As melhores ideias desta coluna vieram do inspirador e algo juvenil livro O Futuro da Humanidade do físico teórico Michio Kaku. As piores vieram das minhas pesquisas e suposições.
Quando o sistema solar se formou, Vênus, Terra e Marte eram bastante parecidos. Todos os três possuíam atividade vulcânica, que liberava gás carbônico e vapor d´água. (…) Este se condensava em nuvens, que se precipitava em chuvas formadoras de rios, lagos e oceanos.
Os três planetas estavam dentro da zona habitável. Quer dizer, ocupavam a região á volta do Sol na qual o nível de calor permitia a existência de água líquida na superfície – sem que ela fervesse pela proximidade ou congelasse pela distância dele. E a água era o meio no qual a vida poderia surgir. Assim, bilhões de anos atrás, os três eram promissores candidatos a abrigar a vida.
Vênus tem bastante parentesco com a Terra: mesmo tamanho, massas parecidas, velocidades de escape e gravidades semelhantes. O ano em Vênus não é tão diferente do nosso, mas o dia lá é extraordinariamente longo, pela lenta rotação do planeta. Mais importante, acredita-se que, bilhões de anos atrás, a atmosfera de Vênus era parecida com a nossa, com água líquida na superfície.
Pensava-se antigamente que Vênus fosse um belo planeta verdejante. Mas, quando a pesquisa espacial avançou, descobriu-se que a realidade era completamente diferente – Vênus era uma fornalha. Como isto aconteceu?
A atmosfera de Vênus é composta por gás carbônico que, aquecido pela proximidade do Sol, causa um gigantesco efeito estufa, aprisionando a radiação solar. A chuva não alivia o calor, pois é composta de ácido sulfúrico, proveniente da forte atividade vulcânica. O enxofre é altamente reflexivo e é ele que torna Vênus tão brilhante.
Uma salvação para Vênus seria a atividade tectônica, ou seja, a movimentação e colisão de placas sólidas da crosta superficial, que pudessem reciclá-la e talvez resfriá-la. Porém esta atividade não existe, pois o planeta é seco, sem um meio fluido sobre o qual as placas pudessem navegar.
Outra esperança seria a existência de um campo magnético que protegesse o planeta da radiação nociva vinda do espaço. Ele existe, mas é fraco, pois o calor não circula internamente e não é portanto capaz de gerar um campo elétrico.
Então, à temperatura média de 460⁰C, o gás carbônico não é liberado e sim adensado, criando uma pressão atmosférica quase cem vezes a nossa. Um solo de metal fundido, um ar denso como se fosse viscoso, uma atmosfera exposta à radiação cósmica e uma chuva ácida tornam Vênus um portal do inferno.
Mas seria possível colonizá-lo? A pressão atmosférica e a temperatura 50 km acima da superfície são semelhantes às da Terra. Além disto, nitrogênio e oxigênio, que formam nossa atmosfera, parecem ser gases ascendentes na atmosfera de Vênus. E a distância entre Vênus e Terra é a menor entre qualquer par de planetas. Quem sabe nestas condições cidades flutuantes fossem viáveis como um meio de colonizar Vênus?
E Marte, qual teria sido sua história? Ela é inversa da de Vênus. Marte é um planeta bem menor e muito mais distante do Sol, portanto esfriou bem mais rápido. É chamado de planeta vermelho devido à presença de óxido de ferro avermelhado na sua superfície.
Porém, tem muitas semelhanças com a Terra: seu dia é equivalente ao nosso e sua inclinação criou estações parecidas com as terrestres, porém com duração do dobro, pois o ano marciano é de quase 700 dias. Marte tem uma tênue atmosfera e certamente já teve água líquida. A gravidade é menos da metade da nossa, tornando os corpos lá muito mais leves.
Numa coluna anterior, comentei sobre o campo magnético da Terra, extremamente importante para protegê-la da radiação cósmica mortal. O centro de Marte é rocha sólida, sem um núcleo líquido, necessário para a criação dos campos elétricos. O planeta foi sujeito ao bombardeio de meteoros, que destruíram seu campo magnético.
Além disto, o gás carbônico atmosférico se dissolveu e se depositou nos oceanos e depois nas rochas, sem poder subir de volta à superfície. Na Terra, a atividade tectônica, apesar de destrutiva, recicla os continentes, retornando o gás carbônico à atmosfera. Em Marte, a carência de gás carbônico gerou um efeito estufa inverso, congelando o planeta sob uma temperatura de 60⁰C negativos e rarefazendo sua atmosfera numa pressão mais de 160 vezes menor do que a nossa.
No passado, assim como com Vênus, houve muitas suposições maravilhosas sobre o planeta. Aparentemente, possuiria longos canais retilíneos, que teriam sido construídos por uma civilização extinta. E mais, teria grandes mares e abundante vegetação. Mais tarde, foram detectadas presenças de compostos orgânicos, além de metano e amônia atmosféricas, que sugeririam haver vida. Entretanto, as pesquisas indicam, ao contrário, ser um planeta morto e hostil.
Mas seria possível revitalizar Marte? A maior esperança reside na abundância de gelo nos dois polos – na realidade, a quantidade de água no manto superior do planeta (o manto fica entre a crosta e o núcleo) é igual ou maior do que a da Terra. Além disto, existem rios sazonais, quando a temperatura sobe para 20⁰C ou mais. Lembro que a órbita de Marte é muito excêntrica, gerando enormes variações térmicas, de menos 140⁰C a mais 35⁰C.
A pressão atmosférica na altitude a que chega um balão na Terra é a mesma da de Marte. O frio ártico é semelhante à mais extrema temperatura marciana. E também há desertos aqui muito parecidos com os de Marte. Por isso, há anos experiências de sobrevivência num ambiente marciano foram simuladas na Terra, na secura de Utah e do Arizona norte-americanos.
Talvez seja oportuno comentar sobre a interessante geografia de Marte. Já foi dito que a combinação de gelo, neve, poeira e dunas em Marte cria todo o tipo de formações geológicas singulares (…) percorrer seu território seria o sonho de qualquer praticante de caminhada.
O planeta apresenta vales e ravinas panorâmicos, cânions gigantescos escavados pela água, inúmeras crateras de impacto, antigos deltas aluviais e enormes vulcões. Num certo sentido, parece uma Terra amortecida, com um passado de atmosfera, tectonismo e campo magnético. Em particular, suas enormes calotas polares, compostas de água e gás carbônico, com um volume de gelo gigantesco.
É possível colonizar Marte? Sim, se for viável aquecer o planeta: pela injeção de metano na atmosfera para causar o efeito estufa, pela concentração da luz solar sobre as calotas, pela colisão de cometas portadores de amônia ou pela formação de um dínamo magnético artificial.
Se a temperatura pudesse ser elevada em 6⁰C, um processo dinâmico daria partida à chamada terraformação de Marte, com criação de atmosfera e vida. Esta palavra ambiciosa é o nome do processo hipotético de modificação da ecologia de um astro até deixá-lo em condições de abrigar seres vivos da Terra. Marte é o planeta mais habitável do sistema solar, com um solo dotado de nutrientes e uma atmosfera rica em gás carbônico propícios a vegetações que, finalmente, gerariam o oxigênio.
Mas qual a motivação para se investir num planeta afastado 1½ vezes a nossa distância do Sol, sujeito a brutais diferenças térmicas e tempestades de areia, envolvido em cada polo pela escuridão durante todo o inverno, sem campo magnético que o proteja das radiações, perigosamente exposto ao cinturão de asteroides, sem pressão superficial que evite a fuga dos gases, sem oxigênio na sua atmosfera rarefeita e sem vida geológica, vegetal ou animal?
Vou procurar responder com um exemplo. Não muito tempo atrás, há meros 75 mil anos, a erupção do vulcão Toba em Sumatra sufocou a terra com uma coluna colossal de cinzas e fumaça, que primeiro esturricou e asfixiou a vida e depois resfriou o ambiente, tornando a natureza uma paisagem desolada. Os poucos sobreviventes tinham apenas uma meta: fugir da cortina de morte baixada sobre seu mundo.
Sobraram talvez algo mais de dois mil humanos. Esta é uma possível razão de a humanidade ter um DNA praticamente idêntico. Todos somos clones uns dos outros, irmãos e irmãs descendentes de (…) um bando sujo e maltrapilho (…) que acabaria por povoar todo o planeta.
Então, a humanidade não está livre de catástrofes futuras, violentas e inesperadas, que podem comprometer sua existência. Os físicos dizem ser inevitável nos depararmos com pelo menos um evento capaz de nos extinguir. Aliás, a extinção é a norma da vida.
Além disso, estamos lesando nossa própria existência: a degradação do meio ambiente, o risco de epidemias virais, o aquecimento global e o aumento populacional podem nos aproximar de um desastre ecológico. A ameaça da colisão com um meteoro, o advento de uma nova era glacial, a próxima erupção de um vulcão e, finalmente, a longínqua expansão do Sol para nossa órbita são catástrofes involuntárias e inevitáveis.
Já se disse que a vida é valiosa demais para se limitar a um único planeta. Porém terraformar um planeta é muito difícil técnica e economicamente, podendo custar trilhões de dólares e levar séculos. E reverter ameaças ambientais que impeçam a habitação humana na Terra será certamente mais barato e viável do que tentar transformar astros distantes sob riscos incalculáveis.
5 Comentários
Matéria muito bem escrita. Parabéns ao autor.
É muito difícil aceitar que o nosso planeta será algum dia destruído, sei que existem mais de cem mil planetas em zonas habitáveis, mas assim como qualquer pessoa ama sua terra natal eu amo o planeta Terra.
O PLANETA TERRA TEM FUTURO,, PORÉM, O FUTURO DO POVOAMENTO QUE O HABITA DEPENDE, ÚNICA E EXCLUSIVAMENTE, DO COMPORTAMENTO DE CADA HABITANTE EM RELAÇÃO À MANUTENÇÃO DO EWUILIBRIO CLIMÁTICO, EWUILIBRIO EXISTENCIAL EM GRUPOS DIFERENTES, NÃO CAUSANDO DISPUTAS TERRITORIAIS CAUSADORAS DE GUERRAS E DISCRIMINAÇÕES RACIAIS, IDEOLOGICAS, ALÉM DE DESNÍVEIS SOCIAIS, QUE DIFICULTAM , MAIS AINDA, A IMPLEMENTAÇÃO DE UM AMBIENTE DE IRMANDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE., QUE SÃO 3 PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA SE CONSEGUIR PAZ, FELICIDADE E PROSPERIDADE ENTRE POVOS DE UM MESMO PLANETA, MESMO SISTEMA ESTELAR, MESMA GALÁXIA E HARMONIA EM “TODO O UNIVERSO”
Roberto Maia,VC disse. Tudo
Esta alusão em habitar em outros planetas, são para os ateístas que não crêem num Criador.
Se fosse a vontade do Eterno que o ser humano, sua criação, tivesse uma opção extraterrestre de habitar, a humanidade a conheceria. A terra que nós vivemos não sabemos cuidar e preservar, imagine habitar em Marte, seria a extinção desse planeta, e que levaria a terra junta.
Que morar em um lugar seguro que não seja a terra, medite neste trecho bíblico.
Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar.
João 14:2