Cachoeiras gigantes na Serra do Mar e as mudanças climáticas

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O mês de março é conhecido por ser o mês em que caem as últimas chuvas que fecham o verão. Porém há alguns anos o verão insiste em nunca acabar, pelo menos quando se fala em pluviosidade.

Cachoeiras gigantes na Serra um pouco antes das tragédias neste ano

Há muito tempo temos sentido em nossas próprias peles, os efeitos das mudanças do clima. Quando eu era criança, costumava ir à escola, em Itatiba – SP, de calça Jeans e moletom. Quando eu me mudei para Curitiba, que é uma cidade muito mais fria, tive que comprar calças novas, pois as minhas já não eram usadas há tanto tempo que não cabiam mais em mim. Não que eu tenha engordado, mas sim porque eu tinha crescido….

Curitiba continua sendo a capital mais fria do Brasil, mas não é mais como antigamente. Os invernos são cada vez menos frios e mais rápidos e a ilha de calor urbano aquece a vida cotidiana dos curitibanos.

Acredito que por ser montanhista, eu tenho uma percepção maior do estado de tempo, já que conto todos os finais de semana que tive que ficar em casa por causa de uma chuva, ou relembro com sofrimento aqueles dias de caminhada/escalada na serra em que tive enxaqueca de tanto calor, algo que se tem tornado cada vez mais comum. Uma coisa, no entanto é fato até mesmo para aqueles menos atentos. No clima atual ou faz calor ou chuva!

É um reflexo do aumento das temperaturas que provocam as chamadas chuvas de convecção, as famosos chuvas de verão, que não se limitam apenas à esta época do ano. Além deste fenômeno meteorológico, o choque de massas entre as correntes frias que vem do Sul e a massa de ar quente que se forma no centro equatorial do continente, tem sido cada vez mais constante, provocando intermináveis semanas de chuva.

Em Agosto de 2008 começou a chover em Curitiba. Foi um verão antecipado que aconteceu antes mesmo de entrar na primavera. Choveu no Sul inteiro 15 semanas até que no principio de Novembro daquele ano uma grande tragédia atingiu a Serra do Mar em Santa Catarina e devastou o vale do rio Itajaí.

Tragédias como estas se repetiram no Rio de Janeiro, São Luiz do Paraitinga SP, Ubatuba SP, Angra dos Reis RJ, Petrópolis RJ, Teresópolis RJ, Niterói RJ e Nova Friburgo RJ. A repetição destes fenômenos em áreas serranas não é coincidência e evidencia um aumento significativo nas chuvas que está resultando em um novo quadro de evolução da paisagem, num desequilíbrio provocado pelo novo regime climático.

Que regime climático é esse? Bem, de todos os locais que frequentei, de todas as observações que pude realizar e sentir, eu digo que a maior mudança é de fato o aumento da temperatura.

Nos Andes eu pude vivenciar estas mudanças. Estive diversas vezes em montanhas em anos diferentes, porém em época iguais. Vi geleiras desaparecerem e no lugar delas evoluírem os penitentes, que são pequenas torres de gelo que é o estágio final do derretimento de uma massa de gelo.

Penitentes no Sajama.

No Paraná não tem sido diferente, mas o resultado são chuvas. Desde que voltei a morar em Curitiba neste ano, eu pude ver a evolução do fenômeno de cachoeiras gigantes na Serra do Mar.

Estas cachoeiras são formadas pelo acumulo de água no topo da Serra, onde há a existência de superfícies aplainadas que represam a água. Geralmente esta água deixa os rios mais caudalosos, porém, quando chove muito, o topo da serra alaga e pelas vertentes caem estas enormes cachoeiras intermitentes, um fenômeno que era raro, mas que presenciei duas vezes em Fevereiro, um pouco antes da grande tragédia do litoral paranaense há poucas semanas atrás.

Estes fenômenos são naturais e é difícil combatê-lo. A mídia reporta os estragos que eles provocam na infra estrutura e o sofrimento do povo. Apesar de muito menos dramático e importante, o montanhismo também sofre, pois para nós diminui a janela de tempo bom para praticar nossa atividade, ajuda a vegetação a crescer e evoluir (prova disso é a sucessão dos campos de altitude para florestinhas nebulares) sem falar na dificuldade de escalar rotas técnicas nos Andes (pelo degelo) e na Serra do Mar (pelo aumento da umidade).

As mudanças no clima é péssimo para o montanhismo.

Veja mais: Como as Montanhas são afetadas pelo aquecimento global!

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Sobre o autor

Pedro Hauck natural de Itatiba-SP, desde 2007 vive em Curitiba-PR onde se tornou um ilustre conhecido. É formado em Geografia pela Unesp Rio Claro, possui mestrado em Geografia Física pela UFPR. Atualmente é sócio da Loja AltaMontanha, uma das mais conhecidas lojas especializadas em montanhismo no Brasil. É sócio da Soul Outdoor, agência especializada em ascensão em montanhas, trekking e cursos na área de montanhismo. Ele também é guia de montanha profissional e instrutor de escalada pela AGUIPERJ, única associação de guias de escalada profissional do Brasil. Ao longo de mais de 25 anos dedicados ao montanhismo, já escalou mais 140 montanhas com mais de 4 mil metros, destas, mais da metade com 6 mil metros e um 8 mil do Himalaia. Siga ele no Instagram @pehauck

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