“Como estive em 150 países e o Everest está no meu próprio, pensei, por que não?”, diz à Agência Efe Shah, de 41 anos.
“Pedi bandeiras em miniatura de países aos prefeitos das cidades nas quais estive. Levarei as mesmas para o alto e retornarei com elas”, acrescenta.
E depois, se voltar novamente a esses países, pretende devolver as bandeiras como símbolo de pacifismo, conta o nepalês, que se declara “um mensageiro da paz” que mostrou ao mundo “como um homem pode dedicar o período dourado de sua vida à paz”.
Shah passou 11 anos andando de bicicleta e, diz, conseguiu fazer um total de 221 mil quilômetros e 150 países, com apenas três períodos de descanso durante os quais voltou ao Nepal.
O veterano ciclista começou sua aventura sem dinheiro, portanto, a sobrevivência na estrada dependia da boa vontade das pessoas, às quais pedia apenas o necessário para comer duas vezes ao dia, embora também tenha conseguido recursos dando conferências.
Ele pegou aviões e navios para atravessar mares. Nos Estados Unidos, ficou seis meses, mas, em outros países, ficou apenas três dias.
E nem sempre foi fácil continuar pedalando. Shah foi roubado 11 vezes: sete delas na África, uma em Nova York, outra em Barbados, outra na República Tcheca e outra na Itália.
Além disso, foi sequestrado na cidade mexicana de Matamoros, perto da fronteira com os Estados Unidos, mas conseguiu escapar dos dois sequestradores após uma briga.
“Estavam planejando me matar e deixar meu cadáver no deserto, destruir minha documentação e levar meus pertences, inclusive dinheiro”, afirma Shah.
O nepalês teve que trocar de bicicleta após sofrer uma avaria em Hong Kong e perdeu a nova na Nova Zelândia, mas, felizmente, o falecido Edmund Hillary, primeiro escalador do Everest, soube da má notícia e lhe comprou outra.
Os incidentes negativos não impediram que Shah mantenha uma grande fé na humanidade: segundo ele, só sofreu roubos em 11 dos 10,001 mil dias nos quais passou na estrada.
O viajante garante que “99% das pessoas são boas. Só alguns poucos estão destruindo o mundo”.
Shah, que diz ter “lembranças especiais do Peru, Chile e Argentina”, tem boas recordações também de todos os sul-americanos, que qualifica como “as pessoas mais amigáveis do mundo”.
“Ter bebido cerveja de milho em lugares remotos do Peru, dançando e cantando, quase me fez ficar ali”, lembra.
Shah teve que se adaptar constantemente a novos meios e culturas, enfrentar línguas desconhecidas para ele, viajar por desertos e selvas, e dormir em uma tenda, nem sempre perto de sinais de civilização.
Na China, as pessoas sequer compreendiam seus esforços em linguagem de sinais. Na Namíbia, os aldeões caminhavam nus e, em Malauí, correu dominado pelo medo de ser picado pela mosca tsé-tsé, causadora da doença do sono.
Outro grande inconveniente foi a burocracia dos países: o primeiro problema em um país era sempre conseguir um visto para entrar no seguinte, principalmente por ele ser do Nepal, um país pobre, o que gerava muita desconfiança nas autoridades. Mas apenas Angola e Zimbábue lhe negaram entrada.
Quando Shah olha para trás, sente orgulho de suas façanhas: mais de 400 jornais em 38 línguas diferentes e mais de 100 canais de rádio e televisão repercutiram a grande viagem do ciclista.
“Sou uma das pessoas vivas mais sortudas, tendo ido a tantos países e conhecido tanta gente”, diz, diante de uma garrafa de cerveja, outra de suas paixões, levando em conta que tem mais de 1,2 mil tampas de diversas marcas consumidas “on the road”.
No próximo ano, Shah trocará a bicicleta pela escalada que o levará ao teto do mundo. Ele já está treinando para isso.
Outra pessoa já conseguiu realizar façanha semelhante: o japonês Keiichi Iwasaki pedalou por “apenas” 37 países e no começo desse ano conseguiu chegar ao topo do Everest.
Agência EF
Fotos: www.pushkarshah.com