Um grupo de montanhistas de Curitiba encontrou há um pouco mais de dois meses um acampamento bastante equipado que supostamente é utilizado para atividades de caça. O local conta com uma casa feita metade de madeira e metade de alvenaria e apesar da construção ser bem simples, ela é bem equipada, com banheiro, cozinha e vários colchões e muitas provisões.
O Acampamento fica localizado na encosta norte do Morro do Guaricana, um local sem trilhas e que não é frequentado por montanhistas e trekkers. Os poucos que se aventuraram no local foram convidados a se retirar pelos fazendeiros e há relatos de que um grupo de montanhistas foi recebido a bala há alguns anos.
Não se sabe se há relação entre os fazendeiros e as pessoas que frequentam o acampamento localizado no meio da mata. A descoberta não havia sido divulgada por medo de represálias, mas depois de tanto tempo tendo realizado a denúncia à polícia e vendo que o acampamento ainda estava em atividade, o grupo decidiu contatar o AltaMontanha para fazer a denúncia.
No local foi achado muita munição e sacos com ração de cachorro. A trilha estava muito bem mantida por uma moto serra. Havia também uma tubulação de água para prover a casa, diversos jiraus de espera ao longo da trilha e muito lixo deixado no local. Na primeira visita foi encontrado barris com produtos químicos, que não estava na segunda abordagem. Este fato gerou suspeitas que o local pudesse estar sendo utilizado para o processamento de drogas, mas as evidências deixam a suspeita que é um acampamento de caçadores.
Abaixo reproduzimos o relato da primeira investida do grupo, quando encontraram o acampamento na mata:
Há tempos tentamos chegar ao Guaricana. Bem, essa montanha é especialmente difícil por motivos alheios à própria atividade de montanhismo, quem pesquisar pelos poucos relatos de sucesso nessa investida irão ver que os acessos são cercados por grileiros de terra antigos da região que reagem aos tiros quando há um estranho em suas terras, isso quando não deixam seus cães responsáveis pela “guarnição”. Mas o problema pode ser mais sério. Existe uma estrada de terra que atualmente corta uma região entre o fim dos Capivaris e o Guaricana (esqueça as torres de alta tensão, falamos de outra estrada). Ali habitam alguns chacreiros e junto às cercas alguns há sinais de desmatamento e extrativismo ilegal já vistos na própria estrada. Porém a presença de luz elétrica da Copel é indício de que o poder público conhece a região, mas essa também é outra história.
Por meio de mapeamento pensamos existir possibilidade de aderir ao Guaricana pela sua face Norte/Noroeste sem ter que encarar o Ferraria e o Ferreiro e, pensando em uma conexão nova e que teria efeito sobre as travessias da serra, ligando os Capivaris às montanhas do Ibitiraquire, fomos verificar.
Traçamos possíveis passagens entre as curvas de nível e entramos na mata tentando concluir a “missão”.
Buscando uma janela para visualizar o cume dessa montanha, encontramos uma trilha muito bem aberta em um ponto dessa estrada.
Percorremos cerca de 2 quilômetros torneando um banhado ora úmido ora gramado, sem sinais de atividade humana recente.
Chegamos a um pequeno afluente do qual desviamos em mata fechada, quando para nossa surpresa encontramos outra trilha consideravelmente batida, porém com algumas características incomuns como cortes feitos com motosserras e muitos facilitadores que sugerem algum tipo de investida profissional no local.
Não nos fazia muito sentido, e começamos a pensar que havia atividade da Copel na região, o que nos trouxe muita alegria. Mas sorte de pobre dura pouco.
Andando algumas poucas horas tropeçamos em um cano preto, uma espécie de cabo, assustadoramente posicionado no meio da trilha e apontando exatamente para onde o GPS nos dizia ser a crista mais prudente para chegarmos no Guaricana.
Inocentemente pensamos que poderia ser fibra ótica ou cabo elétrico, dado o tamanho aparente cabo e as loucuras da Copel na serra para manter a comunicação das usinas.
Bem, uns 500 metros depois descobrimos que a suposta fibra era na verdade um cano de água, com captação muito mais longe que o comum (pois atravessava outros leitos).
Voltamos na contramão do cano para ver o destino daquela água.
Nos deparamos com uma casamata de ar sombrio e vimos que estávamos com problemas.
O que costumamos pensar ao ver isso? Palmiteiro ou Caçadores, tudo que um montanhista não gostaria de encontrar na serra. Mas algumas coisas não batiam, eram muito atípicas para os costumes mateiros dessas práticas criminosas.
O tamanho e sofisticação da casamata não eram característicos. Investimento imenso (como o de uma mangueira de 700 metros) desproporcional aos ganhos desse extrativismo. Uso de motosserras. E outros.
A curiosidade falou mais forte que o medo e rodeamos a enorme instalação (na qual caberia possivelmente umas 15 pessoas.
Tinha 2 peças, ambas trancadas. A peça lacrada não conseguimos ver. Na outra havia tambores (3) e sacos de estopa (vários), camisetas, calça e coturno no varal interno, muito lixo nos arredores, bem como projéteis de armas já disparados e o pior de tudo: mimosas, frescas em uma mesa, sinais de habitação recente.
Não queríamos ver os donos voltarem e como se diz no interior “carpimos o gato”, com forte receio de que os usuários do local poderiam ter saído cedo e no seu retorno nos veriam lá, testemunhas de sabe-se Deus o que estavam fazendo.
Antes sentir-se perseguido por uma onça, pois o medo de topar com o ser humano maléfico supera em muito o medo. Além da obra toda, na descida notamos pontos auxiliares de observação em meio à mata.
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