Cerco de fogo ao Pico Paraná

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A Mata Atlântica na serra do mar do Paraná é um doente terminal destinado a desaparecer sob o olhar da nossa geração.
Fotos: Élcio Douglas


Somente nos últimos vinte anos vi nascerem parques, reservas, leis, guarda-florestal, ONGs, fundações, educação ambiental, publicidade e outras medidas inócuas que de fato muito pouco colaboram com a manutenção da floresta. Alegam que sem isto tudo as coisas seriam bem piores; será mesmo? Toneladas de dinheiro dos nossos impostos são gastas anualmente para manter todo este aparato ineficiente, destinado apenas a retardar o que parece inevitável. Também nestes vinte anos vi o monstrengo da “civilização” avançar incontrolável pelas encostas destas montanhas.
 O método é bem visível e conta com o dinheiro de nossos impostos para operar:

1º) Dinheiro federal ou estadual é usado para abrir uma estrada. A justificativa é sempre inquestionável: integrar uma comunidade isolada, escoar riquezas, transportar o progresso.

2º) As margens são ocupadas por uma legião de miseráveis que vão se infiltrando para o interior, desmatando, queimando, caçando, plantando banana e mandioca. Nada se pode fazer contra estes coitados que não tem onde cair mortos.

3º) Novas comunidades isoladas se formam e as máquinas dos municípios abrem estradas vicinais para integrá-las a civilização, notadamente nas vésperas das eleições. Justificável, afinal são seres humanos carentes e com direito a voto, posto de saúde, boteco e também igreja.

4º) Com a terra já totalmente desfigurada aparece alguém da cidade que compra tudo a preço de banana, coincidentemente um político ou pessoa com grande influência na política que de alguma forma consegue documentar a compra destas posses e torna “produtivas” estas terras.

5º)  Com tudo legalizado, a terra é vendida a alguma grande empresa reflorestadora -Pinus –  ou no melhor negócio do mundo é desapropriada pelo estado para a criação ou ampliação de um parque. Tudo dentro da lei e na defesa do meio-ambiente.

6º) O parque é recém criado no papel e já começa a ser invadido por outra multidão de miseráveis, sem-terra, sem-teto, sem-opções e muitos sem-vergonha mesmo.

7º) O sétimo estágio é fácil de adivinhar, está estampado todos os dias nos noticiários, um circo montado para sugar o dinheiro do contribuinte: ONGs assistencialistas, bolsa família, comunidade solidária.

Não sou partidário de uma teoria conspiratória e nem imagino uma mente diabólica por trás da engrenagem, mas é inegável que o círculo vicioso funciona de forma quase natural.

O crime é um poderoso agente econômico e social; graças a ação do criminoso muita gente honesta sustenta suas famílias. Na linha de frente estão os policiais, advogados, juízes e carcereiros, mas, principalmente, o crime alimenta o medo e com ele a indústria de armas, câmeras de segurança, alarmes, cercas eletrificadas, condomínios fechados, guarda-costas, carros blindados. Constroem-se mais presídios assegurando emprego para engenheiros, pedreiros, serralheiros e tantos outros insuspeitos cidadãos.

E alguém vai alegar que mesmo sem este aparato todo o crime continuaria existindo. Pois é “cumpanheiro”, em nossa sociedade o CRIME COMPENSA. Você ainda tem dúvida?

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Sobre o autor

Julio Cesar Fiori é Arquiteto e Urbanista formado pela PUC-PR em 1982 e pratica montanhismo desde 1980. Autor do livro "Caminhos Coloniais da Serra do Mar", é grande conhecedor das histórias e das montanhas do Paraná.

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