A cruz, os degraus e o Pico Paraná, uma outra visão.

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Em setembro de 2007 um terrível incêndio consumiu a floresta do Caratuva, causando inestimável dano ambiental. Em 2008 equipamentos instalados na trilha do Pico Paraná e Caratuva foram furtados sem qualquer justificativa. Em 2009 uma cruz foi achada abandonada na encosta do Pico Paraná, possivelmente por pessoas que não tem apego nem amor à montanha ou à própria crença. Eventos sucessivos que tem algo em comum, todos eles causaram grande impacto, seja ambiental ou moral, e que foram cometidas por apenas uma ou poucas pessoas.


Fatos que levam a seguinte conclusão: Não é preciso uma multidão para provocar um grande estrago, basta que uns poucos mal educados sintam-se à vontade para danificar o que muitos se esforçam para cuidar.

Considerando esse cenário, de pessoas bem intencionadas e outras nem tanto, seria recomendável que as Unidades de Conservação (UCs) fossem capazes de identificar seus visitantes. E é por isso que os Parques são criados, pelo menos na visão da Federação Paranaense de Montanhismo (FEPAM). Quando os clubes se reúnem e exigem a criação de UCs para proteger as montanhas se espera que o Estado impeça a circulação desses criminosos e não dos montanhistas em geral, como tem ocorrido. Infelizmente esse conceito ainda não foi bem compreendido pelos gestores dos Parques.

A FEPAM está aí justamente para defender os interesses dos montanhistas de bem. Se você tem outros interesses desconfie!!! A FEPAM segue uma ideologia clara, conservação e acesso às montanhas paranaenses. Todo o trabalho é realizado por integrantes dos clubes e associações filiadas, gastando tempo e dinheiro próprio para o benefício de todos, filiados ou não, e sempre foi assim. Muito antes da FEPAM, criada em 2002, os clubes já organizavam e reivindicavam o melhor para os montanhistas. Para citar um exemplo, o Clube Paranaense de Montanhismo (CPM) realiza trabalho para conservação do Pico Paraná desde 1996. São 13 anos de trabalho voluntário de seus sócios em prol dos visitantes que usufruem a bela paisagem da região.

Obviamente esse texto é uma resposta clara ao meu colega e grande montanhista, Julio Fiori, um cara excelente que ama subir montanhas tanto quanto eu. Mas, temendo que apenas um ponto de vista seja publicado venho através desse espaço apresentar a visão das associações, mas especificamente do CPM, associação que atualmente presido.

No mês de agosto último estivemos realizando mais um mutirão no Pico Paraná. E como acontecem todos os anos a montanha estava vazia. Uma coincidência estranha, toda vez que marcamos um trabalho lá os montanhistas não federados desaparecem. Mesmo com um tempo excepcional como mostram as fotos.

Nesse trabalho foi realizada uma avaliação das condições da trilha. Foram medidos 720 metros partindo do cume do Pico Paraná para baixo. O que o CPM busca fazer é criar um método prático de avaliação que possa ser usado por qualquer pessoa, de maneira que hajam parâmetros numéricos que expliquem porque tal trecho precisa de uma escadinha, degrau, dreno ou corda. O produto dessa avaliação servirá como recomendação para futuras intervenções na trilha. E esse trabalho vem sendo apoiado pelo Instituto Ambiental do Paraná.

Sobre as escadinhas que foram roubadas, após todos esse tempo, apenas 4 pessoas dentro de todo o universo de montanhistas colocaram-se a favor da sua retirada. Mas, o mais importante não é se alguns as consideram desnecessárias, mas sim o fato de que sua retirada causou dano severo ao ambiente, provando da pior maneira possível de que elas realmente eram necessárias onde estavam, valorizando o trabalho técnico que os clubes realizam a mais de uma década. Por mais estranho que possa parecer, nem mesmo os ladrões estão certos sobre suas convicções, pois montanhas como o Marumbi, Anhangava, Canal e Torre da Prata possuem escadinhas e nem por isso foram assaltadas.

Quanto à cruz, nenhuma escadinha faltando impediu que fiéis chegassem até a metade do Pico Paraná (pois faltou fôlego) para abandonarem a cruz acima do abrigo 2. Se o objetivo dos ladrões de escadinha era dificultar a subida o resultado foi um fracasso total. Nem isso eles conseguiram. A cruz foi recolhida pelo pessoal do CPM e baixada até a junção com o Caratuva onde ela quebrou (pois era de madeira vagabunda) e ali foi deixada para ser recolhida depois.

Minha conclusão é que a trilha sofreu muito com a falta de degraus aumentando os pontos de erosão, além de não controlar as peregrinações religiosas. Muita chuva ocorre nessa região há pelo menos 10.000 anos. O Getúlio se regenera rapidamente e o Caratuva não precisa de ajuda. Aos ladrões restará a vala do montanhismo paranaense!

Quanto à filiação dos montanhistas independentes na FEPAM só o tempo dirá se isso será bom para o montanhismo e para a Serra do Mar. Até o momento a participação dessas pessoas tem sido quase nula. Até hoje os clubes levaram nas costas o peso de organizar o acesso e conservação das nossas montanhas. Um trabalho realizado por poucos com benefício para todos. Será mesmo que os independentes estão dispostos a dar a cara à tapa? Se você não está, desconfie!!!

Marcelo L. Brotto
Presidente do CPM

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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