Escalada em São Luis do Purunã – PR.

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O arenito de São Luis do Purunã concentra centenas de vias de alta qualidade em cinco setores. Além das vias super esportivas, ainda há uma grande concentração de vias em móvel fazendo de São Luis um campo escola de escalada avançado com muitas possibilidades. Infelizmente, mesmo com tanta importância para a escalada de Curitiba, o local sofre com vários problemas.


Quem sai de Curitiba em direção à Ponta Grossa, logo depois de passar por Campo Largo, vai sentir uma grande quebra no relevo, é a famosa escarpa do primeiro para o segundo planalto paranaense (Quem não se lembra das aulas de Geografia do Colégio?).

Diferente da Serra do Mar onde predominam Granitos e Gnaiss, nesta escarpa, afloram arenitos, de uma formação geológica mais recente, mas também não tão jovem! É a formação sedimentar mais antiga da Bacia do Paraná, a formação Furnas.

Quem observa os arenitos do Purunã vai perceber que ele parece um cimento. Há lugares onde ele tem uma granulação bem fina, onde as camadas se entrecruzam. Outros lugares têm arenitos mais grosseiros com areias grossas e até seixos. Estas características contam a história de deposição desta formação sedimentar, que foi em um ambiente litorâneo, onde os ventos transportavam a areia mais fina, formando dunas (daí a estratificação entrecruzada). Os rios, que chegavam ao mar com mais energia, depositavam os seixos. Tudo isso há mais ou menos 400 milhões de anos, durante o Devoniano, numa época em que não existiam florestas e nem mesmo animais terrestres…

Isso não quer dizer que o relevo continuou daquela maneira. Lá, na época da deposição do arenito, foi praia, hoje é uma montanha. Para quem tiver a curiosidade e quiser entender como isso foi acontecer, tenho artigo interessante em meu site que explica a evolução deste relevo (clique aqui para ver). Mas vamos voltar à escalada…

O resultado da evolução desta escarpa foi, para nós montanhistas, um lugar perfeito para a prática da escalada esportiva. Com paredões que orçam entre 50 e até 80 metros de altura, poucos positivos, muitos de 90° de inclinação e a maioria negativos com muito teto.

Há agarras de todos os tipos. Regletes em saliências, regletes embaixo de tetos, buracos grandes até monodedos, abaulados grandes, pequenos e de aderência, com ou sem esfarelamento, concreções… Há de tudo!

Com esta maravilha, concentram-se vias aos montes, uma ao lado da outra. Por isso há infinidades de vias que dificilmente vai deixar alguém enjoado, há muito que se fazer… Há muito para se evoluir escalando em São Luis do Purunã.

Somente com um lugar com uma história fisiográfica tão peculiar é possível ter vias como a Jumping Jack Flash(7a), com um teto enorme, lindo e fácil… Pois há muitos agarrões. O mesmo com outras vias, como a Sangue (6sup), ou a Por via das dúvidas(7b). Há também vias com agarrinhas, como a Ilusão de ótica, um 7b em que é preciso parar com a mão esquerda num abaolado, subir os pés em outros dois e lançar um dinâmico num bi-dedo… Não é masoquismo, é escalada esportiva…

É difícil falar de todas as vias lindas, são muitas! Então vamos falar de estilos. O Purunã é o lugar ideal para quem quer sair de um sétimo grau e ir para as escaladas esportivas mais difíceis. Lá estão as vias mais fortes do Paraná, como a Longa Metragem, um 10c. No setor Curucaca há outros décimos, muitos nonos e oitavos… É a Serra do Cipó do sul!

Para quem gosta de escalada tradicional, o Purunã também é um paraíso. No setor 3 há mais de 130 vias em móvel de todos os níveis. Há desde oitavo em móvel, até quarto e muito artificial. Uma das vias mais lindas do local é a Diedro de Isys, um 6 sup bem forte que segue uma fenda negativa que tem inclusive um teto! Tudo isso sem um grampinho fixo… Só as paradas.

Quem escala no setor 3 pode escalar em qualquer lugar que vai estar com a mente e a técnica preparada para equipar e guiar uma fenda, ou montanha sem ascensões. Dizem que este é o segredo do Edmilson Padilha e do Val Machado, acho que faz todo sentido.

Escalar em São Luis tem muitas vantagens. Uma delas é estar quase sempre na sombra da Florestinha sub-tropical no pé de serra. Quando o verão começa a fritar o cérebro dos anhangavistas, é hora de ir para o Purunã para não sofrer com o calor. Fora isso, os tetos protegem as vias das chuvas e até no alto verão é possível escalar sem encontrar muitos “babados” de água na parede.

Mesmo com tantas vantagens de poder escalar num lugar de grande beleza e qualidade, São Luis do Purunã enfrenta hoje muitos problemas, sendo que o principal é a violência.

Começou há uns cinco anos atrás. Os escaladores iam para o setor 1 e deixavam o carro na propriedade que dá acesso às paredes. Os carros começaram a ser arrombados…

Os bandidinhos, de ladrões de toca-fitas, evoluíram para uma quadrilha, que têm o setor 1 como lugar de desmanche e desova de veículos. No ano passado, numa noite em que eu pernoitei embaixo da escarpa, os bandidos levaram um carro e o incendiaram. Fiquei imaginando o que teria acontecido se eu estivesse passando por lá na hora…

O outro problema é a proibição. Os setores 2 e 3 ficam dentro de uma fazenda que depois de ter perdido umas cabeças de gado por causa de um escalador atrapalhado, que não fechou a porteira, o proprietário resolveu não permitir mais ninguém lá dentro.

O resultado é que estes dois setores estão meio abandonados, sendo somente freqüentado por quem ignora a placa de aviso que é proibido cruzar a fazenda… Com a porteira fechada, fica mais longe escalar nestes setores, já que para chegar até eles é preciso dar uma pernadinha maior. Como no Purunã não tem Refúgio como no Anhangava e as escaladas são feitas em “bate e volta”, muita gente não vai pra lá.

Eu sonho com um dia em que São Luis tiver um Refúgio como o 5.13 no Anhangava, Pantâno e Velho em Andradas, Montanhismus em São Bento ou até mesmo um sítio do Rod, como na Lapinha. Isso ia deixar muito mais acessível o lugar, sem falar que seguro. Se isso acontecesse, treinar escalada em móvel ia se tornar ainda mais fácil e com certeza aqui no Paraná teríamos mais escaladores de ponta. Não faltam motivos para se investir no Purunã, quem sabe este meu sonho se torne uma realidade nos próximos anos. Tomare que sim!

Links:

Setor 1 (desatualizado!):
http://www.montanhistasdecristo.com.br/croquis/sluis_1.htm
http://www.montanhistasdecristo.com.br/croquis/sluis_1-malango.htm

Setor 2 (desatualizado!):
http://www.montanhistasdecristo.com.br/croquis/sluis_2.htm

Setor 3:
http://www.conquistamontanhismo.com.br/aventure_se/montanhas.php?id_not=81

Setor 4 (canyon da faxina, também desatualizado!):
http://www.montanhistasdecristo.com.br/croquis/sluis_4.htm

Setor 5 Curucaca:
http://www.conquistamontanhismo.com.br/aventure_se/montanhas.php?id_not=86

Pedro Hauck, colunista do Altamontanha.com é também dono e editor do site Gentedemontanha e tem apoio de Botas Nômade.

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Sobre o autor

Pedro Hauck natural de Itatiba-SP, desde 2007 vive em Curitiba-PR onde se tornou um ilustre conhecido. É formado em Geografia pela Unesp Rio Claro, possui mestrado em Geografia Física pela UFPR. Atualmente é sócio da Loja AltaMontanha, uma das mais conhecidas lojas especializadas em montanhismo no Brasil. É sócio da Soul Outdoor, agência especializada em ascensão em montanhas, trekking e cursos na área de montanhismo. Ele também é guia de montanha profissional e instrutor de escalada pela AGUIPERJ, única associação de guias de escalada profissional do Brasil. Ao longo de mais de 25 anos dedicados ao montanhismo, já escalou mais 140 montanhas com mais de 4 mil metros, destas, mais da metade com 6 mil metros e um 8 mil do Himalaia. Siga ele no Instagram @pehauck

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