Nem todos são profissionais, pois o pico mais alto mundo se tornou um destino do turismo de aventura. Em 2013, foi escalado pela primeira vez por uma mulher da Arábia Saudita, por gêmeos e uma mulher amputada. Outros recordes incluem o primeiro casamento, a primeira chamada de vídeo e a primeira dança de Harlem Shake.
Porém esses recordes têm um lado negativo, já que a expansão da indústria do montanhismo turístico está causando grande impacto ambiental na região. Segundo autoridades nepalesas, o número de visitantes no Parque Nacional de Sagarmatha, onde o monte se localiza, triplicou nos últimos 20 anos.
Com o crescente número de turistas, veio também o aumento da quantidade de lixo deixada nas encostas: embalagens de alimentos, equipamentos de escalada, tubos de oxigênio – e até mesmo os corpos de alpinistas que morreram ao longo do percurso. As temperaturas negativas impedem a biodegradação do material.
Ao longo das últimas seis décadas, estima-se que 50 toneladas de lixo foram deixadas no Monte Everest, rendendo-lhe o apelido de “o maior lixão do mundo”. Associações de montanhistas têm reclamado do crescente número de escaladores inexperientes que deixam seu lixo para trás, tentando economizar a energia de que precisam para chegar ao cume ou retornar vivos ao campo de base.
Alpinistas famosos, como o italiano Reinhold Messner, afirmam que o Everest foi banalizado, e pedem que as autoridades do Nepal fechem o acesso à montanha por alguns anos, para que ela possa se recuperar.
Leis mais duras
Agora, o Ministério do Turismo do Nepal reagiu: a partir de abril todo alpinista deve trazer de volta ao campo de base no mínimo oito quilos de seu lixo pessoal e entregá-los às autoridades no local.
Segundo estimativas das autoridades, essa é quantidade de resíduos que um alpinista exausto descarta pelo caminho. O objetivo da medida é evitar que mais lixo se acumule no Everest. Para Pasang Sherpa, secretário-geral da Associação Nacional de Guias do Nepal, trata-se de uma boa ideia, mas faltam instruções mais claras.
“Não está claro quantos dias depois do início da subida do Monte Everest temos que trazer o lixo de volta. E eles não dizem o quanto deve ser trazido para cada campo. Há muitos campos em diferentes alturas, e é preciso saber quanto devemos devolver a qual campo”, explica Sherpa, em entrevista à DW.
O Ministério do Turismo promete medidas legais, se os alpinistas não devolverem seu lixo, mas ainda não está claro o que as medidas implicam. Até agora, os montanhistas tinham que pagar um depósito equivalente a 4 mil dólares, devolvido após provarem que haviam trazido de volta tudo o que levaram para a montanha. Mas a aplicação dessa medida tem sido difícil.
Para Gordon Janow, diretor de programas da escola de montanhismo Alpine Ascents, sediada nos Estados Unidos, as novas regras de lixo são interessante, pois ele concorda que é responsabilidade de cada um trazer de volta o que levou a montanha. Contudo, como comentou à DW, ele não sabe como as novas regras podem ser implantadas.
“Não estou certo como o processo vai funcionar. O lixo vai ser pesado na decida? Tudo bem se o meu amigo tiver levado o dobro do permitido e eu a metade? Se o meu lixo pesar um quilo de menos, eu corro e cato alguma coisa, ou vou ao banheiro de novo?”, ironiza Janow.
Indústria do turismo – Ele lembra que o Monte Everest pode testar os limites até mesmo de alpinistas profissionais. Então, se alguém não recolhe todo o lixo, não significa que não se importe com o meio ambiente ou seja preguiçoso. “Se a pessoa está lutando para descer e permanecer viva, é difícil pensar em recolher o lixo”, reforça.
As novas regras não foram criadas para limitar o turismo. Na verdade, o Ministério do Turismo do Nepal quer atrair mais alpinistas, e recentemente cortou pela metade as taxas para escaladores individuais no Everest e em outros picos na região. Além disso, há planos de fixar cordas adicionais e, possivelmente, escadas para aliviar o congestionamento em certas áreas.
Anualmente, a indústria do turismo rende ao governo do Nepal 3,3 milhões de dólares em taxas para a escalada, além de ser o sustento de milhares de guias e proprietários de hotel, que dependem dos turistas para sua sobrevivência.
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