Diário da Expedição do Cho Oyo – Campo Base

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Confira o diário da Expedição ao Cho Oyo!

05 e 06 – 09-09

No segundo e terceiro dias de aclimatação no campo base chinês fizemos duas caminhadas longas de aclimatação, a primeira chegando a 5400 metros e a segunda a 5700 metros. Nesta segunda caminhada chegamos a altitude do campo base permanente e eu me senti extremamente forte ganhando altitude sem problemas e não me sentindo exausto na volta. As noites também tem sido excelentes sem dores de cabeça ou insônia, dois sintomas comuns na altitude.

07-09-09

Hoje, além de ter chovido toda a noite,  amanheceu completamente encoberto e chovendo. Desde que saimos de Katmandu o tempo tem gradualmente piorado e após Tingri já não pudemos avistar o Cho Oyu que se encontra constantemente coberto por nuvens negras. Isso não chega a nos preocupar já que ainda levaremos bastante tempo para chegar mais alto na montanha.

Saimos para nossa caminhada diária com uma chuva fina que não chegou a atrapalhar. Resolvemos fazer hoje algo mais leve, apenas 4 horas sem muito ganho de altitude. Seguimos vale acima e ao encontrarmos algumas rochas praticamos escalada em bolders e voltamos para o acampamento. Como amanhã seguiremos para o campo intermediário, 400 metros acima deste, tivemos a tarde livre para organizar nossa bagagem e equipamento e deixa-los prontos para os yaks que vão levar tudo até o campo base. Aproveitamos também para tomar um banho quente, lavar alguma roupa e eu e o Greg, o outro médico, organizarmos nossa mochila de primeiros socorros e medicamentos.

A tarde o tempo melhorou um pouco e tenho esperança de que amanhã possamos caminhar com céu azul, ou pelo menos sem chuva.

08-09-09

Após quatro noites no campo base chinês hoje mudamos de acampamneto para o intermediário a 5300 metros, a mesma altitude do campo base do Everest. Eu, a Andrea e o Marco resolvemos fazer a caminhada rapidamente como um treino e demoramos duas horas e vinte minutos ao invés das 4 esperadas. Mas, não sabíamos dos planos do victor e pouco depois que todos chegaram, nós comemos, nos hidratamos e saimos para mais uma caminhada de aclimatação, a mais dura até agora.

Subimos uma montanha atrás do campo e chegamos a 6-24 metros, ou seja, um ganho vertical de mais de 1100 metros em relação ao campo. Cheguei muito cansado, mas feliz de ter conseguido e fomos brindados com um bonito glaciar e lindas vistas da montanha em frente ao Cho Oyu pela qual estou apaixonado. Ainda não sei o nome, mas suas formas me atraem e me pego estudando uma possível rota e pensando que talvez após o Cho Oyu…

09-09-09

Hoje, após onze dias de caminhada de aproximação e caminhadas de aclimatação finalmente chegamos no nosso campo base, nossa casa por pelo menos 20 dias e talvez bem mais, dependendo da janela de bom tempo que determinará o dia de nossa primeira tentativa de cume.

A caminhada demorou 4 horas, mas para mim pareceu muito mais, pois estava muito cansado pelo esforço do dia de ontem. Logo ao levantarmos tivemos como presente uma maravilhosa visão da Deusa Turquesa, do Cho Oyu, agora muito mais próximo do que da última vez que o vimos em Tingri. Ficamos hipnotizados estudando a rota enquanto o Victor nos contava onde estava o campo dois e o três de onde partiremos para o cume. Visto desta distância as escarpas parecem muito inclinadas e intimidantes e a altura que temos que subir parece quase impossível, mais de 2500 metros verticais de gelo e neve.

Chegamos ao campo base e mais trabalho nos esperava para montar o campo. Eu e a Andrea escolhemos uma pequena plataforma que não era suficiente para nossa barraca e por uma hora cavamos e tiramos pedras do chão duro para finalmente termos um espaço como queríamos. Afinal estaremos aqui por muito tempo.

Manoel Morgado é médico e guia de montanha com mais dezoito anos
de experiência guiando grupos de brasileiros em viagens de trekking e
escalada em vários países do mundo. Se quiser saber mais sobre as
expedições organizadas e guiadas por Manoel Morgado visite o site www.manoelmorgado.com.br
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Sobre o autor

Manoel Morgado é médico de formação, mas trabalha como guia de montanha há 20 anos, atuando em vários países ao redor do mundo. Há 15 anos é montanhista, tendo como ápice de sua carreira a conquista do Everest e também a realização do projeto 7 cumes. Ele nasceu no Rio Grande do Sul, se criou em São Paulo e dede 1989 não tem casa.

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