas também é bom deixar motivos para voltar.
Estávamos cansados de fazer força contra o vento e procurávamos um local para parar. É realmente difícil encontrar um local abrigado na Carretera. Falei muitas vezes que iria criar um projeto para serem construídos mais pontos abrigados, penso que numa situação crítica, de chuva, frio, vento, esses pontos abrigados podem salvar vidas. Enfim …
Na entrada oficial do parque, lá pelo km 60, tem uma área para camping e foi ali que entramos para procurar um para nosso almoço. Logo de cara encontramos uma plataforma, algo como um deck, de uns 3×3 m, no meio das arvores, protegido do vento. Paramos cozinhamos nosso almoço e, por fim, fiz um café para dar aquele Up.
Terminada a refeição e o merecido descanso passamos no escritório do parque, do outro lado da rodovia para pegar água. Conversamos com um funcionário muito prestativo, que falava inglês muito bem (coisa rara) e estava com uma Scott Full. Elogiou minha bike e eu a dele. Conversamos um pouco sobre as trilhas, falou que não faltam locais legais para pedalar por ali.
Seguimos nosso caminho e, após percorrer uns 5k com vento contra, avistamos um ciclista. Julien falou que era Reinhold, eu disse que não, mas não é que era ele.
Paramos e nos cumprimentamos animados. Para mim é sempre uma festa ter outros ciclistas com quem compartilhar e, em se tratando de Reinhold, a alegria é maior ainda, me afeiçoei muito a ele. Fora isso, teve algo bem especial nesse encontro, Rei trouxe minha calça (ou melhor minha única calça) que esqueci no varal do hostel. Estava certa de que havia conferido tudo, mas não vi a tal calça no varal. Se não tivéssemos nos encontrado ficaria apenas com minha calça térmica, tipo uma meia calça, que sinceramente não dá para usar por aí.
Seguimos a partir dali em 3, ficou mais fácil revezar o vácuo.
As paisagens seguiram incríveis, e com a presença de Reinhold me sinto mais à vontade para parar e tirar fotos, quando paro ele também para. Também me sinto à vontade para pedir a ele que me tire fotos, porque ele também me pede, enfim, além das minhas paradas tem também as paradas dele, onde aproveito para apreciar ou descansar, e acho tudo isso muito bom.
Depois de fazermos um bocado de força contra o vento chegou uma atração esperada no dia, parte da estrada chamada de Cuesta del Diablo, onde se encontram inumeráveis curvas. No km 3 desta cuesta tem um mirante onde se pode ver parte das curvas que estão por vir, além de uma linda paisagem, que a direita inclui o Cerro Castilho.
Dali em diante uma maravilhosa descida, com imagens de tirar o fôlego. Difícil não parar a cada curva para novas fotos. Parei algumas vezes, e fiquei na vontade um tanto de outras.
Chegando na Villa Cerro Castilho nos despedimos de Reinhold que disse que seguiria por mais uns 40km, como ele é muito rápido estava certa que não o veríamos novamente, então sugeri uma cerveja para a despedida. Eu e Julien compramos uma long neck básica e Rei, alemão que é, comprou uma garrafa de 1l.
Rei seguiu e eu e Julien fomos atrás de um hostel, escolhemos um com boa relação custo x beneficio segundo informações do iOverland, mas realmente não foi nada especial. A vista era bonita, mas isso se tem em toda a Villa.
Depois daquele merecido banho, saímos para dar uma volta na Villa, coisa de alguns minutos, compramos comida (comprei mais uma cerveja) e Julien cozinhou macarrão com molho vermelho, estava bem bom.
Confira a continuação em: