Escalada na aresta oeste do Morro dos Cabritos

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Via Mario Arnaud tem 450 metros de extensão e leva ao cume da montanha, no Vale dos Frades


Cachoeiras, vales verdíssimos, grandes propriedades rurais, nascentes e muitas montanhas. Assim é o Vale dos Frades, que tem início no quilômetro 21 da Teresópolis-Friburgo e termina na região de Salinas, dentro da grande área do Parque Estadual dos Três Picos. E é lá que está localizada uma imponente e pouquíssimo visitada montanha, o Morro dos Cabritos e seus mais de 1.800 metros de altitude. Nela, existe uma via de 950 metros conquistada pelo teresopolitano Daniel Guimarães e pelo carioca Antonio Paulo Faria, a “O Céu é o Limite”. Mas foi através de outra, a Mario Arnaud – mais antiga e com nível técnico mais baixo – que cheguei mais uma vez ao cume daquela formação rochosa que se destaca entre os conhecidos Picos, Capacete e Caixa de Fósforos.

Recentemente, fiz essa bonita escalada pela quinta vez, agora acompanhado do amigo Daniel Magalhães, do CET. Seguindo pela estrada de terra, já bem acima da famosa Cachoeira dos Frades, deixamos o carro ao lado de um curral, de onde se avista o Cabritos no lado direito. Uma subida de aproximadamente 30 minutos entre pasto e vegetação baixa e chegamos à base da parede.

Quer dizer, o início da via de 450 metros é dividido por trechos de escalada relativamente fácil e caminhada entre rampas rochosas e mato. Já bem alto, a Mário Arnaud (graduação 5º VI A0 E1) começa “de verdade”. Uma aderência (escalada sobre pedra lisa ou quase, sem agarras, usando apenas o atrito entre o solado da sapatilha e as palmas das mãos do escalador apoiados sobre a pedra) e várias pequenas plantas, os liquens, que fazem o trajeto ficar ainda mais escorregadio. A segunda enfiada (esticão de corda) já é na variante (traçado fora da via original) do Diedro Sena, conquistado por José Alberto “Zé Mulher” depois que um raio fez descer uma grande laca de pedra.

Nesse lance, só existem dois grampos e o restante de proteção deve ser feito em material móvel, que é enfiado na fenda e retirado pelo escalador que sobe por último. Depois do Diedro, mais aderência e regletes (pequenas agarras) até chegarmos a uma pequena floresta e a parte mais “chata” da escalada, o artificial. Conhecido no meio como A0, a pessoa não sobe escalando a rocha e sim a de maneira artificial, como o próprio nome diz, sendo nesse casos dos grampos batidos de metro a metro. Neles é fixado o estribo, uma espécie de escada. Esse tipo de escalada é feito em locais onde não há possibilidade de usar a rocha – parede sem agarras e com alta verticalidade/negativa, por exemplo.

Graduação alta e cume!

A última enfiada da Mario Arnaud marca bem o estilo da escalada naquela parede, que vai ficando mais difícil conforme subimos. Para chegar ao cume, um lance de sexto grau em aderência, onde a parede fica praticamente lisa e a passada deve ser curta, rápida e precisa. Depois, mais um lance em regletes e pronto… Uma caminhada de três minutos e  chegamos aos 1.810 metros de altitude!!!

Ufa!!! Hora de comemorar e descansar das mais de quatro horas de subida e contemplar toda a beleza da região entre Teresópolis e Nova Friburgo. Do “nosso” lado, os pastos verdíssimos que mais parecem tapetes, rios, cachoeiras e montanhas como as Torres de Bonsucesso, Dois Bicos, Anta Maior e Seio da Mulher de Pedra. Entre os dois municípios, a pequena Caixa de Fósforos e os imponentes Capacete e Três Picos, sem esquecer a Cabeça de Dragão… Enfim, aquela é uma área onde Deus caprichou…. É lugar para ficar horas “viajando”, para levar o pensamento longe apenas com o barulho do vento… “E é legal que também dá para ver, lá no fundo, o Dedo de Deus e outras formações da Serra dos Órgãos”, lembra Daniel.

Agora, o inacreditável é que mesmo se tratando de um lugar mágico, poucas pessoas o visitam. Talvez pelo acesso, talvez pela escalada longa, não sei. O livro de cume, que dessa vez estava molhado, mostra que a frequência naquele local é baixa.

Essa escalada na aresta oeste da rocha, graduada em 5º VI A E1, foi conquistada por Mario Luiz Rodrigues Arnaud (que deu nome a via) e Oswaldo Pereira, que contaram com a ajuda de outros escaladores, não relacionados, assim como o ano da conquista, no site da Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio.

Existem outras vias nessa montanha, mais longas e técnicas, exigindo do escalador um pouco mais de preparo. Entre elas estão a citada no começo da matéria, a “Face Norte”, conquistada por André Ilha, e “Lamúrias de um Rabugento”, de Mazinho, Zé Mulher e outros integrantes, e a recém conquistada “Carpinteiros do Universo”. No último sábado encontramos por lá Mazinho, Marcio Preá e João Batista. Para mais informações de como se chegar e escalar no local, visite as reuniões sociais do Centro Excursionista Teresopolitano todas as sextas-feiras, a partir das 20h, na loja da Sociedade Pró-Lactário, número 555 da Avenida Lúcio Meira, ao lado da ponte.

O e-mail da coluna é o [email protected]

Marcello Medeiros é vice-presidente do Centro Excursionista Teresopolitano e, semanalmente, assina a coluna “Mochileiro”, no jornal O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS

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Sobre o autor

Marcello Medeiros é Biólogo e Jornalista, escrevendo sobre montanhismo e escalada desde 2003. Praticante de montanhismo desde 1998, foi Presidente do Centro Excursionista Teresopolitano (CET) entre 2007 e 2013.

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