Confira o relato do homem que passou duas noites perdido no Araçatuba

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Jorge Antônio Favaro, de 62 anos, passou cerca de 50 horas sozinho na região do Morro do Araçatuba após se perder ao seguir fitas de sinalização de uma prova de corrida. Felizmente, Antônio foi encontrado pelo atleta de trail running Davi Silva e resgatado com o auxilio do Corpo de Bombeiros e do Batalhão de Operações Aéreas da Policia Militar, em 25/03. Ele estava desidratado e ficou internado até parte da noite em um hospital para se hidratar. No momento ele está em casa e se recupera bem.

Antônio com camiseta preta no centro da foto acompanhado dos corredores, amigos e Bombeiros. Foto: CBMPR

A equipe do Portal Alta Montanha conversou com Antônio com o objetivo de trazer algumas informações que possam auxiliar uma vítima que venha se encontrar na mesma situação de risco que Antônio passou, e principalmente precaver tais casos.

Antônio possui um bom preparo físico e contou que foi até a montanha com amigos que iriam treinar corrida, mas decidiu seguir até o cume pela trilha principal sozinho, pois não conseguiria acompanhar os amigos no treino.

“Cheguei ao cume do Araçatuba e quando fui descer peguei outra trilha. Percebi logo no início, mas não me importei, porque achei que era a mesma que meus amigos tinham pego no início, já que era bem próxima. Era bem íngreme e estava marcada com bandeirinhas. Quando cheguei lá em baixo encontrei um rio e uma cerca, e um aviso de “não ultrapasse, propriedade particular”, contou Antônio. “Deveria ter subido de volta a trilha, mas como era muito íngreme resolvi seguir o rio pois sabia que a outra trilha estava próxima”, completou.

No entanto, como não encontrou a trilha, percebeu que estava perdido. A partir desse momento, Antônio começou a tentar se localizar. Primeiramente, ele subiu para um ponto descampado para tentar avistar algo.  Todavia como o tempo estava nublado, não conseguiu ver nada.

O frio e a chuva

Ele possuía apenas uma blusa de moletom e um sanduiche de atum que havia comido no cume do Araçatuba. O celular estava fora de área. Antônio contou que tentou se proteger do frio durante a noite, mas não teve muito sucesso. Ainda assim tentou se manter calmo e disse que não ficou muito nervoso em nenhum momento na montanha.

“Não havia nada o que fazer para se proteger do frio. Procurava um lugar mais firme, como uma rocha, mas não havia como me proteger do vento e da garoa. Passei duas noites tremendo. Essa já é uma forma natural de se aquecer. Mas foi bem difícil. Nunca passei tanto frio em toda a minha vida”, relatou ele.

Enquanto estava ele perdido não encontrou ninguém nem ouviu as equipes que procuravam por ele. “Continuei andando. A única coisa que me dava alguma noção de direção era o barulho da rodovia, então sabia o sentido onde deveria ir. Mas já estava muito longe e a vegetação era alta. Quando achava uma trilha, tentava seguir na direção correta”, revelou.

“Quem me encontrou foi o Davi, um dos atletas que estava participando das buscas. Logo em seguida chegou o Cássio”, contou. Os dois corredores conseguiram avisar a equipe de Bombeiros por meio de apitos e assim o helicóptero acessou a vítima. “A emoção foi grande. Já estava no limite das minhas forças”.

Uma dica

Ao ser perguntado sobre o que ele diria a outras pessoas, Antônio revelou que tem vontade de voltar para a montanha, porém de forma mais preparada e segura. Como dica ele disse: “Primeiramente quem foi fazer trilha nunca deve andar sozinho. Mesmo que pareça bem sinalizada, é fácil sair da trilha e se perder. Depois e importante estar equipado com GPS, lanterna, água, comida, blusa, capa de chuva. E por fim, se sair da trilha tentar voltar pelo mesmo caminho sempre”, declarou.

Ele também agradeceu a todos que estiveram envolvidos o resgate: “Queria agradecer a todos que participaram do resgate, tanto os bombeiros, quanto os atletas de montanha. Imagino que devem ter se esforçado muito. Pude ver a alegria em seus olhos quando me encontraram. E muito bonito esse tipo de preocupação com as pessoas. Agradeço em especial ao Davi, que me   encontrou e a Eva, que não mediu esforços ao me procurar.  Sou eternamente grato a todos eles”, finalizou.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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