Chepeletas também morrem…

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Para aqueles que pensam que “as chepeletas nascem nas paredes”, ficam a saber que as chepeletas (neste caso, os pernes) também MORREM nas paredes. Algumas morrem de morte natural e velhice – aquelas de aço zincado, que se distinguem perfeitamente a olho nu. Aquelas que “descascam” com a ferrugem acumulada e às quais ninguém ousa confiar o corpinho.

Depois, existem aquelas que falecem de morte súbita – as de aço inox, colocadas em ambientes extremamente húmidos. Essas, são mais difíceis de identificar porque à primeira vista têm um ar ainda saudável mas, quando submetidas a uma carga mínima (bastam uns 5 a 10 kg – sim, está bem escrito… quilogramas e não KN!) saltam da rocha, ainda com a porca agarrada à cabeça do perne decepado.

Esta última descrição corresponde exactamente ao que aconteceu na terça-feira passada (dia 10 de Junho de 2014), no Cabo da Roca, no sector Ponta Atlântica, na via “Placa da Primavera”.

A “Placa da Primavera” é uma via fácil (semi) equipada por mim em 1999. Os pernes colocados foram os da marca FIXE, aço inoxidável A2. Naquela altura estávamos longe de adivinhar os efeitos perniciosos, associados ao clima, humidade, salinidade e… aço inox.

Existem muitas vias no Cabo da Roca equipadas com este material (incluindo tops e reuniões!).

Na passada terça-feira, com um simples puxão, arranquei a chepeleta que apresento nas fotografias. Esta é a segunda chepeleta a partir-se desta forma naquela parede. A primeira foi nas mãos do Nuno Pinheiro, exactamente da mesma maneira.

O maior perigo é que não é fácil identificar quais as “bombas relógio”, porque à simples vista o material parece ainda bastante “comestível”, no entanto, creio ter entendido a existência de um padrão:
CABEÇA DO PERNE MUITO NEGRA E PORCA E PLAQUETE AINDA COM BOM ASPECTO.

Se a protecção estiver nestas condições estaremos perante uma ARMADILHA MORTAL EM POTENCIAL – NÃO CONFIEM!

Atenção que isto não é científico, é apenas o resultado de uma simples observação.

Até a coisa ser resolvida (não sei bem como – da minha parte irei desequipar algumas coisas que equipei) o melhor será evitar as vias integralmente equipadas (não são muitas) e tentar reforçar ao máximo com friends e entaladores.

O PERIGO É REAL!
Tentem passar a informação ao máximo e escalem sempre com a consciência clara dos riscos que podem estar a correr a cada momento.

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Sobre o autor

Daniela Teixeira e Paulo Roxo é uma dupla portuguesa que pratica escalada (rocha, gelo e mista) e alpinismo. O que mais gostam? Explorar, abrir vias! A Daniela tem cerca de 10 anos de experiência nestas andanças e o Paulo cerca de 25. A sua melhor aventura juntos foi em 2010, onde na cordilheira de Garhwal (India - Himalaias), abriram uma via nova em estilo alpino puro na face norte da montanha Ekdante (6100m) e escalaram uma montanha virgem que nomearam de Kartik (5115m), também em estilo alpino puro. Daniela foi a primeira e única portuguesa a escalar um 8000 (Cho Oyu). O Paulo é o português com mais vias abertas (mais de 600 vias abertas, entre rocha, gelo e mistas). Daniela é geóloga e Paulo faz trabalhos verticais. Eles compartilham suas experiências do velho mundo e dos Himalaias no AltaMontanha.com desde 2008. Ambos também editam o blog Rocha Podre, Pedra Dura (rppd.blogspot.com.br)

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