O trajeto é simplesmente incrível, sério, já percorri rotas cênicas em alguns lugares do mundo, pode ser que com o tempo vamos esquecendo de tudo que vimos, mas esse trajeto, visualmente, foi o percurso mais lindo que fiz.
É muito vislumbre, a cada subida admiro a próxima descida, desço, e lá embaixo novamente volto a parar para admirar a próxima subida. A estrada é meio que encravada na rocha, pequena, cheia de curvas, algumas vezes ficamos entre pedras de uma grandeza espetacular … e logo vem uma nova curva seguida de uma nova paisagem escandalosa.
E assim fui seguindo, acompanhando as curvas, as subidas, as descidas, o lago General Carrera e as montanhas nevadas que completavam a paisagem encantadora.
Eram 15:30, estava no km 55 e meu pneu traseiro furou. Na hora eu dei uma xingada. Fiquei chateada por Julien não estar por perto e por ter sumido por mais de 3h.
Passo muito trabalho para trocar o pneu sozinha. Sei o que tem que ser feito, mas meu pneu, por ser notubes, é muito difícil de tirar. Segui até encontrar um lugar um pouco mas seguro (longe de uma curva) e comecei a função.
Tive que tirar os
alforges e o marimbondo para conseguir tirar a roda, não tinha um local para apoiar a bike, então o peso da frente desequilibrava tudo. Tirei a roda, apoiei a bike no chão e comecei a função de tirar a câmara, tive que usar 3 espátulas, fazer muita força e me lanhei toda.
Assim que consegui tirar a câmara olhei tudo com calma para ver se encontrava o furo. Estava usando um pneu protection e protetor de câmara. Não encontrei nada. Coloquei a câmara nova, enchi bemmmm os pneus, o que levou um tempo considerável, e recoloquei a roda.
Depois de uma meia hora o serviço estava pronto. Fiquei orgulhosa de mim mesma. Ajeitei tudo de novo na bike e comecei a pedalar. Pedalei alguns metro e?! Pneu no chão novamente. É sério isso? Não conseguia acreditar …
Não tinha mais câmara novas. Tentei encontrar o furo da câmara que havia acabado de trocar e não achei, precisaria de um balde com água para achar o furo e remendá-lo. Aí que raiva …
O que fazer? Pendurei toda minha bagagem que estava na parte traseira no guidão e segui empurrando a bike. Minha ideia era caminhar um pouco deixando os pensamentos fluírem. Enchi o pneu algumas vezes, para ficar mais fácil empurrar.
Já eram quase 17h, tinham bastante nuvens no céu, e eu estava a cerca de 50 km de Chile Chico, sabia que não poderia empurrar a bike (ainda mais naquele estado) até lá.
Vislumbrei algumas opções:
- a) parar e realmente me dedicar ao remendo e troca da câmara;
- b) acampar por ali, fazer tudo com calma e seguir no dia seguinte;
- c) pedir carona até Chile Chico.
Não passavam muitos carros, mas segui caminhando decidida a pedir carona para o próximo carro que passasse.
Passou um carro, de SP, conversei com o casal que estava no carro. Eles claramente ficaram com dó de mim, mas me mostraram a quantidade de ‘tralhas’ que tinham no carro, não havia como encaixar eu, minhas tralhas e minha bike ali. Pedi a eles que avisassem alguém (tipo um policial) na cidade que eu estava ali e que precisava de ajuda.
Segui empurrando a bike por mais um tempo.
Avistei um carro grande vindo, era uma Ducato. Quase me joguei na frente. Junto da Ducato vinha uma Pajero. Pararam. Vi um adesivo no carro com o projeto deles. Sabe de onde estavam vindo? De Florianópolis, minha terrinha. Coincidência?
Na Ducato, estavam Willian e Rose, na Pajero, Odair, Juliana e Felipe. Também estavam atrolhados de coisas, mas claramente ficaram com dó de mim e decidiram me ajudar. Reajustaram suas coisas para poderem encaixar eu e bike, eu na Pajero e a bike na Ducato.
Depois de um bom tempo passamos por Julien, ele estava parado, penso que me procurando no horizonte. Paramos e comentei do ocorrido, avisei que seguiria com eles, foi uma conversa bem breve.No carro segui contando das aventuras da minha trip e eles das deles. Conversa vai conversa vem, descobri que o casal, Ju e Odair eram advogados, correram por um tempo na GO, grupo de corrida da OAB de Floripa, e … conheciam muito bem meu ex-namorado. Sim, esse mundo é muito pequeno. Demos boas risadas disso.
Ju e Odair já haviam passado por aquele caminho e me contaram algumas curiosidades. Paramos num mirante lindo e fizemos uma foto do grupo.
Seguimos no bate papo e soube que o grupo pararia em Perito Moreno (a cidade, não o glaciar) para dormir e no dia seguinte seguiria até El Calafate. Pensei: que oportunidade, poderia ir com eles.
Fiquei num dilema: parar em Chile Chico, tentar encontrar Julien, arrumar minha bike, pedalar mais um dia, ir atrás de um ônibus que nos levasse à El Calafate (600km) … ou deixar o Julien se virar sozinho, tendo a certeza de que ele sabe exatamente o que precisa fazer para chegar à El Calafate e seguir de carona. Pensei, pensei, e decidi seguir de carona com o grupo.
Junto aos novos colegas, passei pela aduana, onde pude finalmente lavar minhas mãos que estavam imundas da troca do pneu, e entrei no Chile.
Antes de encontrarmos um camping para ficarmos passamos todos num mercado grande (fiquei perdidinha). A galera queria se abastecer de comida (e vinhos) para os próximos dias. Assim como eles comprei comida e vinho.
Ficamos no camping municipal da cidade. O camping é grande, todo gramado, limpo, tem banheiro climatizado, cozinha disponível, tudo muito bom e ao custo de cerca de R$2 (isso mesmo dois reais).
No camping montamos nossas barracas, o pessoal da Ducato montou uma estrutura para o grupo.
Cada um fez sua comida, bebemos alguns vinhos todos juntos e quase meia noite nos recolhemos para dormir.
Não deixe de acompanhar o próximo post, onde contarei como terminou essa história.
9 Comentários
Estou me preparando para fazer a Carreteira em 2020, vou aproveitar muitas coisas do seu relato. Foi uma pena não ter conseguido completar como queria.
Parabéns
Oi Altair, independente de não ter completado foi uma experiência incrivel. Louca para voltar. E ai, vai encarar a Carretera em 2020? Em caso de dúvidas me escreva: [email protected]
Abs
Olá Aline parabéns pelo seu desempenho , graças ao seu depoimento já da pra ter uma noção do que eu irei encara caso consiga fazer esta trip .estou me organizando quem sabe será a minha primeira em local com possibilidades de baixas temperaturas . Parabéns.
Ôi, Aline. Em primeiro lugar, congratulações pela viagem maravilhosa, tão bem organizada. Seu relato é brilhante, divertido, com fotos muito boas.
Eu e um amigo estamos saindo de Bariloche em 02 de nov deste ano. E, a princípio, estamos nos baseando fortemente no seu roteiro. nosso planejamento chegou até Cochrane e, depois, temos indicações vagas de como cobrir a distância de 230km até Villa O’Higgins.
Gostaríamos de saber, se não se importa, com pensou fazer este trecho final ente Cochrane e Villa O’Higgins.
Grande abraço e boa sorte na próxima aventura.
Oi Paulo, obrigada pelo carinho. Já estamos conversando por whatsapp e agora sou eu quem estou acompanhando a viagem sua e do Ed. Seguirei ajudando vocês no que estiver ao meu alcance. Abração
Olá Aline.
Primeiramente, parabéns pelo lindo relato!
Eu fiz parte da Carretera entre fins de 2011 e início de 2012. Por motivos físicos da minha companheira de viagem (lesão no joelho) precisamos abortar e fomos até Caleta Tortel de ônibus.
Planejo fazer a viagem novamente no final desse ano.
Fiquei na expectativa de ler sobre a conclusão da tua viagem.
Você postou em algum lugar a conclusão do relato?
Um grande abraço.
Oi Vinicius, este post é basicamente a conclusão do relato.
Se ficar com alguma duvida pode me chamar no instagram: @alineeletrica
Abraços,
Aline
Olá Aline, tudo bem?
Li todo o seu relato e parabenizo pela disposição.
Também tenho a intenção de conhecer a Carretera Austral de bike e imagino que terei um pouco mais de tempo para cobrir o percurso. Neste momento estou em fase de planejamento e relativamente seguro quanto ao trajeto e aos locais a serem visitados. Mas agradeceria se informasse a respeito de alguns pontos:
1. Diferente de você, devo iniciar o pedal em Puerto Montt e não terei problemas para fazer o translado até o aeroporto da cidade, entretanto ainda não decidi o retorno. Posso ter deixado passar, mas não ficou claro a melhor logística para deixar Villa O’Higgins e retornar ao Brasil, uma vez que a cidade não possui aeroporto.
2. Como é a aceitação de cartão de crédito no percurso? Saberia dizer em quais cidades conseguiria trocar a moeda e sacar dinheiro?
Abraços
Oi Annibal,
Que com que gostou do relato e fico feliz em puder ajudar de alguma forma.
Sobre suas dúvidas:
1. eu não cheguei até Villa O’higgins por falta de tempo, desviei o caminho em direção a Chicle Chico e depois Perito Moreno e de lá fui para El Calafate, de onde saia meu voo.
Em Villa O’higgins você tem algumas opções, uma delas é voltar de van ou algum transporte local e fazer um trajeto parecido com o que fiz.
A melhor opção no meu ponto de vista é em Villa O’higgins atravessar e balsa em direção a El Chalten, se tiver tempo curta um pouco lá, é incrivel. De lá fica fácil pegar um ônibus até El Calafate onde saem voos regulares.
2. Praticamente impossível usar cartão de crédito no trajeto, com exceção das cidades maiores onde é possível usar o cartão, sacar dinheiro e fazer cambio.
Se tiver dúvidas me chama no direct do Instagrm: @alineeletrica.
Abs