A conquista das serras altas da Chapada da Diamantina 

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O montanhista soteropolitano Orlando de Freitas Barros Júnior, de 58 anos, concluiu a escalada dos 28 cumes acima de 1800 metros de altitude na Chapada da Diamantina, Bahia. Em um projeto que durou mais de quatro anos ele também identificou, mapeou e inclusive conquistou alguns cumes virgens.

Orlandinho comemorando seu 28º cume na Chapada da Diamantina.

Orlandinho, como é conhecido, realiza trekking desde de os 16 anos de idade. Mas somente após 35 anos passou a se dedicar a explorações mais técnicas.  Em seu currículo, ele conta com montanhas no Brasil, nos Andes, Rochosas, Alpes e Apalaches. E realizou sozinho a Haute Route de Chamonix a Zermat sozinho.

No entanto, para esse projeto na Chapada da Diamantina, ele contou com a ajuda de guias da região da Chapada Diamantina e moradores locais que o ajudaram a identificar, nomear e conquistar cada um dos picos. No total ele esteve em 16 montanhas diferentes e 12 cumes secundários ou sub cumes.

“Retornei à Salvador em 2018, já aposentado e com muita experiência em Montanhismo. Como a Chapada Diamantina é perto e por ter vários Amigos e Histórias por lá, resolvi conhecer Tudo que não conhecia. Me encantei pelo circuito do Ouro, pois lá não há fluxo turístico como a região do Sincorá (Lençóis, Mucugê, Capão e outras)”, contou Orlandinho.

O início do projeto

Em 2019, Orlandinho acompanhou o montanhista Dmitri de Igatu para instalar algumas caixas de cume em picos pouco frequentados do Circuito do Ouro e teve a ideia de escalar todas as montanhas mais altas da região.

“Nem nome tinham! Dmitri foi batizando e colocando os livros. Me encantei tanto, que sugeri a ele elaborar um material e divulgar, mas ele não topou. Com a concordância dele, passei a divulgar fotos e informações coletadas dos moradores locais. Não foi fácil descobrir os nomes das Montanhas, algumas não tinham nome, outras estavam em uma sequência que tinha um só nome, então fui batizando e/ou rebatizando de acordo com informações de alguns moradores da região, mesmo assim ainda há divergências”, contou sobre o início do projeto.

Para se preparar para o projeto, ele fez inúmeras pesquisas, conversou com moradores, estudou imagens de satélite e cartas topográficas. “ Com a preciosa e paciente ajuda do Pedro Hauck, comecei a catalogar as Montanhas usando a definição que ele me passou. Descobri que a Bahia possuía 8 MONTANHAS acima de 1900m! Foi empolgante”, disse

“A próxima etapa foi a visita a todas que ainda não tinha visitado. Fiz vários tracklogs, conversei com vários amigos da Chapada e parti para as explorações. Fiz várias, mais de 12. Em cada uma observava cumes destacados que poderiam se enquadrar como Montanha”, detalhou Orlandinho.

As explorações em regiões remotas

Orlandinho contou com ajuda de vários outros montanhistas da Bahia, entre eles Chico de Catolés, Luciano de Rio de Contas, Lucas Maimone de Salvador, Juliano de Brasília, Fredinho Lins, Formiga, Vinícius de Brumado e Rafael Lage.

Mas também passou alguns perrengues durante as explorações em regiões remotas. Em 2023, escalou três montanhas remotas com duas costelas fraturadas sem saber. “Só descobri 4 dias depois quando cheguei em Salvador”, relatou.

Segundo Orlandinho, o cume mais difícil foi o Pico das Almas do Bicho, homônimo do famoso Pico das Almas, porém localizado na região do rio do Bicho, um local sem acesso, distante do ponto de apoio e provavelmente nunca explorado por montanhistas.

Em março desse ano, o montanhista voltou à região para conquistar os dois últimos cume: o Pico das Almas do Bicho, e mais uma montanha que Orlandinho suspeitava ter mais de 1800 metros, o Pico da Lapa Grande Sul.

Esse último foi batizado pelo próprio montanhista, que também realizou a primeira ascensão em diversos outros. “Em alguns, como o Pico do Bicho, Pico do Cigano, Pedra Lisa e Pico das Almas do Bicho não havia o mínimo sinal de presença humana no cume, e nós subimos com muito cuidado a fim de gerar o mínimo impacto possível. Alguns outros também parecem intocados, mas estão localizados próximos a trilhas, então não posso afirmar que nenhum Montanhista os visitou”, explicou.

A preocupação com a preservação das montanhas continua na cabeça de Orlandinho mesmo após a conclusão do projeto. De acordo com ele, a região está sendo bastante alterada pelo garimpo ilegal. “Apesar de ser uma questão complexa, deve ser tratada com urgência pelas autoridades e comunidades, pois as Serras Altas – Circuito do Ouro, possui nascentes de vários rios que abastecem várias cidades”, colocou.

Em entrevista, Orlandinho também agradeceu a todos os amigos que colaboraram com esse projeto e contou que em breve o montanhista Luciano de Rio de Contas irá repetir o feito e  concluir os 28 cumes. “Estamos trabalhando para que isso ocorra o mais rápido possível”, finalizou.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

2 Comentários

  1. Alberto Ortenblad em

    Que belo projeto! Dedicação, conhecimento, cuidado e persistência! Não o conheço, mas espero que continue na sua atividad de descobrir e proteger nossas montanhas.

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