Escalador cego escala a Aiguille Dibona nos Alpes franceses

0

O escalador cego  Javi Aguilar superou os seus limites físicos e psicológicos ao ascender a Aiguille Dibona em Les Ecrins nos Alpes franceses. Essa aventura já exigiria bastante esforço para qualquer montanhista ou escalador comum, visto que é preciso vencer uma aproximação com mais de 1100 metros de desnível e a linha da Visite Obligatoire (400 m, 6a + / b) para chegar ao cume a 3.131 metros de altitude.

Aguilar comemorando o final da escalada.

Todavia, Aguilar completou essa escalada e mostrou que nada é impossível quando se tem força de vontade. Ele se tornou o primeiro escalador totalmente cego a chegar nesse cume com a ajuda de seu parceiro de escalada Pedro Soto e seu cão guia.

A escalada foi dividida em três dias. No primeiro dia, Aguilar realizou a aproximação até o refúgio Soreiller a cerca de 2700 metros de altitude, com o seu cão guia. Infelizmente, não permitiram que o cão o acompanhasse dentro do refúgio, mesmo tendo a lei amparando esse direito. Segundo Aguilar, isso gerou bastante mal estar, visto que ele ficou totalmente dependente de Soto para as atividades corriqueiras, como ir ao banheiro. Sua companheira retornou para a cidade com o cão.

Aguilar e Soto na trilha com a Aiguille Dibona ao fundo.

A escalada

No segundo dia, Aguilar e Soto seguiram para Via Visite Obligatoire. Aguilar tem experiência na escalada esportiva, tendo atingido graduações de 7c francês (9A BR). Porém nunca havia escalado em granito e a via estilo tradicional foi desafiadora para ele.“Não caí nem me segurei em nada, e é estranho, porque o normal é que às vezes você não encontre o degrau bem, por não ver… mas achei tudo muito bem. O Pedro Soto assegurou-me muito bem e conduziu bem a corda por onde devia passar. Além disso, não tinha experiência em escalar granito, mas descobri que é uma rocha muito plana, então foi fácil para mim encontrar qualquer saliência pequena onde pudesse segurar ou colocar o pé, e ainda mais em uma rota como esta, com muitas fissuras, rachaduras, diedros, etc “, contou Aguilar.

O escalador precisou usar os seus instintos para se localizar.

Soto guiou as enfiadas e explicou como cada uma seria para Aguilar, porém conforme eles se distanciavam na parece a comunicação ficava mais difícil e o escalador cego precisou realizar uma escalada instintiva. “Você tem que saber ler bem a rocha, principalmente quando você está totalmente sozinho no meio da parede, onde ninguém pode te dizer nada, e você está totalmente bloqueado e não sabe se há um parabolt para puxar ou se pode colocar qualquer coisa” explicou Aguilar.

Entretanto, para Aguilar a parte mais difícil foi a decida. Ele conta que teve alguma dificuldade com os rapeis e com alguns trechos com neve, pois estava sem crampons e piolets. Os demais trechos ele fez ao lado de seu parceiro de escalada. Ele também contou com a ajuda de cordas que o ajudavam a encontrar o caminho e davam mais segurança em caso de quedas. Ao ser perguntado sobre a sensação de vazio na descida ele respondeu: “Neste percurso, junto ao refúgio há riachos e senti-os cada vez mais baixos. Sinceramente, quando olho para baixo, noto algo, uma sensação de vertigem. Você também percebe o fato de estar a 3.000 metros, mas com calma, curtindo a altura e como ela é bonita ”

Compartilhar

Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

Deixe seu comentário