Cheirando a mofo sim, idiota não.

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Nossa falta de heróis nos faz considerar músicos decadentes insatisfeitos com a sociedade contemporânea e de opiniões contraditórias ao seu próprio estilo de vida como super-heróis de colam azul e cueca vermelha por cima das causas.

Em dias que a informação pode ser acessada de um telefone celular aos megas de velocidade, crianças e adolescentes desconhecem a verdadeira face do país ondem vivem.

O índio foi trocado por violentos personagens de olhos puxados e o inconfidente se converteu em um meta-humano que pode voar e criar explosões dignas de Hiroshima e Nagasaki. Lembrando que a chamada fissão nuclear, usada nestas cidades japonesas, onde os pesados núcleos atômicos do urânio ou plutônio são desintegrados em elementos mais leves quando são bombardeados por nêutrons são de efeitos devastadores e irreversíveis, como dar a estes heróis tais poderes e ainda pedir que sejam defensores de nosso humilde planetinha azul?

Antes me assustava quando citava nomes de personagens de nossa historia como referencias a assuntos cotidianos e o olhar de desconhecimento ou de desdenho me fitava. Hoje ignoro tais olhares e me envergonho por eles.

Quantas foram as conversar onde nomes como de Darcy Ribeiro, Henfil, Betinho, Ziraldo e Mozart Catão (sim Mozart Catão) foram citados e fui tratado como uma enciclopédia velha que cheira a mofo e acaro. Talvez eu não cheirasse a naftalina se as escolas e a educação não fossem tão perturbadas com o lixo que vem sendo impregnando pela TV corrupta que só visa o aumento de audiência. É difícil para um professor competir com estas e ainda receber salario de miséria frente tamanha dedicação.

Pergunte a um adolescente quem é Jonas? Ele te respondera que este personagem é o carinha do BBB12. Nunca passara pela cabeça que possamos estar falando do Profeta Jonas, israelita da Tribo de Zebulão, filho de Amitai, natural Gete-Héfer engolido por um grande peixe narrada nas histórias bíblicas.

Quando temas idiotas são impregnados e a informação vem dentro de um biquíni ou uma sunga de banho, ela é mais fácil de ser processada por mentes não estimuladas pelo conhecimento.

Faça um teste, pergunte a uma criança de doze anos quem é Aleijadinho? Ele vai te responder zombando com humor negro adquirido por piadas de mau gosto que aleijadinho e um cara que usa muletas.  Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, foi um importante escultor, entalhador e arquiteto do Brasil colonial. Quando tinha meus doze anos, se não soubesse responder esta questão, seria reprovado na escola.

Ser ignorante é engraçado, ser pobre de espirito é chique. Gostar de bossa nova e coisa de gente rica. Rock é coisa de burguês e livro e coisa de quem não tem o que fazer e pode perder tempo lendo. Esporte Outdoor e coisa de vagabundo e escrever é coisa de quem não tem o que fazer e perde tempo criticando as coisas boas da vida. Coisa, Coisinha ou qualquer coisa, objeto inanimado; em sentido filosófico, estamos usando a “Coisa” como deveríamos?

Sir Edmund Percival Hillary, Tenzing Norgay, Vitor Negrete e José Texeira Guimarães, nomes de pessoas que já se foram e deixaram seu legado. Se pararem de escrever sobre eles ou de pregarem seus feitos eles serão lembrados? Estes foram grandes montanhistas, grandes desbravadores do desconhecido, mas se eles fossem descontinuados pela literatura?

Ontem recebi o convite de Catiane DeMarco para ir ao cinema após o trabalho e assistir Raul Seixas: O início o fim e o meio do diretor Walter Carvalho. Gosto muito de Raul, mas não conseguimos chegar a tempo. Para nossa sorte, nos deparamos com o filme “XINGU”, do diretor Cao Hamburger. A película contempla a história da Marcha para o centro do país e à criação do Parque Nacional do Xingu sob a égide dos Villas-Bôas. Simplesmente fantástico! Fotografia e produção impecável. O filme te prende a historia do inicio ao fim, e deixa tenso quem vivencia a saga destes heróis brasileiros. (http://www.xinguofilme.com.br/)

O filme disputava sala com outros títulos de Hollywood, mas parece que o gosto por explosões, vampiros e mortos vivos supera a bom gosto desta obra. Se em nossa sala o numero de pessoas passasse de vinte expectadores seria bondade minha. Sorte para aqueles que se divertiram com as aventuras dos Villas-Bôas, alguns de entre outros heróis esquecidos nos empoeirados livros da historia da pátria Brasil.

Sim, nós temos heróis, grande heróis, e precisamos mostrar a nossos filhos, netos e sobrinhos que existe vida inteligente em nossas fronteiras e que a televisão não é o display para estes esquecidos valentes que lutaram contra a tirania de governos hipócritas.

Ernesto Rafael Guevara foi só mais um, e nem mesmo é brasileiro, mas todos vestem sua camisa. Chico Mendes e Irmã Dorothy foram assassinados por defender os direitos dos sem terras e indígenas e não estão estampados em camisetas, por quê?

A resposta esta em Cícero; “- Uma casa sem livros é como um corpo sem alma” (Marcus Tullius Cícero, Arpino, 3 de Janeiro de 106 a.C. — Formia, 7 de Dezembro de 43 a.C.).

Força Sempre!
Atila Barros

As portas da 1º Semana Brasileira de Montanhismo, esta que vai comemorar os 100 anos da atividade no país, ainda existem pseudos montanhistas que desconhecem a historia de nossas montanhas e chafurdam lojas e listas atrás de equipamentos e adrenalina para sua “ego-trip”, usemos esta chance para influenciar estas pessoas e mostrar que temos tanta cultura quanto, aventura para oferecer.

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Sobre o autor

Atila Barros nasceu no Rio de Janeiro, e vive em Minas Gerais, cidade que adotou como sua casa. Escalador (Montanhista) há 12 anos, é apaixonado pelo esporte outdoor. Ele mantem o portal Rocha e Gelo (www.montanha.bio.br)

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