Por Hilton Benke
Entre os dias 9 a 14 de abril, o mundo dos esportes de montanha e de voo livre estará com os olhos ligados no Estado brasileiro do Espírito Santo. Uma das competições mais aguardadas do Hike and Fly estará sendo disputada.
Percorrendo grande extensão pelo interior montanhoso do Estado, a prova será disputada partindo da cidade de Pancas, turn points em Baixo Guandú, Itaguaçu, Afonso Cláudio e chegada em Venda Nova do Imigrante, totalizando aproximadamente 230km, que só podem ser percorridos a pé – carregando seu próprio equipamento – ou voando. O Hike and Fly é um dos esportes que mais crescem no mundo.
Uma das organizadoras do evento, Micheli Sossai, explica que na Europa esse esporte está em expansão com um número considerável de competições. E o Brasil vem ganhando ano após ano destaque no cenário mundial.
“Assim, desde a primeira etapa que organizamos, em 2021, percebemos a necessidade de realizar uma prova mais técnica para elevar o nível dos participantes e gerar bons resultados, o que indiretamente irá ajudar na divulgação do esporte, atrair a adesão de novos atletas na modalidade, elevar o comércio de equipamentos específicos e consequentemente levar a expansão geral da modalidade”, completou Micheli.
A primeira edição da Transcapixaba ocorreu em 2023 sendo realizada no noroeste do Espírito Santo, e passou pelas cidades de Ecoporanga, Vila Pavão, Águia Branca e Pancas. Naquela edição, os atletas desbravaram mais de 200 km no percurso por ar e por terra.
Já na edição de 2024, serão aproximadamente 20 atletas que se inscreveram e enfrentarão a nova prova.
Segundo Micheli, “Recebemos 38 inscrições, selecionamos 20 e 18 atletas já confirmaram presença. Teremos nessa competição alguns atletas estrangeiros, o Alex Villa (Colombiano), Ben Hodgson (África do Sul) e o Yuichi Maeno (Japão). Os demais atletas são os brasileiros Bruno Mazzei, Christian Boettcher, Ericson Souza, Felipe Pereira, Gabriel Jansen, John Boettcher, Leandro Montoya, Lucas Porto, Marcos Rodrigo, Mateus Ferraz, Rafael Saladini, Rafael Souto, Raquel Canale, Tamy Suhett e Weigner Luan.
Segundo Sossai, “esse ano o nível técnico dos atletas está muito alto. Pois os que estão voltando para esse ano são os que se desenvolveram melhor ano passado. Além disso, novos atletas estão chegando, alguns que possuem habilidades no acro e outros com ampla experiência em corrida de aventura.”
No ano passado, o vencedor foi o atleta Gabriel “Gabe” Jansen, que vem acumulando vitórias em competições da modalidade. Gabe, inclusive, vem chamando a atenção dos atletas e organizadores internacionais, tendo participado de uma prova em Dubai, onde decolou do alto de um prédio, e sendo convidado a participar do X-Pyr, uma das maiores e mais clássicas competições de Hike and Fly do mundo!
Para a competição de 2024, Gabe, que recentemente foi incorporado ao time da fabricante francesa de parapente Ozone Paragliders, mantém o otimismo. Segundo ele “venho treinando muito e realizando um ciclo de treinos que me deixará preparado para performar bem nessa prova. A geografia do Espírito Santo é composta por muitas montanhas e vales, então preciso estar muito bem para os difíceis deslocamentos nas montanhas, pois acredito que teremos muita altimetria na prova. É uma competição que é preciso estar preparado muito bem fisicamente, voar muito bem e, principalmente, ter uma estratégia que permita aproveitar ao máximo a janela de voo e se deslocar pela máxima distância possível durante os dias.”
Ciclo de Competições no Espírito Santo
Micheli Sossai também nos contou que a previsão da organização é realizar uma competição ainda mais completa pelo Estado. Ela nos conta que em 2022, os atletas Lucas Porto, Chris e John Boettcher, com o apoio dela no resgate, realizaram a travessia completa de norte a sul do Espírito Santo, quase 700 km.
Vendo que era possível transformar essa travessia numa competição de altíssimo nível, decidiram então a dividir inicialmente em 3 partes, sendo a segunda essa de 2024, e finalmente, em 2026, unindo as 3 provas já realizadas, e definitivamente colocando a Transcapixaba como uma das provas mais completas e difíceis do mundo.
O parapente é uma evolução natural do montanhismo
Não é raro encontrar montanhistas que também são voadores de parapente. Criado nas montanhas francesas, os paraquedistas que também praticavam montanhismo, tentaram de alguma forma “saltar” das montanhas alpinas para encurtar as descidas, mas também baratear os saltos de paraquedas.
Na tentativa de construir um paraquedas que planasse mais, facilitando a saída da montanha, surgiu o parapente. Porém, ao longo dos anos, o esporte seguiu vida própria. Vários itens de segurança fizeram o equipamento engordar e ganhar peso, e com isso afastou-se um pouco do voo de montanha. Porém, alguns montanhistas ainda continuaram a praticar o “hike and fly”, como é o caso do piloto e montanhista Gil Francisco Piekarz.
Gil, que por muitos anos manteve na página do UOL uma coluna sobre os esportes, é um dos principais nomes do Brasil nas décadas passadas, tendo decolado de montanhas andinas, como o Illimani e o Huascaran, voos que até hoje encantam e fazem os mais desbravadores aventureiros tremerem as pernas ao pensarem em decolar de tão altas montanhas…
Porém, com o tempo e o avanço da tecnologia, os tecidos ficaram mais leves. E o Hike and Fly voltou a crescer no esporte.
Para o Professor Márcio Lichtnow, da Escola Vento Norte, se tornou comum receber montanhistas que sonham em desfrutar das tão queridas montanhas da serra do mar, vistas sob um ângulo de cima.
“Cada vez mais recebemos montanhistas que querem curtir o parapente com a finalidade de curtir e também
descer as montanhas. Nada melhor que subir ou escalar uma montanha e descer voando. Os adeptos ao esporte têm crescido muito e os montanhistas têm facilidade, pois já estão acostumados com os equipamentos, a montanha e a natureza.”
Reconhecimento pela FAI
O Hike and Fly foi recentemente reconhecido como modalidade esportiva oficial pela FAI – Federação Aeronáutica Internacional, sendo que desde então, aquela organização passou a emitir regulamentos oficiais e ranking internacional, que irá embasar as demais competições espalhadas pelo mundo.
Com isso, a CBVL – Confederação Brasileira de Voo Livre – está criando um ranking nacional para o esporte, que vai garantir maior qualidade para as competições, presença cada vez maior de atletas estrangeiros, bem como maiores possibilidades de inscrições em eventos internacionais para os atletas brasileiros.
O AltaMontanha irá acompanhar essa grande prova, e trará mais informações tanto em seu site, como nos seus canais no Instagram e no Youtube. Não deixe de nos seguir para ficar atualizado!