A proliferação de cruzes no Cordón del Plata

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Nos últimos anos, nas regiões mais populares para prática de Andinismo na Província de Mendoza, Argentina, nota-se a proliferação de cruzes nos cumes de montanhas e de outros locais, muitas delas dando nomes a acidentes geográficos como se fossem montanhas.

Existe uma certa tradição histórica de colocar em certas montanhas importantes uma cruz para marcar, adornar ou sinalizar seu ponto mais alto. Esta tradição é passível de se entender por conta de que a maioria das pessoas que escalam são católicas e acham que uma cruz pode ser uma forma de bendizer aquele local. De uma maneira ou outra, as cruzes são símbolos em montanhas que extrapolaram o valor religioso e se tornaram um símbolo de cume.

No entanto, em alguns locais, este símbolo tem extrapolado o bom senso, como no Cordón del Plata, onde o montanhista argentino Guillermo Corona denuncia a proliferação de cruzes em locais onde já haviam antes e também em locais que sequer são cumes, fazendo que a montanha fique parecendo um cemitério.

Está certo que o excesso de cruzes na montanha é apenas um impacto estético e que elas ali não provocam nada. No entanto, por trás da fixação destes equipamentos há pessoas que querem de alguma forma imortalizar suas ascensões, deixando de legado estes “símbolos” de cume que ficam ali adornando a foto de outros montanhistas.

A prova deste “legado sem noção” é que outros locais da montanha que não são cumes começam a receber cruzes também, como colos e até acampamentos. Além disso, está ocorrendo um rebatizamento de pequenas proeminências topográficas, que sequer poderiam ser chamadas de montanhas. O “conquistador”, como forma de tornar sua conquista conhecida, também termina por instalar cruzes no topo, como se aquele local fosse um cume proeminente. Caso famoso foi do “Pico Los Amigos”, no próprio Cordón del Plata.

As consequências destas ações são conflitos entre os montanhistas. Se de um lado estão as pessoas que instalam as cruzes, de outro acabam surgindo aqueles que arrancam as mesmas. No próprio Cerro Plata haviam quatro, mas numa foto enviada pelo montanhista paranaense Rafael Wojcik ontem, haviam apenas 3. Aparente uma terceira cruz foi removida.

Infelizmente estas atitudes acabam não resolvendo o problema, pior, apenas geram um lixo em encostas menos frequentadas por escaladores, como foi o que ocorreu na temporada 2011/12 no Aconcagua, quando sua cruz foi arrancada e a suspeita que recai é que a mesma foi arremessada na face Sul da montanha.

Pior ainda, algumas pessoas passam ter antipatia com todas as cruzes e passam a fomentar um movimento iconoclasta contra todos estes equipamentos. Lembramos que muitas cruzes têm valor histórico e são patrimônios do montanhismo. A própria opinião de Guillermo Corona, quem levou o debate na Argentina era que somente as cruzes históricas deveriam ser preservadas e as novas evitadas.

No Brasil a tradição de haver cruzes no topo de montanhas é antiga. Algumas montanhas famosas, como o Pico da Bandeira, têm em seu cume grandes cruzes, umas mais artísticas outras nem tanto. Infelizmente, como na Argentina, algumas com valor histórico foram depredadas, lembrando o caso famoso da destruição da cruz do Marumbi no Paraná, que durante gerações foi um símbolo do montanhismo e que foi destruída na década de 1990.

:: Participe. Qual sua opinião sobre a instalação de cruzes nas montanhas?

 

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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