Escaladora iraniana desaparece após competir sem véu na Coréia do Sul (atualizado)

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O mundo tem acompanhado nos noticiários os protestos de mulheres iranianas que decidiram se rebelar contra as rígidas leis de conduta do país. No último final de semana a escaladora iraniana, Elnaz Rekabi, competiu sem o véu na Coreia do Sul. Ela conquistou a medalha de bronze, no entanto esta desaparecida desde então.

A escaladora iraniana competindo com os cabelos soltos na Coreia do Sul.

O estopim dos protestos das mulheres iranianas foi a morte da jovem Mahsa Amini após ser presa pela polícia da Moralidade no Teerã. A jovem foi acusada de usar o Hijab (véu para cobrir a cabeça e os ombros) de forma inapropriada. Sua morte não teve explicações convincentes e desencadeou a revolta feminina e uma série de manifestações.  Desde então, centenas de casos de repressão violenta contra as mulheres foram registradas. De acordo com o grupo Iran Human Rights, 122 pessoas foram mortas durante a repressão as manifestações.

No ultimo final de semana, a escaladora iraniana, Elnaz Rekabi, participou do Campeonato Asiático de Escalada na Coreia do Sul. Durante as qualificatórias, a atleta usou o Hijab. No entanto, na prova final ela competiu sem o véu, com os cabelos soltos e a bandeira do Irã no peito. Essa decisão foi vista como apoio aos protestos e desde então ninguém conseguiu contatar a escaladora.

As mulheres iranianas são obrigadas a usar o Hijab mesmo em competições fora do Irã. Segundo a BBC, o passaporte e o telefone da atleta foram apreendidos. No entanto, o governo iraniano nega que ela tenha sido presa e forçada a retornar para o Irã.

Já o site Iran Wire, afirma que Elnaz foi levada à embaixada iraniana em Seul para garantir que ela não iria sofrer represarias. Todavia, até o momento ninguém sabe onde ela está. 

Atualização

A atleta publicou uma mensagem de texto em seu Instagram através de um storie dizendo que o seu véu caiu acidentalmente durante as finais e que ela pede desculpas pela preocupação que isso causou. Ela também relata que está retornando para o Irã conforme o calendário previa. Na mesma página da rede social, a atleta exibe inúmeras fotos e vídeos escalando sem o Hijab. E desde de seu desaparecimento, centenas de comentários em suas fotos apoiam a ação dela ter escalado sem o véu e a agradecem por representar a causa das mulheres, enquanto outros inúmeros comentários a condenam.

“Caros e nobres compatriotas do Irã, com uma história de vinte anos como membro da equipe de montanhismo peço desculpas pelas preocupações que causei. Devo anunciar que de acordo com as sensibilidades durante as finais do Campeonato realizado na Coreia do Sul devido ao tempo inadequado e a chamada imprevisível para escalar, meu hijabe, involuntariamente, se tornou problemático. Atualmente, estou voltando para o Irã ao lado da equipe com base no cronograma pré-agendado”, disse na mensagem.

Declaração da Federação Internacional de Escalada Esportiva

A Federação Internacional de Escalada Esportiva afirma que está acompanhando o caso e que recebeu informações de que ela está voltando para Irã junto com os demais integrantes da equipe iraniana de escalada.

“A Federação Internacional de Escalada Esportiva (IFSC) está ciente das notícias sobre o atleta iraniano Elnaz Rekabi. Há muita informação na esfera pública sobre a Sra. Rekabi e, como organização, temos tentado apurar os fatos. Também estivemos em contato com a Sra. Rekabi e a Federação Iraniana de Escalada. Nosso entendimento é que ela está retornando ao Irã e continuaremos monitorando a situação à medida que ela se desenvolve em sua chegada. É importante ressaltar que a segurança dos atletas é primordial para nós e apoiamos todos os esforços para manter um membro valioso de nossa comunidade seguro nesta situação. O IFSC apoia totalmente os direitos dos atletas, suas escolhas e a expressão da liberdade de expressão”. diz a declaração oficial da IFSC.

Foram realizadas ligações para os treinadores da equipe, no entanto eles não foram atendidos. E o governo Coreano afirma que não pode informar se uma pessoa deixou ou não o país.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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