Minas terrestres ainda preocupam montanhistas nos Andes chilenos

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Em 1978, durante o período de ditadura militar, o General Augusto Pinochet mandou minar diversos passos fronteiriços entre o Chile, Argentina, Bolívia e Peru. Passado cerca de 35 anos, muitas destas minas terrestres ainda estão lá. A maior parte das zonas minadas estão em locais montanhosos e diversas pessoas já foram vítimas, incluindo montanhistas.

Na última década, Argentina e Chile solucionaram todas suas diferenças limítrofes e assinaram diversos tratados de integração e cooperação que eram inimagináveis há 30 anos atrás, quando ambas forças militares estiveram a ponto de resolver os problemas com armas.

No entanto, metade das 500 mil minas terrestres que as forças armadas chilenas reconheceram ter armado em 14 passos cordilheiranos ainda estão enterradas desde 1978, matando e mutilando dezenas de pessoas inocentes. Novas informações, confirmam haver a mesma quantidade destas armas covardes na fronteira com o Peru e a Bolívia, causando danos às populações civis, à fauna e aos empreendimentos econômicos da vasta região da chamada “Puna do Atacama” que compreende a parte sul do altiplano andino.

Em 2006, cumprindo com a Convenção de Ottawa, o Chile iniciou um trabalho de desminamento de suas fronteiras. A região do Vulcão Llullaillaco, que é a montanha mais alta da província de Salta e a sétima dos Andes foi uma da que teve minas instaladas. Somente dentre do Parque Nacional do Llullaillaco foram retiradas em 2007, 3052 minas antipessoais e 616 minas antitanques, capazes de destruir e matar todos os ocupantes de um veículo comum.

Diversos incidentes com minas já ocorreram. Em 1994, a proprietária de uma pedreira de Onix perdeu suas duas pernas ao passar com seu jipe em cima de uma mina terrestre perto de Monturaqui. Quatro trabalhadores da mineradora de cobre “La Escondida”, perto do Llullaillaco, ficaram gravemente feridos após retirar uma mina do solo e deixar ela explodir dentro do carro. Em 97, o pesquisador americano Donald Davison desapareceu no Llullaillaco, anos mais tarde foram descobertos seus restos numa região minada. O mesmo azar teve o montanhista alemão Erik Newbery. Até hoje, no Paso Socompa, que se encontra desativado, estão os restos de um Land Rover conduzido por um geólogo que faleceu ao passar sobre uma mina.

Em 2012, o montanhista argentino radicado no Brasil Maximo Kausch esteve em uma das regiões mais minadas do Chile para escalar o vulcão Socompa, Salin e Aracar. Ele entrou em contato com o departamento de desminamento do Exército Chileno que disseram a ele que a região estava segura e que ele podia escalar as montanhas. A informação que ele teve dos argentinos que vivem na região da fronteira, no entanto, foram contraditórias, mas mesmo com muito medo ele foi para as montanhas as escalou, atravessando o desativado Paso do Salín.

Maximo achou que se ele fosse rápido com sua moto, passaria por cima das minas e elas explodiriam depois dele passar. Teve sorte, pois sua tese estava errada. Errado também estavam os militares chilenos, pois o próprio Maximo viu e fotografou uma mina semi desenterrada.

As montanhas mais famosas que tem relatos de minas terrestres são: Llullaillaco, Salin, Pular, Aracar, Socompa, Licancabur e Cerro Silla.

Apesar dos esforços em limpar o Chile das minas, elas ainda persistem, pois é muito caro desarmar estes campos, ainda mais quando não sem informações precisas de onde elas estão, já que na época não existia GPS.

Contudo escalar estas montanhas remotas nas fronteiras da Puna do Atacama continuarão com uma aventura extra. Ainda que as autoridades assegurem que a região está limpa, para escalarmos estas montanhas passamos por regiões tão improváveis e fora das estradas que é difícil ter certeza se uma ou outra mina ficou esquecida.

Veja o infográfico abaixo da situação das minas terrestres no Chile no ano de 2014:

 

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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