Escalador morto no Cerro Torre ficará na montanha

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As equipes de busca não conseguiram alcançar o corpo do escalador italiano Kora Pesce, que faleceu em janeiro no Cerro Torre. Agora as condições de tempo começaram a piorar e não há expectativa de tempo bom para os próximos 15 dias. Além disso, o corpo do escalador não está mais onde foi visto pela última vez. Assim, as equipes de resgate decidiram suspender as buscas e o corpo permanecerá na montanha.

Pesce durante a escalada do Cerro Torre. Foto: Tomás Aguiló.

Pesce foi atingido por uma avalanche enquanto estava descendo o Cerro Torre em 29/01. Ele ficou muito ferido e não conseguiu descer por seus próprios meios. Seu parceiro de escalada argentino, Tomás Aguiló, o acomodou em um local mais protegido, no meio da parede, e desceu sozinho para buscar ajuda. No entanto, devido às condições climáticas não foi possível chegar até ele e salvá-lo.

No dia 31/01, a médica argentina e chefe do Centro de Resgate El Chaltén, Carolina Codó, declarou que Pesce não poderia ter sobrevivido as baixas temperatura após analisar imagens de drone do corpo do escalador, que estava a cerca de 30 metros da Box de Los Ingleses, local onde Aguiló havia o deixado.

Ainda assim, as busca continuaram para recuperar o corpo. No dia 04/02, ultimo dia de tempo bom, foram feitos alguns sobrevoos de helicóptero para identificar o corpo de Pesce, no entanto ele não foi mais encontrado no local onde estava antes. De acordo com as equipes de resgate, foram avistados equipamentos como cordas, embalagens de comida e a mochila dele, mas sem sinais de Pesce.

A irmã de Pesce está ciente das dificuldade e declarou que  “é muito perigoso, Korra não voltará para casa”. Todavia, uma campanha de arrecadação online foi criada para ajudar a filha de Pesce, Leila de 13 anos.

A via de Pesce

Antes do acidente, Pesce e Aguiló conseguiram abrir uma nova rota entre a face leste e norte dessa emblemática montanha. A via possui cerca de 1200 metros de altura e Aguiló sugeriu a graduação de 7a (francês) com A2. Ele batizou a via com o nome de La Norte e escreveu uma declaração para seu amigo, enquanto se recupera dos ferimentos;

Desenho da via aberta pelos dois escaladores – Foto: Rolo Garibotti @patagoniavertical.

“Ainda é difícil para eu escrever sobre nossa bela escalada, sobre toda a história por trás dela… Eu quero me guardar e me esconder… mas Korra estava feliz por termos alcançado nosso sonho e gostaria que compartilhássemos nossa façanha .

Depois de muitos anos tentando, com diversos amigos como Nico Benedetti e Jorge Ackermann, abrimos uma nova rota na face norte do Cerro Torre, uma montanha que, além de ser uma das mais belas do mundo, guarda capítulos em sua história que são consistentes com a sua grandeza.

Quando estávamos no cume com Korra, perguntei a ele como iríamos chamá-lo e ele disse: “E como vai ser chamado? O Norte!”. Então aqui apresento a vocês La Norte (1200 m, 90º, 7a, A2).

Korra querido, você está lá todos os dias, à noite eu sonho com você, nós te amamos muito e obrigado por me dar forças para descer. Eternamente grato. Obrigado novamente à Comissão de Socorro, ao Posto de Saúde, ao Exército Argentino e todos aqueles que colaboraram no resgate”, compartilhou em suas redes socais.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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