Escalando em Yosemite

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Despois de muitos anos treinando e me preparando foi a convite do meu amigo Matt que chegamos até o Vale Yosemite para provarmos nossa capacidade como escaladores. Temos treinado juntos há mais de cinco anos para enfrentarmos essa viagem. No começo, Matt me carregava com ele em suas aventuras e eu levava tudo meio na brincadeira, mas acabei me empolgando e, hoje, o esporte é coisa séria para mim.

O Parque está localizado na Serra Nevada, estado da Califórnia, e é conhecido pelos desfiladeiros, cascatas, sequoias gigantes e, especialmente, por suas rochas esculpidas pela erosão ao longo de milhões de anos. São 3.081 km² de pura beleza e perigos esculpidos pela natureza. Cerca de três milhões de pessoas passam por lá a cada ano e a grande maioria, como eu, dá maior atenção ao vale do Yosemite. Não por acaso nomeado pela Unesco Patrimônio Mundial da Humanidade.

No dia 24 de maio, uma sexta-feira, estava no aeroporto de Guarulhos embaracando no voo das 23h com destino ao aeroporto internacional de São Francisco, com previsão de chegada para 12:00 do dia 27. Foram 18 horas de viagem de avião, pois ainda tivemos que fazer uma conexão no aeroporto da Cidade do México. O voo pareceu uma eternidade!

Chegando em São Francisco –  Destruida pela viagem –  encontrei com o meu amigo Matthew que foi me buscar no aeroporto e de lá partimos para casa de um terceiro amigo nosso, o Jeffrey. Descansamos sábado todo até domingo (26/05) que decidimos botar o pé na estrada lá pelas 5:00 da manhã. Matt já tinha alugado um carro em São Francisco dois dias antes da minha chegada.

Dirigirmos por 3 horas até o parque. As paisagens eram sensacionais e eu, que tinha ido ao Estados Unidos apenas uma vez na vida, fiquei de boca aberta o caminho todo.

Pensei em desistir da escalada uma dezena de vezes antes de viajar. Ainda mais porque já tinha me machucado três anos antes escalando o Morro do Maluf no Guarujá. Em termos de dificuldade não chega nem aos pés da dificuldade em Yosemite, mas mesmo assim consegui romper o ligamento do tornozelo esquerdo. Fiquei sem cobertura do meu plano de saúde e foi super traumático.

Por isso tudo estava muito tensa. Em um país distante de casa correndo riscos ainda maiores. Mesmo estando ao lado de um dos meus melhores amigos e tendo me preparado bastante para tal. Ainda mais que descobri que não teria cobertura para determinados tipos de acidentes pesquisando em um site de seguro de viagem (nesse link dá pra entender as coberturas de acidentes diversos e o que cada país exige). E sabia que poderia precisar desembolsar muito dinheiro se tivesse algum imprevisto.

E, de fato, em Yosemite testamos nossos limites, muitas vezes o ultrapassamos. Mas felizmente correu tudo mais ou  menos dentro do previsto e todo o esforço e desafio era recompensado pelo visual com as pedras de granito inacreditáveis, fendas de todos os tamanhos, paredões gigantes e por toda a serotonina que a atividade nos fez produzir.

Ao chegarmos em Yosemite, nossa primeira rota de escalada foi a chamada triple direct no enorme penhasco El Capitan. Fizemos uma jornada em três momentos, com diferentes graus de dificuldades. Escalamos o primeiro terço do grande muro Salathé, a metade de Muir Wall e, finalmente, o paredão conhecido como The Nose.

Para chegar ao topo dos quase 925 metros da inacreditável muralha de granito gastamos seis dias e, assim que terminamos, ficamos muito orgulhosos. Nos achamos as últimas bolachas do pacote, mesmo, e apostamos entre nós que na aventura seguinte, em Regular Northwest Face of Halfdome teríamos que gastar cerca de 16 horas.

O destino nos pregou uma bela peça: não fomos tão rápidos quanto esperávamos. Mesmo escalando sem paradas, chegamos ao cume depois de 26 horas diretas de subida. E foi ali que recuperamos toda a nossa humildade.

Após o Halfdome, escalamos uma rota artificial em Leaning Tower, demorando dois dias em incríveis rochas negativas.

Muita gente questiona por que gostamos tanto de montanhismo, já que passamos por uma série de privações e nos metemos em situações, às vezes, muito arriscadas. Mas só quem ama muito o esporte entende o quanto vale a pena a adrenalina, as paisagens inacreditáveis e emoções extremas que compartilhamos esses dias na região da Serra Nevada. Concluindo este relato: se queremos voltar a Yosemite? Com absoluta certeza.
 

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