No Brasil ano após ano vemos importantes locais de escalada serem fechados, apesar de triste, isso não é um fenômeno exclusivo do Brasil, entretanto aqui é um pouco diferente, pois no resto do mundo a luta é para transformar áreas particulares proibidas em Parques, salvaguardando o direito das pessoas em se relacionar com o meio natural.
O Brasil segue atrasado na questão da proteção de suas paisagens e pior, as proibições são medidas radicais, desesperadas e unilaterais, que não levam em consideração a opinião e nem a experiência dos montanhistas e que não garantem a proteção da natureza.
Nossos parques são fechados e proibidos, pois o “modelo” para quem dirige estes parques é o modelo do Parque das Cataratas do Iguaçu, onde o visitante pode apenas “contemplar” a natureza e não interagir com ela.
Posso afirmar sem errar que todos os parques de montanhas no Brasil tiveram a atuação de Clubes e de montanhistas individuais em sua criação, mas temos sido expulsos destes parques. O resultado é ruim para o montanhismo e para o meio ambiente. Recentemente, o montanhista Jorge Soto percorreu uma trilha “proibida” no Parque Nacional do Itatiaia, onde fica uma das mais altas montanhas do Brasil. O que ele encontrou por lá? Acampamentos e equipamentos de caçadores, que atuam sem nenhum medo de serem flagrados, já que por ali não anda ninguém mais. Isso foi em Setembro e até agora, em Dezembro, mesmo depois de tanta discussão e da denúncia, estes acampamentos e os caçadores continuam lá.
Existe a proposta da criação de um novo Parque Nacional na Serra da Mantiqueira, entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Desta vez, muitos dos montanhistas, ao invés de apoiarem, estão sendo contra, pois temem que sua liberdade seja ameaçada nestas montanhas, percorridas por nós há décadas! Isso é ruim, pois pode servir de argumento de que o montanhismo é contra a preservação do meio ambiente, o que não é verdade.
O resultado das proibições não foi apenas a perda da gente como aliados nas questões ambientais, mas também num enfraquecimento e marginalização de nossa cultura. Isso decorre deste nosso momento histórico, pois vivemos o paradigma da crise ambiental. Muitos se aproveitam deste problema e o utilizam como demagogia política, pois quem hoje não é contra a natureza?
Hoje mineradoras ganham prêmios por suas atuações ambientais, há madeireiras e outras empresas extrativistas que se auto intitulam ecológicas. O montanhismo, que preserva o meio ambiente contra essa turma antes que o meio ambiente se tornasse “marketing” para o consumismo agora é considerado o vilão do meio ambiente, isso é um absurdo!!
O que seria da Serra do Cipó, uma das maiores mecas da escalada no Brasil, se não fosse pelos escaladores? Já pararam pra pensar por que o “Morro da Pedreira” tem esse nome? É uma grande contradição proibir a escalada em áreas cársticas como a Gruta do Rei do Mato, da Lapinha e do Bau em Minas Gerais, em um ano onde se aprovou por lei a destruição de 70% das cavernas brasileiras. Será que essa intimidação não é o IEF querendo “mostrar serviço”?
Aqui no Paraná, a Serra do Mar tem 4 Parques (3 estaduais e 1 nacional) todos criados pela pressão dos montanhistas. A Serra foi tombada como patrimônio natural por nossa ação e o nosso voluntarismo é o que mantém estes parques funcionando sem grandes degradações, já que os clubes “adotaram” as montanhas (Pico Paraná, Tucum, Anhangava, Marumbi, Araçatuba) e fazem as manutenções em trilhas, assumindo o papel dos Orgãos ambientais sucateados.
O IAP, Instituto ambiental do Paraná, não tem dinheiro para gerir suas UC´s deixando-as abandonadas. Eles não têm dinheiro sequer para pagar seus funcionários, deixando as UC´s fechadas nos fins de semana e feriados!!! Por sorte (ou azar) elas já são tão abandonadas que não há portaria e o cambau já é institucionalizado.
O único parque que tem uma certa infra estrutura é o Marumbi, que a herdou da RFFSA essa infra que não é a adequada. O resultado da (precária) existência do Estado neste parque é a proibição. A trilha por onde Joaquim Olimpo de Miranda acendeu o Marumbi, há 130 anos atrás, e desta escalada nasceu a cultura do montanhismo no Brasil, hoje é proibida!
Também é proibida a travessia Alpha Omega, que durante os anos 50 era uma provação para os montanhistas mais experientes, numa época em que fazer montanhismo no Brasil chamava-se “Marumbinismo”. Só os melhores se aventuravam por ali, e isso se traduzia em menos de uma dupla de pessoas por ano. Então porque proibir? Queremos participar das discussões e dos conceitos de conservação e questionar as áreas intangíveis.
Os órgãos ambientais não percebem que estas atitudes resultam apenas em enfraquecer a cultura do montanhismo, pois fica proibido se arriscar, se aventurar e se desenvolver como “esporte”, pois considerar intangível as montanhas de difícil acesso apenas proíbe o montanhismo avançado.
O Estado é cheio de contradições. Ao mesmo tempo em que percorrer uma trilha que já existente é proibido sob a alegação de impacto ambiental, existe um mega projeto de construir uma nova estrada que vai descer a Serra do Mar, a BR 101 do Paraná. Esta é uma obra totalmente desnecessária, pois tal caminho já pode ser percorrido sem obstruções por estradas duplicadas via Anel rodoviário de Curitiba e BR 277. Aliás, o anel de Curitiba foi uma estrada recentemente construída com o argumento de que, como compensação ambiental, iria ser criado e equipado o Parque Estadual da Serra da Baitaca, onde o fica o Anhangava, promessa cumprida só pela metade, pois o $ sumiu e o parque existe só no papel.
Enfim, fica no ar além da indignação, a suspeita de que interesses escusos estão se usando da desculpa ambiental para promover o contrário…
Nesta semana haverá a consulta pública para a criação de duas novas Uc´s no Estado do Paraná, uma Reserva Biológica no litoral e um Parque Nacional na serra. Eles serão criados com a grana da “compensação” dos danos ambientais da construção da BR 101 e do porto de Pontal?????
Há anos, não só os montanhistas são contra este projeto, mas também autoridades científicas, como o geógrafo João José Bigarella, um dos maiores geomorfólogos e quaternaristas do Brasil. Bigarella afirma que a construção da BR 101 será uma grande catástrofe ambiental, que provocará a ruptura do equilíbrio das encostas, sem falar que vai dividir o que restou da Mata Atlântica no Estado em dois fragmentos.
Dois montanhistas foram conduzidos à delegacia por estarem escalando em um parque em Minas. Será que os políticos serão conduzidos à alguma delegacia quando, depois de pronta a BR 101, ela promova a especulação imobiliária e um desastre aos moldes dos que já ocorrem em Santa Catarina e venha a trazer prejuízos ambientais e econômicos reais e sofrimento às pessoas? Eu acho que não…
Peço aos montanhistas que revejam seus conceitos de preservação, olhe para suas próprias atividades e tenha a certeza de que escalar não é crime. A defesa do meio ambiente não pode servir para marginalizar aquilo que é feito com respeito ao meio ambiente há 130 anos e muito menos para destruir este tão precioso patrimônio, NOSSAS MONTANHAS!