Vamos começar nossa reflexão com um episódio já clássico, e que muitos certamente conhecem: em 1923, durante uma visita a Nova York em busca de patrocínio para sua próxima expedição ao Everest, o montanhista inglês George Mallory, cansado de responder à mesma pergunta repetidas vezes, por que você quer escalar o Everest?, cunhou a expressão mais famosa, e lacônica, da história do montanhismo sobre o que leva alguém a subir uma montanha: porque está lá.
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Acordei com o bip-bip do relógio e, como de costume, a primeira coisa que fiz foi abrir a porta da barraca e dar uma espiadela no céu: a noite estrelada e sem ventos que se apresentou aos meus olhos ainda sonolentos era como o negativo de um dia perfeito, que se revelaria ao nascer do sol em todas as suas cores…
Após um breve descanso comecei a subir. Já passava das 13:00 e o céu estava escuro e ameaçador, mas não havia alternativa, teria que vencer os 650 m de desnível para alcançar o passo e encontrar um lugar para acampar. Eu já havia me abrigado e trocado o boné por um gorro, pois o frio aumentava e começava a ventar mais forte. Com todo o peso que eu carregava teria, no mínimo, umas 4 horas de subida pela frente. O início até que não foi tão difícil, já que a inclinação, que ainda era suportável, era negociada através de zigue-zagues que suavizavam um pouco o percurso. Com aproximadamente duas horas de subida cheguei a uma área mais ou menos plana e com sinais de ser utilizada como acampamento intermediário. Foi quando começou a chover e a nevar, simultaneamente. Era uma neve úmida misturada com uma chuva forte o suficiente para me encharcar. Deu vontade de acampar ali mesmo, mas ainda estava longe do objetivo do dia e o lugar era bem desconfortável. Coloquei a roupa impermeável, respirei fundo e continuei a subir.
Acabo de regressar de minha expedição ao Cerro Marmolejo, uma montanha de 6108 m localizada na fronteira do Chile com a Argentina. O Marmolejo é o seis mil mais austral dos Andes, ou seja, é a última montanha que ultrapassa essa altitude no sul do continente. É carinhosamente apelidada de Muy muy lejos pelos montanhistas , devido à longa e exaustiva aproximação necessária para se chegar à sua base.
Sempre tive o hábito de ler vários livros ao mesmo tempo e, em não raras ocasiões, diálogos surpreendentes se estabelecem entre as leituras que se intercruzam. Foi o que me aconteceu recentemente quando devorava, simultaneamente, duas obras tão díspares como Diez (posibles) razones para la tristeza del pensamiento, do crítico literário e filósofo George Steiner, e o excelente Em busca da alma de meu pai, de Jamling Tenzing Norgay. Enquanto Steiner desfia em seu pequeno ensaio a tradição filosófica ocidental para analisar o modo como pensamos, Jamling, que é filho de Tenzing Norgay, o sherpa companheiro de Edmund Hillary na conquista do Everest, narra sua escalada a essa montanha, enriquecendo a descrição dos acontecimentos da trágica temporada de 1996, tão conhecidos e divulgados em inúmeros outros livros e reportagens, com sua visão de mundo singular, marcada pela cultura sherpa e pelos valores budistas.
Nos Andes meridionais escalar no inverno é bem diferente do que no verão: o clima é muito mais instável e as temperaturas são consideravelmente mais baixas. Nas semanas que antecederam minha viagem para a Argentina acompanhei a previsão do tempo e, nos dias ruins, que eram bastante frequentes, o vento no cume do cerro Plata chegava a 100 km/h, com sensação térmica de -40o C, enquanto que no Aconcagua o vento era de 120 km/h no cume, com a sensação térmica a incríveis -52o C.
Comecei na escalada esportiva nos anos 90, mas, pouco tempo depois, parei de escalar para me dedicar a uma das minhas paixões daquele período, o mountain biking. Naqueles velhos tempos havia uma grande dificuldade para se conseguir bons equipamentos importados e tive que escolher entre comprar uma bicicleta de qualidade ou adquirir meu material de escalada. Acabei optando pela magrela e só retornei à escalada, desta vez com força total, nos anos 2000.
Apenas 10 dias de férias, juntamente ao Carnaval. Proposta: Viajar para a Argentina para subir o Cerro Mercedário, uma montanha ao norte do Aconcagua e que possui 6770 m, sendo a quarta mais alta dos Andes. Teria somente duas semanas para viajar, subir a montanha e regressar, um cronograma bem apertado, considerando-se que esta montanha é do nível do Aconcagua ou do Ojos Del Salado.