Existem dois acidentes geográficos que formam o Pantanal: seu relevo, uma depressão circundada por serras mais altas, e o Rio Paraguai, que drena esta imensa bacia. Já tendo falado sobre o relevo, vou agora comentar sobre o rio.
O Paraguai é um gigante simples e silencioso – já se disse que o silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe. Tem uma mansidão bonita, com suas águas paradas ao lado dos campos planos e sob o imóvel céu pastel. Percorre 2.600 km, recebendo no Pantanal brasileiro as águas do Cuiabá, Taquari e Miranda, na Bolívia as do Bermejo e no Paraguai as do Pilcomayo, até mergulhar as suas nas do Paraná. Notem que a maior parte dos afluentes vem da esquerda, devido à declividade do relevo brasileiro para oeste.
Possui uma única cachoeira no seu trecho inicial, quando nasce na Chapada dos Parecis. Funde-se com uma série de lagoas no seu curso alto, num processo chamado de coalescência, cujo aspecto é incrível, semelhante a um mar infinito. Corre quase sempre de norte para sul, entre Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil, que responde por apenas 1/3 de sua bacia.
Até o passado recente, o comércio e a comunicação da região eram feitos pela bacia do Prata. O Paraguai é um rio lento, e o único que drena todo o Pantanal. Ou seja, as águas deste enorme país úmido confluem apenas para ele, depois de um sinuoso percurso para sul e oeste, quando seus afluentes o fazem transbordar. Além da rasa declividade de que já falei, o curso do Paraguai é retardado em especial por um acidente chamado Fecho dos Morros.
Esta é uma formação serrana, transversal ao curso do rio, que o encontra a uns 60 km a norte de Porto Murtinho, a mais sul das cidades pantaneiras. Ela de fato parece funcionar como uma barragem que represa as águas, fazendo-as demorar em remansos e alagar ainda mais o baixo pantanal do Nabileque, de que falarei depois. Ela é chamada de soleira rochosa, havendo outras duas mais ao norte (ver a seguir).
O clima do Pantanal é quente e sobretudo úmido, com elevada média de 82%, devido à evaporação da água contida no solo. É ele que desenha as duas estações do Pantanal: durante a seca (maio a setembro), a superfície enxuga e expande e, nas águas (outubro a abril), floresce e inunda. Esta alternância torna a paisagem móvel, com mudança no volume e traçado dos rios, alteração no desenho das lagoas e formação de ilhas e cordilheiras.
Os dias no Pantanal têm duas metades: até as 10 e depois das 14 hs. Entre elas, ninguém tenta fazer coisa alguma, a não ser descansar. O sol e o calor são absurdos – convidam ao ócio e ao repouso.
A maior parte dos solos é de areia e raramente de argila. São solos planos, áridos e pobres. Porém, ele é fertilizado pelas inundações anuais, que carreiam o húmus do planalto, depositando terras, plantas e sementes nas margens dos rios e das vazantes. São elas que renovam a escassa fertilidade dos solos. Se dependesse só da chuva, o Pantanal seria uma zona quase desértica, pois a precipitação anual é menor do que a evaporação.
Você ouvirá algumas referências a acidentes geográficos, que convém explicar, junto com outros termos locais:
Vazantes: são canais que, durante as cheias, comunicam os rios com as lagoas; você conhecerá várias delas ao longo das duas estradas-parque do Pantanal, que descrevi anteriormente.
Corixos: são cursos de drenagem de água das chuvas, não das nascentes; embora nas enchentes as águas sempre corram por eles, podem ser considerados provisórios, pois chegam a secar quando cessam as chuvas.
Banhados: são baixios, brejos ou alagadiços, dotados de vegetação flutuante, bastante comuns em todo o Pantanal; novamente, podem diminuir e até secar, dependendo da estação.
Baías: são assim chamadas as lagoas, sejam permanentes ou provisórias; grandemente de água doce, existem entretanto algumas salobras devido à presença de carbonatos; nelas sobrenadam as vegetações chamadas de baceiros.
Cordilheiras: representam os terrenos mais altos que ficam emersos quando a região inunda, parecendo uma sucessão contínua de cristas florestadas, à semelhança de uma cordilheira quando vista de longe.
Capões: também formados nas partes altas, diferem das cordilheiras por não terem extensão linear e sim ocuparem áreas redondas, onde costumam crescer árvores de maior porte.
Ninhais: conjuntos de ninhos feitos numa mesma árvore por aves como garças, colhereiros e maguaris, principalmente à beira d´água, onde o alimento costuma ser mais farto.
Vive em raro equilíbrio no Pantanal a mais variada fauna do nosso continente, com cerca de 460 espécies de aves, 320 de peixes e de 120 de mamíferos (e o dobro disto de répteis e anfíbios). E, de forma impressionante, podem ser avistados juntos na seca, quando saem dos matos para as várzeas abertas, à busca de água. A fauna é a maior atração do Pantanal, apesar de não ser endêmica – contém espécies de ampla distribuição, com grandes populações, em geral de alimentação generalista.
Diz-se que lá existem os quatro gigantes: a capivara, maior roedor conhecido; a arara azul, maior dentre todas as araras; o tamanduá bandeira, o maior dos tamanduás; e a ariranha, a maior da sua espécie de mustelídeos.
O Pantanal é coberto por uma variada vegetação, pois existe no Pantanal o encontro entre a floresta amazônica a norte, o chaco boliviano a oeste, o cerrado brasileiro a leste, a mata atlântica a sul, além de manchas de caatinga nos topos elevados. São lá conhecidas 3.500 espécies de plantas, numa variedade extraordinária.
Vou procurar resumir os diferentes tipos de vegetação que você irá encontrar lá. Começo pelo cerrado, que é a mais comum das coberturas vegetais do Brasil, com suas árvores pequenas, de troncos retorcidos e folhas ásperas. Pode apresentar-se fechado ou aberto, conforme a sua densidade.
Os campos sujos são povoados por árvores frequentes e os limpos, por poucas delas, predominando as gramíneas. Às vezes, formam-se capões com áreas circulares florestadas. Outras vezes, a vegetação arbórea ocupa nas cordilheiras uma extensão retilínea. Ou então os campos são inundáveis, formando brejos ou veredas. Acontecem também as matas ciliares, as de encosta e as raras florestas copadas.
Desta forma, nestas regiões abertas do Pantanal existem floras de diversas origens. Você poderá encontrar lixeiras, pequis e aroeiras do cerrado, como cambarás amazônicos e palmeiras carandá chaquenhas, tanto quanto jatobás e figueiras do Sudeste ou cactos e gravatás da caatinga. Assim, o Pantanal é como uma gigantesca amostra da nossa flora.