Face Norte do Camapuam

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Enfim, livre da maldição que me acompanhou por quase dez meses, que me impedia de fazer as montanhas que eu quisesse, na data que eu quisesse por conta de atitudes egoístas, me atirei à Serra do Mar.


Meus companheiros foram os sempre fiéis e dispostos Otaviano e Carol. A trupe foi acrescida desta feita pelo Júlio, irmão da Carol. Durante a semana fizemos planos de encarar o Cerro Verde, belíssima montanha situada nas entranhas da formação do Ibitiraquire. O que muito nos motivava era poder encarar pela noite a confusa trilha que une esta montanha ao Tucum, por onde passaríamos anteriormente. Seria um belo teste às nossas pretensões andinas.

Partimos no sábado após minha jornada na Território Centro. As tradicionais delongas no processo de aproximação das montanhas nos levaram a iniciar a caminhada ainda mais tarde do que o planejado: quatro e quinze da tarde. Após apenas meia hora de caminhada começaram os chuviscos, que em breve tornaram-se uma chuva torrencial de longos cinco minutos de duração. Já era noite quando chegamos à bifurcação Camapuam – Ciririca, resistindo à louca tentação de partir rumo à distante montanha de sugestivo nome.

A chuva foi um sinal, nosso destino seria na opção à esquerda da dita bifurcação. Iniciamos a subida na mata úmida e em pouco tempo atingimos os primeiros campos da rampa do Camapuam.

Que belíssima visão! Raios para todo o quadrante leste e nordeste… Certos de termos feito a opção correta subimos em ritmo bem tranqüilo. Uma rápida paradinha no cume do Camapuam, mais uma outra para coletar água no colo que o separa do Tucum e em menos de três horas e meia de caminhada desde a fazenda atingimos os 1729 metros de altitude do cume do Tucum.

A noite intercalava momentos de chuviscos com brechas no céu que nos permitiam ver as estrelas. Montamos as barracas, preparamos o jantar (ridículo se comparado às peripécias gastronômicas do tempo da maldição) e nos recolhemos… Eu e novamente minha barraquinha de um quilo, a Kailash Solo.

Dormi muito bem, nem vi o dia clarear. Levantamo-nos todos por volta das nove da manhã e ficamos nos enrolando, na maior preguiça. Deixamos o cume, retornando por volta do meio-dia, sob sol e vento. Um lindo e ameno dia de inverno. No colo onde tem a água veio a idéia de contornar o Camapuam pela sua face norte, pelos campos (teoricamente) e sair no cume do Camacuam, pouquíssimo visitado. Haviam relatos que alguém havia feito recentemente este trajeto e resolvemos ver se achávamos algum rastro.

Caminhada dos infernos!!! Campos, o cacete!!! Um matagal medonho, com aderências em rocha super expostas e uns bambuzinhos que nos rasgavam todo o corpo. E ainda não tínhamos certeza do que haveria do lado de lá, na face oeste, para que pudéssemos contornar o Camapuam e chegar no seu vizinho Camacuam. Chegamos a um paredão que corta o lado norte do sensual Camapuam e conseguimos passar pelo ponto que havíamos vislumbrado desde o Tucum. Só para, após passá-lo, constatar a insanidade do feito.

Caminho praticamente impossível de prosseguir, com mais aderências expostas e mato que rasga o peito. Voltar pelo mesmo caminho seria terrível. Então resolvemos encarar uma escalaminhadazinha até o cume do Camapuam e retornar à trilha original, de onde não deveríamos ter saído. Essa subida foi mais rápida do que pensei, mas deu uma certa canseira. Valeu pelo visual, diferenciado, e pela sensação de estar em um lugar onde poucos andaram, por medo de fugir de caminhos conhecidos, por medo se aventurar um pouco. O famoso risco calculado. Digno de nota é o trabalho de um pessoal que andou mandando abaixo várias árvores de Pinus, evitando assim a proliferação desta praga que ameaça tomar conta das encostas ibitiraquirenses.

A descida foi tranqüila, e chegamos em pouco tempo à Fazenda da Bolinha, contando os espinhos nas mão e rindo da bobagem que é usar montanhas como estádios e não como templos…

Um forte abraço!

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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